Brasília – Em seu primeiro 7 de Setembro como presidente efetivo da República, Michel Temer quebrou protocolos tradicionais do desfile cívico-militar, mas não conseguiu escapar de críticas de parte dos presentes por ter sido protagonista do impeachment da petista Dilma Rousseff. Ao contrário dos antecessores, Temer não desfilou no tradicional Rolls Royce, de capota aberta, optando por um Chevrolet Omega oficial, fechado. Tampouco passou em revista as tropas militares. E ainda foi para o palanque reservado às autoridades sem ostentar a faixa presidencial.
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Todas as quebras de protocolo feitas por Temer foram decididas com antecedência e comunicadas aos assessores e ministros mais próximos. No caso da faixa presidencial, por exemplo – que virou alvo de disputa durante o período de interinidade, quando aliados palacianos chegaram a dizer que ela havia desaparecido –, o presidente repetiu a decisão de não usá-la, a exemplo do que ocorreu durante a cerimônia de posse, na semana passada.
Na avaliação coletiva, a faixa representaria um símbolo de poder e, como essa imagem de empoderamento já fora concretizada com a aprovação do afastamento definitivo de Dilma, um gesto excessivo e desnecessário. O que não significaria, contudo, que Temer jamais usará o ornamento.
“Natural”
Após o término da cerimônia, os ministros mais próximos a Temer minimizaram as vaias dirigidas ao presidente. “Em eventos abertos ao público, é natural que haja manifestações políticas. Embora tendo sido superada a discussão sobre a legalidade e legitimidade do governo, alguns segmentos ainda procuram olhar e voltar para trás”, criticou o chefe da Casa Civil, ministro Eliseu Padilha. Ele fez até uma comparação numérica entre o número de pessoas que vaiaram o evento e o número de presentes. “Foram 18 em 18 mil, é uma boa proporção. Respeitamos as manifestações da mesma forma que recebemos as palmas e os aplausos dos demais participantes do evento”, concluiu.
Interlocutores do governo afirmaram que os protestos eram um sinal da maturidade democrática da atual gestão. “Não fizemos como os governos anteriores, que encheram as arquibancadas com ocupantes de cargos de confiança escolhidos para aplaudir o PT. Quem quis vaiar, vaiou. Quem veio para aplaudir, aplaudiu”, destacou um aliado de Temer. No ano passado, em guerra declarada com o então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), Dilma Rousseff também foi alvo de protestos e a área do desfile ficou isolada dos manifestantes por tapumes de alumínio. Fora do local restrito, um boneco inflável ironizava a presidente.
O secretário do Programa de Parceria de Investimentos (PPI), Moreira Franco, afirmou que o grupo de inteligência do Palácio do Planalto identificou que os protestos vieram de funcionários da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), descontentes com as mudanças na empresa. “Os protestos são normais. Continuamos trabalhando para pacificar o país”, disse.