“Toda hora se faziam alterações que pareciam pontuais e não eram. Havia intervenção do governo por forças ideológicas equivocadas que agrediam a própria lógica das coisas, como querer fixar uma taxa de retorno e tarifas artificiais.” Entendeu direito o que o secretário-executivo do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Moreira Franco, quis dizer? Eu também não. Vamos então a outra frase: “Não trabalhamos com hipóteses porque o Brasil foi vítima nos últimos anos de uma pirotecnia enorme no trato da questão econômica”.
Bem, gente, para não ser pirotécnica, a coluna vai explicar. Aliás, o próprio Moreira Franco explica em outras declarações: “Tenho conversado com investidores e recebido deles bons retornos, e tenho lido isso também na imprensa”, só que antes dos “bons retornos”, o próprio comandante do PPI havia dito: “Temos a absoluta consciência de que a credibilidade do país, tanto interna quanto externamente, estava muito ruim, a confiança péssima”.
Aí, sim, dá para concordar com Moreira Franco. De fato, a credibilidade do Brasil andava rastejando faz tempo, a confiança, então, nem se fala. Ruim e péssima são palavras adequadas para explicar. Dar a volta por cima é que são elas, embora seja o que Moreira Franco promete.
A estratégia já está montada. O presidente Michel Temer (PMDB) vai aos Estados Unidos e fará o discurso de abertura, que sempre cabe ao Brasil, na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), depois de amanhã. E vai aproveitar para encontros com investidores e empresários.
No papel de caixeiro-viajante, Temer vai tentar mudar a imagem do Brasil e mostrar a estabilidade política do país, embora a imprensa internacional não perca a chance de dar notícias sobre os quebra-quebras de manifestantes ligados ao PT e seus braços sindicais. Ainda mais diante do risco de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva incentivá-las, em razão dos sérios riscos que corre na Operação Lava-Jato do Ministério Público (MPF) e da Polícia Federal (PF).
Os brasileiros, no entanto, estão nem aí para a viagem de Temer e muito menos para a política. Com toda razão. O país está consternado com a trágica morte do ator Domingos Montagner, que será enterrado hoje. O Brasil inteiro está de luto e reza por seus filhos pequenos.
As capivaras
“Diante da multiplicidade de vozes dentro da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) sobre a questão dos animais, mais especificamente no caso do manejo das capivaras na região da Pampulha, o MMDA questiona se há e qual o critério escolhido pela Escola de Medicina Veterinária e pelo Instituto de Ciências Biológicas quanto ao profissional pronunciar-se em nome dessa sobre tema de tamanha complexidade e amplitude, envolvendo vidas humanas e não humanas”. Quem questiona é o Movimento Mineiro pelos Direitos Animais. E com uma coleção de argumentos cita o exemplo da UFPR. No link que o próprio e-mail informa está assim: “Mascote oficial de Curitiba, capivara vira sucesso de vendas”. E segue: “Linha de produtos baseados na capivara: de canecas a bichos de pelúcia, passando por capas de iPhone”. Hein? Preservar capivaras de pelúcia?
A versão que convém
“Lula ‘fatiou’ a Petrobras para evitar impeachment no mensalão, diz Delcídio em delação ao MPF”, seguida da expressão, que o jargão jornalístico chama de ‘bigode’: “Senador cassado disse que o ex-presidente ‘abraçou’ o PMDB também para proteger seu filho Lulinha”. Mais uma: “Em delação, Pedro Corrêa diz que Lula escolhia diretamente cargos na Petrobras. MPF anexou depoimento do ex-deputado à denúncia contra ex-presidente”. “Denúncia da Lava-Jato contra Lula tem provas ou não? Juristas respondem”. “Espetáculo de Deltan Dallagnol só serve à impunidade de Lula”. “Fase que precede ação criminal requer cuidados”. São manchetes que estavam em sites de alguns dos principais jornais do país. Quem tem razão, o contra ou a favor?
Arquivo ambulante
Se repetir o placar do seu processo de cassação, estarão presentes, no máximo, 10 deputados que votaram contra a punição. Bem, tem ainda nove que se abstiveram. Pelo jeito, vão repetir a abstenção nos lançamentos do livro do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) (foto), previstos para o Rio de Janeiro, São Paulo e, lógico, Brasília. O livro ainda não está concluído, mas ele promete entregar à editora até 15 de novembro. Pelo andar da carruagem, no entanto, já deve ter muitos políticos com o cabelo em pé de tanta preocupação. Cunha é um arquivo ambulante.
Vídeo polêmico
Um vídeo que circula na internet deixa ainda mais tensa a disputa pela Prefeitura de Contagem. Nele, o candidato à reeleição, Carlin Moura (PCdoB), aparece entregando uma sacola a uma mulher. Nas imagens, é possível perceber quando alguém passa a Carlin o objeto e ele o entrega a uma mulher, que está com um bebê no colo. Toda a movimentação parece ser registrada por uma equipe de TV que acompanhava a cena. A situação fez com que internautas suspeitassem que o candidato estivesse oferecendo brinde a uma eleitora. A assessoria do candidato afirmou que a mulher estava passando pelo local e aceitou gravar imagens para serem exibidas na propaganda de Carlin. Disse ainda que foi um produtor que segurou a sacola para que a personagem do depoimento ficasse mais à vontade para falar, mas na sequência a sacola foi devolvida para a mulher a pedido do próprio Carlin. A equipe de TV gravava as imagens para o programa eleitoral do candidato, que “repudiou” o que classificou como “manipulação” feita por quem gravou o vídeo.
PINGA FOGO
Viralizou nas redes sociais mensagem dizendo que o Lula foi algemado e preso. Calma, gente! Não é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Trata-se do “Lula Molusco”, personagem do desenho Bob Esponja (imagem).
“Prezados jornalista, boa-tarde. Segue matéria do dia da campanha da prefeita de Ipatinga, Cecília Ferramenta, candidata à reeleição”. Faltou ou sobrou o plural, mas é perdoável, erro de digitação. Mas, e o partido?
A assinatura permite descobrir: “Atenciosamente, Assessoria de Comunicação Cecília Ferramenta 13”. Ah, bom! Aliás, na matéria está “PT-13”. O partido e o número.
“A profissão mais honesta que existe é a do político, sabe por quê? Porque por mais ladrão que ele seja, de quatro em quatro anos ele está lá suando e pedindo voto, o concursado não! O concursado faz a faculdade, passa num concurso e tem o seu emprego pelo resto da vida, sem precisar se preocupar”.
É a voz do leitor Péricles Ramos se referindo a frase de Lula. “Como pode um ex-presidente falar tamanho absurdo. É triste ver senadores ‘balançando a cabeça’ como estando de acordo com as asneiras faladas”.
Em tempo: a coluna também é contra o extermínio de capivaras. Há outras soluções e os veterinários do zoo estão ali, bem pertinho.