Washington, 13 - O novo embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Sergio Amaral, disse nesta terça-feira, 13, que a cassação do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha reforça a legitimidade do processo de impeachment diante das críticas que apontavam a presença de políticos acusados de corrupção entre os que julgaram a ex-presidente Dilma Rousseff.
"Do ponto de vista da percepção do Brasil e do processo de impeachment, o impacto é certamente positivo", afirmou o embaixador sobre a perda do mandato de Cunha, em seu primeiro evento público desde que chegou a Washington, há pouco mais de uma semana.
Falando no Brazil Institute do Wilson Center, Amaral refutou a tese do golpe contra a ex-presidente, que ganhou força entre acadêmicos, parlamentares americanos e o senador Bernie Sanders, que disputou com a Hillary Clinton a candidatura do Partido Democrata à presidência.
O embaixador se referiu ao impeachment como uma "lição da democracia" e ressaltou que o processo seguiu os ritos estabelecidos na Constituição, teve supervisão do Judiciário e cobertura da imprensa.
Segundo ele, o afastamento de Dilma abriu um "novo capítulo" na história brasileira, no qual o período de "confronto e debate radical" teria sido deixado para trás. Perguntado sobre recentes manifestações contra o governo Michel Temer, Amaral respondeu que o impeachment teve apoio da ampla maioria da população do País e que o novo governo merece "crédito e tempo" para mostrar resultados.
Amaral comparou a Lava Jato à investigação Mãos Limpas contra a máfia italiana e disse que sua abrangência não tem precedentes. Depois de ressaltar que a atuação da Polícia Federal é legítima e conta com apoio da população, Amaral se referiu ao caráter imprevisível da investigação. "A Lava Jato é um míssil sem direção. Ninguém sabe qual será a próxima ação, quem essa ação vai afetar e seu possível impacto, não apenas sobre empresas, mas também na arena política", afirmou o embaixador.
O desafio do governo agora será aprovar as reformas fiscal, previdenciária e trabalhista e atrair investimentos para o setor de infraestrutura, disse o embaixador. Para isso, será preciso vencer a batalha da comunicação e a queda de braço com as centrais sindicais, que colocarão ênfase nas eventuais perdas de curto prazo provocadas pelas mudanças, cujos efeitos serão sentidos no médio e longo prazo.
"É necessário explicar as mudanças para as pessoas. Se não explicar, elas não entendem o que ganharão com as mudanças e não vão aceitar. Não dá para impor", observou.
O embaixador disse que o governo também enfrentará a estratégia no PT para as eleições presidenciais de 2018, que abrangeria a vitimização do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a tentativa de mobilização das bases tradicionais do partido..