Nesta terça-feira, quando voltar ao Brasil depois da viagem à China, o presidente Michel Temer (PMDB), que embarcou para Ásia no mesmo dia em que tomou posse, começa oficialmente uma corrida contra o tempo para tirar o Brasil das crises política e econômica. A aprovação de reformas e medidas para recuperar a economia passa por uma base aliada forte no Congresso Nacional. Por isso mesmo, já nos primeiros dias de seu mandato, Temer terá que retomar a função de articulador político – atividade que, inclusive, exerceu antes de romper com o governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) – para unir novamente sua base, estremecida pela votação que manteve os direitos políticos da petista, e ainda enfrentar a oposição agressiva do PT.
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Temer mantém distância de palanques nas eleições municipaisForças Armadas vão ganhar verbas do governo Temer'O que eu mais faço é discutir relação', diz Temer sobre base aliada G-20/Temer: Clima político não altera data de 13/09 para pacote de concessõesComentários contra impeachment e Temer dominam página do G-20 no FacebookA reunião com senadores e deputados, entretanto, não deve demorar a ocorrer. Ainda na conversa com ministros no dia de sua posse, Temer demonstrou preocupação com a fragmentação da base. “Tivemos um pequeno embaraço, até na base governamental. É uma divisão inadmissível. Se é governo, tem que ser governo”, disse.
Na sexta-feira, PSDB, DEM, PPS e Solidariedade protocolaram mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF) questionando o fatiamento da votação e com a intenção de anular a decisão que mantém os direitos da ex-presidente. Eles defendem que a aprovação do impeachment já caracterizaria a inelegibilidade de Dilma por oito anos. Pressionado, Michel Temer autorizou o PMDB a assinar o mandado de segurança, já como uma primeira iniciativa para apaziguar a base.
Parece que a estratégia tem surtido efeito. Um dos mais críticos quanto ao fatiamento do impeachment, o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) abrandou o discurso. “Temos que ter muita responsabilidade.
Ainda sim, a assinatura do mandado de segurança pelo PMDB não evitou que o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, demonstrasse insatisfação com o comportamento da base do governo Temer. Nesse domingo (4), na China, Temer disse que, com base sólida, vai conseguir aprovar questões “aparentemente difíceis”. “Precisamos conversar permanentemente. Com o PSDB, tenho conversado com frequência”, disse Temer. A declaração foi dada em resposta a Aécio, que afirmou que o PSDB tem ecoado com muito mais clareza as posições do presidente do que o próprio PMDB. Aécio ainda disse que Temer precisa discutir a relação com peemedebistas.
Oposição ferrenha
Mais difícil que controlar a base, entretanto, será lidar com uma oposição experiente como a do PT, que acumula conhecimento tanto de 13 anos no poder quanto de décadas como grupo contrário ao governo.
De imediato, o discurso da ex-presidente Dilma Rousseff logo depois de saber que havia sofrido a cassação de seu mandato havia sinalizado que a oposição ao governo Temer será dura. "Haverá contra eles a mais firme, incansável e enérgica oposição que um governo golpista pode sofrer", reforçou. Dentro do Congresso, isso vai se traduzir na dificuldade em aprovar projetos.
Reunião da Executiva Nacional do PT, na última sexta-feira, com a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, resultou no documento “Resolução política contra o golpe”, em que a legenda declara guerra ao governo Temer. Nele, o partido anuncia que “as bancadas parlamentares do PT estão orientadas a enfrentar a agenda do golpismo, com todos os recursos e possibilidades disponíveis, agindo para dividir a base usurpadora sempre que for possível derrotar os projetos palacianos”.
“Vamos recrudescer. Já vínhamos obstruindo tudo e vamos aumentar a rigidez”, afirma o líder do PT na Câmara, deputado Afonso Florence (PT-BA). A atuação da oposição será um dificultador a mais na aprovação de reformas consideradas prioritárias por Temer: a previdenciária e a trabalhista. Por se tratarem de medidas antipopulares, os dois temas já são espinhosos por si só e ganham maior complexidade frente a um governo sem apoio popular.
“É um governo que se diz com mandato, mas não tem voto popular, traiu Dilma no Palácio do Jaburu e ainda quer retirar direitos. Não é implicância. É uma oposição que denuncia a ilegitimidade do governo”, diz o deputado.
Na avaliação do cientista político Lucas Cunha, a aprovação das reformas será o maior desafio de Temer. “Ele terá que consolidar a base de apoio e chamar as forças do PSDB e do DEM em torno dessa coalizão governista”, reforça Cunha, para quem as medidas provisórias serão recurso que o peemedebista usará para garantir a governabilidade. “Elas têm força imediata de lei”, explica. Embora seja, por um lado, dificultador, a falta de base eleitoral também tira de Temer o compromisso com programa de governo, segundo o especialista..