Brasília – A atual crise política que afasta os eleitores dos chamados partidos tradicionais — a maioria deles chamuscados ou derretidos por denúncias de corrupção nas três esferas administrativas —, aliada às características regionais das eleições municipais, gerou uma pulverização das legendas que lideram as pesquisas de intenção de voto das eleições de outubro.
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Metade dos prefeitos em primeiro mandato não vão disputar a reeleição em outubroEleições continuam seguras e urna tem se mostrado inviolável, diz Gilmar MendesTemer mantém distância de palanques nas eleições municipaisEleições 2016: quase 30% dos eleitores não têm ensino fundamental completoEx-prefeitos levam vantagem em capitaisCandidatos aumentam ritmo de campanha a duas semanas das eleiçõesJá o PMDB, de Michel Temer, que recentemente foi efetivado como presidente após a conclusão do processo de impeachment de Dilma Rousseff, não tem aproveitado, ao menos por enquanto, o poder da caneta federal. A legenda lidera em apenas três capitais: Boa Vista (RR), Goiânia (GO) e Porto Alegre (RS).
Por outro lado, partidos criados recentemente, como a Rede e o Solidariedade, surgem bem colocados nas pesquisas, por exemplo, em Macapá (AP) e Vitória (ES). E até o nanico PMN lidera em Curitiba (PR).
“É sempre bom lembrar que as eleições municipais têm características distintas, pois refletem as brigas regionais. Um nome de peso que perde espaço em uma legenda grande, por exemplo, muitas vezes se filia a outra com menor densidade eleitoral apenas para disputar a eleição”, reforçou a vice-presidente da Ideia Inteligência, Cila Shulman.
“Além disso, o próprio debate é mais administrativo, em torno da capacidade de resolver os problemas da comunidade. O que menos importa, em muitos casos, é o partido ao qual o candidato está filiado”, completou.
A executiva da Ideia Inteligência acrescenta outro ingrediente neste cenário. “Os atuais prefeitos ou aqueles que lançaram nomes para sucedê-los enfrentam dificuldades.
Crise favorece pulverização partidária
Para o cientista político da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo Rui Tavares Maluf, a atual crise no sistema político também contribui para essa pulverização partidária. “Vivemos uma crise de representatividade. Há muito tempo as nossas legendas não são consolidadas, acabam se formando diversos partidos que não têm qualquer composição ideológica. É de assustar, de fato”, disse. Maluf, contudo, acha que ainda é cedo para se ter certeza do resultado final destas eleições.
“É preciso esperar a abertura das urnas. E, mais do que isso, é prematuro avaliar se essa pulverização será uma tendência para disputas futuras ou apenas uma conjuntura atual”. Maluf lembrou que o PMDB, mesmo nos tempos mais duros e de rejeição ao sistema político, sempre tem mantido sua capilaridade política, elegendo o maior número de prefeitos e bancadas numerosas para a Câmara e o Senado.
O cientista político e professor do Insper Carlos Melo aponta o enfraquecimento do PT como um dos principais responsáveis por essa pulverização.
No caso do Acre, há muito mais uma questão da oligarquia familiar dos Viana do que, necessariamente, uma identidade com o PT”, afirmou. “Em capitais como o Rio, São Paulo e Belo Horizonte, onde os candidatos petistas sempre foram competitivos, desta vez não têm chance”. No Rio, por exemplo, o partido nem sequer tem candidato, optando por apoiar a candidata do PcdoB, Jandira Feghali.
Eleição em segundo plano
Para Melo, é preciso ressaltar que esta é uma “eleição anômala”, com uma série de assuntos nacionais, muitos deles que geram comoção: Olimpíadas, Paralimpíadas, impeachment de Dilma Rousseff, cassação de Eduardo, a morte de um ator global.
“As disputas municipais estão em segundo plano. Todos analisam pesquisas, mas se esquecem de citar que, na média, 50% dos eleitores entrevistados não sabem quem está na disputa. Um candidato como Celso Russomano (PRB), por exemplo, que aparece com 30% das intenções de voto, na verdade, tem apenas 15% da preferência do eleitorado”, calculou.