Hangzhou (China) - O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse nesse sábado que seria uma punição "desproporcional" suspender o direito de Dilma Rousseff de exercer função pública após a aprovação do impeachment. Segundo ele, a decisão de poupar a ex-presidente não criará precedente favorável ao ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ), nem para o ex-senador Delcídio do Amaral. "Era desproporcional afastar e punir", disse Renan em entrevista na China, onde acompanha o presidente Michel Temer, que participa da reunião do G-20. Delcídio recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para pedir a restauração do direito com base no impeachment de Dilma.
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Temer
Efetivado no cargo há quatro dias, o presidente Michel Temer afirmou ontem na China que as manifestações contra seu governo são promovidas por “grupos mínimos” e têm caráter antidemocrático por supostamente envolverem depredações. “O tal do 'Fora, Temer', tudo bem. É um movimento democrático", declarou em entrevista na China. Perguntado se os protestos comprometiam o início de seu governo, Temer insistiu no que considera o caráter inexpressivo das manifestações. "As 40 pessoas que estão quebrando carro? Precisa perguntar para os 204 milhões de brasileiros e para os membros do Congresso Nacional que resolveram decretar o impeachment", disse em entrevista a jornalistas brasileiros. "O que preocupa, isto sim, é que se confunde o direito à manifestação com o direito à depredação."
Na sexta-feira, cerca de 400 pessoas participaram em São Paulo do quinto dia de protestos contra o governo Temer. A manifestação foi pacífica, mas terminou com oito prisões depois que um grupo de black blocs depredou pontos de ônibus e quebrou vidros de concessionárias de carros. O presidente disse ser "mais do que natural" que seu governo não tenha "apoio" neste momento, mas em seguida atribuiu o fato ao desconhecimento da população em relação aos ocupantes da Presidência e da vice-presidência.
Entrevista/Kenneth Maxwell - Historiador britânico
Um dos mais importantes brasilianistas da atualidade e autor do livro A devassa da devassa - A Inconfidência Mineira: Brasil e Portugal 1750-1808, Kenneth Maxwell é diretor do Programa de Estudos Brasileiros do Centro David Rockfeller para Estudos Latino-americanos, da Universidade de Harvard (EUA)
Como o impeachment da presidente Dilma Rousseff está sendo tratado pelo mundo? Como está a imagem do Brasil?
As opiniões estão divididas. A comunidade acadêmica e setores de esquerda em geral estão tristes. A comunidade financeira e banqueiros estão em êxtase. Um dos lados acredita há tempos que um golpe constitucional foi dado e que Dilma foi uma vítima inocente condenada no processo. Essa imagem é encorajada pelo fato de Dilma ser uma mulher que no passado foi uma militante ativa, foi presa e torturada pelo regime militar. Outros veem Dilma como uma presidente incompetente, que apesar de ser honesta, ainda assim presidiu o conselho da Petrobras e participou do governo do PT, onde a corrupção floresceu. Mais importante é o fato de que o impeachment retirou o partido que estava no poder há 13 anos. A partir de agora, será o período de Michel Temer. Ele é político de uma linha antiga, certamente sabe como funciona internamente o sistema político brasileiro. Isso pode ser uma vantagem.
Como Michel Temer será recebido pelos principais líderes internacionais?
Temer é virtualmente desconhecido fora do Brasil. E sua experiência internacional é limitada. Ao contrário de Serra e Meirelles, que têm um extensivo contato no exterior e já trabalharam fora do país. Os dois serão peças-chaves na administração Temer. Eles representarão uma mudança na política econômica que era adotada durante as administrações petistas. A inserção de Temer em negócios internacionais será imediata. Ele participa do encontro do G-20, na China, e depois irá para Índia, para a reunião dos Brics.
O que deve acontecer com o Partido dos Trabalhadores, que passa por momento conturbado?
O PT terá que ir lá atrás e buscar uma reconstrução a partir de suas raízes. Mas não será fácil ou rápido. Os escândalos de corrupção devem continuar se desdobrando. O ex-presidente Lula continua sendo o maior ativo do partido, mas ele ainda pode ser implicado. O futuro do partido dependerá da capacidade de mobilizar uma oposição nas ruas, com fortes ligações com movimentos sociais e sindicatos, contra as medidas econômicas do governo Temer. .