São Paulo e Curitiba - O ex-presidente da OAS José Aldemário Pinheiro, o Léo Pinheiro, afirmou nesta terça-feira, ao juiz federal Sérgio Moro, que o ex-ministro de Relações Institucionais do governo Dilma Rousseff Ricardo Berzoini participou de reunião na casa do ex-senador Gim Argello (PTB-DF) em que foi tratado da blindagem ao governo e às empreiteiras nas investigações da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Petrobras, em 2014. O empreiteiro teria pago propina no esquema.
Leia Mais
STF autoriza compartilhar celular de Léo Pinheiro com inquérito sobre AgripinoLava Jato diz que Léo Pinheiro 'monitorou ativamente' CPI da PetrobrasAo menos 50 alvos da Lava Jato sem foro estão no STFDecisão do Supremo põe Léo Pinheiro em alertaReceita Federal vai cobrar R$ 10 bilhões de investigados na Lava-JatoÉ a primeira vez que Léo Pinheiro, que perdeu no último mês sua negociação de delação premiada com o Ministério Público Federal, confessa crimes no esquema de cartel e corrupção na Petrobras. Ele foi interrogado por Moro em processo em que é réu por pagar propina de R$ 350 mil ao ex-senador Gim Argello, via doação a uma igreja.
Moro quis saber então se os crimes narrados pela força-tarefa da Lava-Jato de propinas pagas para parlamentares para blindar investigados na CPMI, ele confirmou e citou a participação de outros executivos e de um ex-ministro do governo cassado.
"Fui convocado para um encontro na casa da senador Gim Argello e lá chegando estavam presentes o senador Vital do Rego e para minha surpresa estava presente o ministro das Relações Institucionais do governo Dilma, o ministro Ricardo Berzoini. Eu fiquei surpreso, eu não conhecia pessoalmente."
Segundo Léo Pinheiro, em 2014, após ser deflagrada a Operação Lava Jato, ele foi chamado para um encontro na casa do ex-senador Gim Argello. No encontro, estava também o senador Vital do Rêgo. "Gim queria promover um almoço e estariam presentes outras empresas do setor, segundo ele, as cinco maiores do setor." Léo Pinheiro confirmou terem participado executivos da Odebrecht e da Andrade Gutierrez, entre elas.
No segundo encontro, Léo Pinheiro diz que Berzoini já estava com os dois parlamentares quando ele chegou. "O ministro relatou que era uma preocupação muito grande do governo da presidente Dilma o desenrolar dessa CPMI e gostaria que as empresas pudessem colaborar, o quanto possível, para que essas investigações não tivessem uma coisa que prejudicasse o governo."
Novo interrogatório
O executivo Léo Pinheiro, da OAS, ficou em silêncio durante seu primeiro interrogatório como réu, antes dele perder sua delação.
Léo Pinheiro, condenado a 16 anos de reclusão por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa na Lava Jato, teve a negociação de sua delação premiada suspensa pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. A interrupção foi provocada pela divulgação de informações sobre o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal. O ministro teria sido citado por Leó Pinheiro, o que é negado pelo procurador-geral.
Defesa
O ex-ministro Ricardo Berzoini afirma que Léo Pinheiro cometeu uma imprecisão em seu relato ao citar a presença de Vital do Rêgo, que não estava no encontro. "Nunca estive com Vital do Rêgo junto com o Gim Argello para tratar de qualquer assunto fora do Congresso. Era uma conversa que o Gim me convidou para ter com ele sobre a pauta no Senado na semana seguinte", diz Berzoini.
Ainda segundo o ex-ministro, Argello o teria convidado para o encontro na residência do senador em Brasília, sem nem mencionar o empreiteiro. "Não tinha menor ideia que o Léo poderia aparecer. Conversamos (ele e Gim Argello) por mais de uma hora e quando estava para sair apareceu o Léo Pinheiro, com o qual não tenho nenhuma intimidade, e conhecia apenas de vista", relata.
Berzoini diz ainda que não houve nenhum tipo de pedido ao empreiteiro.