Brasília, 13 - Logo após ter o mandato de deputado cassado, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) deixou o plenário da Câmara com ataques ao governo, ao seu sucessor Rodrigo Maia (DEM-RJ), ao secretário do Palácio do Planalto Moreira Franco e se disse vítima de uma "vingança política" em meio ao processo eleitoral. Para ele, um "consórcio" entre o governo Michel Temer e o PT foi responsável por sua derrocada.
A aliança entre governo e petistas, segundo Cunha, se deu na eleição de Maia à presidência da Câmara, fazendo assim um acordo para colocar em votação sua cassação. "Houve uma pauta, um compromisso, um acordo do presidente da Casa de pautar e me cassar. Isso já era sabido", afirmou. Ele avaliou que, se sua cassação fosse em votação após as eleições municipais, o resultado não seria o mesmo. "O governo, de uma certa forma, aderiu à agenda da minha cassação."
Veja quem votou a favor de Eduardo Cunha contra sua cassação
O peemedebista disse que a articulação para a eleição de Maia foi comandada pela "eminência parda" de Moreira Franco, sogro do atual presidente da Câmara, e secretário executivo do Programas de Parcerias de Investimentos (PPI) de Temer. Cunha disse que seu sucessor não se comportou de acordo com o regimento e que certamente buscará um recurso judicial. "O governo e a Rede Globo, associados ao PT, foram os principais responsáveis pela minha cassação", disse Cunha.
O peemedebista negou que tenha a intenção de fazer delação premiada porque "só faz delação quem é criminoso", mas anunciou que escreverá um livro sobre o impeachment de Dilma Rousseff, contando os bastidores do processo e os diálogos com todos os personagens envolvidos.
Cunha negou se tratar de uma ameaça, mas, questionado se teria revelações a fazer sobre Temer, disse que "no dia que tiver alguma coisa a revelar sobre alguém" o fará.
Ele evitou falar em prisão e disse que não teme o juiz Sérgio Moro, que deve herdar seus casos que hoje tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF). "Não tenho que temer a ninguém, tenho temor a Deus."
Discurso
O tom beligerante da entrevista também esteve na defesa que fez antes da votação, no plenário da Câmara, quando atacou seus pares e os órgãos responsáveis por conduzir as investigações da Operação Lava Jato. Ele se emocionou ao dizer que aquele poderia ser o seu último discurso da tribuna da Câmara. O discurso foi interrompido diversas vezes por vaias e críticas, principalmente de petistas, que o chamavam de "falso", "golpista" e "ladrão". Quando perceberam que Cunha estava emocionado, os petistas ridicularizaram o momento e começaram a dizer que ele deveria chorar para ser mais convincente.
O presidente Michel Temer e interlocutores no Planalto evitaram comentar a decisão da Câmara.
O Estado de S. Paulo..