Coincidência ou não, o chá servido nesta terça-feira no Palácio do Planalto foi de camomila, erva famosa pelas propriedades calmantes. Na véspera do julgamento final da presidente afastada Dilma Rousseff (PT), a sede do Poder Executivo, em Brasília, está em compasso de espera, aguardando o desfecho da votação do processo de afastamento pelo Senado.
Apesar de o tom ser de cautela, o presidente interino, Michel Temer, rascunha o discurso da posse e ensaia minirreforma ministerial.
Temer deve discursar antes de embarcar para China, embora haja também a possibilidade, mais remota, de ele adiar o pronunciamento para a comemoração do Sete de Setembro.
A expectativa é de que, no discurso de posse, que deve ocorrer no meio da tarde, ele reforce a mudança de governo interino para um governo definitivo e destaque a legitimidade desse processo. Temer também deve sinalizar para a sociedade e o empresariado os rumos de seu mandato.
O governo também estuda mudanças nos ministérios, a depender do resultado das votações no Senado e das negociações com partidos.
Nesta quarta-feira, depois da posse, o presidente interino se reunirá com ministros, mas para tratar do projeto da Lei Orçamentária Anual de 2017, que será entregue nesta quarta-feira ao Congresso Nacional.
Logo depois, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, concederá entrevista. Com a ausência do presidente do país pela primeira vez, e sem um vice, assessores do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que assumirá o governo na ausência de Temer, foram ontem ao palácio se inteirar do funcionamento do Palácio.
Protocolos
Há protocolos da posse que serão definidos somente depois do retorno de sua viagem à China – Temer embarca ainda hoje com comitiva para o país asiático. Uma das formalidades que ficarão para depois é a foto presidencial, em que o presidente posa estar vestido com a faixa presidencial.
A foto seguirá o padrão oficial, mas pode ser usada alguma luz especial na produção. Ficará a critério do presidente interino a escolha do local da foto. Entre as opções, estão o Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente da República, o Palácio do Planalto ou até mesmo o Palácio do Jaburu, onde mora atualmente.
Por enquanto, o retrato de Dilma permanece na maioria dos gabinetes, embora tenha “sumido” de algumas salas.
Temer chegou ao Palácio do Planalto na terça-feira às 9h32. A intenção era receber visitas, mas acabou cancelando a agenda. Estava prevista reunião com o deputado Giacobo (PR-PR), às 10h. O entendimento é de que, às vésperas do resultado do impeachment, seria mais adequado se voltar para trabalhos internos. Ele passou o dia despachando com assessores. Não saiu do palácio nem para almoçar.
Assessores mais próximos afirmam que Temer não acompanhou a sessão do impeachment de ontem. Isso porque teria ficado mais tranquilo depois do discurso de Dilma e a avaliação de que o pronunciamento não altera o quadro de votações.
Em compensação, TVs de várias salas e gabinetes estavam ligadas na sessão do Senado, no dia em que acusação, defesa e senadores se posicionaram sobre o processo do impeachment.