A Polícia Federal deflagrou nesta sexta-feira mais uma fase da Operação Acrônimo, que investiga esquema de lavagem de dinheiro em campanhas eleitorais do PT e recebimento de vantagens indevidas por parte de agentes públicos.
Nesta 9ª etapa das investigações, um dos alvos é o secretário de Estado da Casa Civil e de Relações Institucionais de Minas, Marco Antônio de Rezende Teixeira, juntamente com o presidente da Companhia de Tecnologia da Informação do Estado de Minas Gerais (Prodemge), Paulo Moura Ramos.
A Justiça expediu contra os dois mandados de condução coercitiva – quando a pessoa é levada para prestar depoimento e depois liberada –, mas ambos não estavam em casa. Marco Antônio está nos Estados Unidos desde o último dia 15 e Paulo Moura havia viajado nesta sexta-feira pela manhã com a família para o Rio de Janeiro.
Califórnia
De acordo com o advogado do secretário, José Sad Júnior, Marco Antônio está em férias na Califórnia, nos Estados Unidos, desde o último dia 15 e, informado da situação, antecipará a volta ao Brasil para prestar esclarecimentos à Polícia Federal.
"Só posso atribuir a uma coincidência infeliz a deflagração dessa fase da operação. A viagem estava marcada há muito tempo e agora, certamente, ele ela vai antecipar o seu retorno", disse o advogado.
O advogado também afirmou que desconhece os fatos que levaram à condução coercitiva do secretário. Na manhã desta sexta-feira, Sad Júnior foi à sede da PF, em Belo Horizonte, para conhecer o processo deflagrado hoje e, ainda, protocolar um pedido para remarcar os depoimentos de seus clientes. Ele contou que apresentou à Polícia Federal os cartões de embarque de seus clientes.
Sad Júnior dissse que os clientes nunca se recusaram a contribuir. Segundo ele, o secretário já foi chamado pela Operação Acrônimo para depor sobre a campanha eleitoral de 2014 há quatro meses. No entanto, Marco Antônio ficou calado. "Na época, a defesa não teve acesso ao que estava no inquérito. Por isso, ele (secretário), se valeu do direito de ficar calado", disse o advogado.
Férias com a família
A Justiça também expediu mandado de condução coercitiva para Paulo Moura Ramos, presidente da Prodemge e sócio de Marco Antônio. O advogado José Sad Júnior, que também defende Moura, disse que seu cliente tenta retornar ainda nesta sexta-feira a Belo Horizonte para prestar esclarecimentos à Polícia Federal.
A Polícia Federal cumpre também nesta sexta-feira mandado de busca e apreensão na sede da Construtora OAS, em Brasília. A PF não informou o total de mandados que serão cumpridos nesta nova fase da Operação Acrônimo.
Chaveiro
A PF cumpriu mandado de busca e apreensão no apartamento de Marco Antônio Rezende, no Bairro Cruzeiro, Zona Sul de Belo Horizonte. Os policiais ficaram no local por toda a manhã.
Como o secretário estava viajando, o síndico ligou para a empregada da casa para que ela abrisse o apartamento. Também foi preciso chamar um chaveiro para abrir um quarto, que seria o de Rezende, e algumas gavetas.
No final da manhã de hoje, policiais federais deixaram o prédio onde mora o secretário carregando dois malotes. Os policiais chegaram ao prédio por volta das 6 horas e só entraram no apartamento de Marco Antônio depois que o síndico do edifício, Rodrigo Fiúza, ligou para a empregada do secretário pedindo que ela fosse ao local para abrir o imóvel.
O síndico disse que acompanhou como testemunha a busca da PF no apartamento do secretário, que começou por volta das 7 horas. Ele disse que não poderia falar sobre as buscas, já que foi arrolado como testemunha para acompanhar a operação.
Entenda o caso
A Operação Acrônimo está focada em dois inquéritos policiais que apuram dois eventos distintos da investigação. Um deles diz respeito à cooptação e pagamento de vantagens indevidas para fraudar licitações no Ministério da Saúde, beneficiando gráfica da propriedade de um dos investigados, o empresário Benedito Oliveira Neto, o Bené.
O outro evento apurado na Operação Acrônimo é a interposição de empresa na negociação e pagamento de vantagens indevidas a agente público para obtenção de financiamentos de projetos no exterior pelo BNDES (República Dominicana, Angola, Cuba, Panamá, Gana e México) no interesse de uma grande empreiteira do Brasil.
Na época dos supostos fatos, ainda em investigação, Pimentel era ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio no governo Dilma Rousseff, com ingerência no banco. Pimentel não é alvo da ação desta sexta-feira.
As ações da Operação Acrônimo são um desdobramento da investigação que tramita no Superior Tribunal de Justiça (STJ). O magistrado relator do caso, ministro Herman Benjamin, determinou o encaminhamento de parte da apuração à Justiça Federal de primeira instância, por não envolver investigados com prerrogativa de foro naquela Corte, a exemplo do governador de Minas Gerais.