Jornal Estado de Minas

PÓS-IMPEACHMENT

Caciques do PMDB disputam espaço no governo e sucessão de Renan

Brasília – Menos de um mês depois de ter chegado definitivamente ao poder, com a conclusão do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, os caciques do PMDB já estão em pé de guerra por espaços no Legislativo e no Executivo. Existe uma disputa entre os peemedebistas do Senado com os correligionários do Planalto, com fragmentações internas em cada um dos grupos. “O PMDB é assim. Sempre tem um nível de tensão interna, pois são vários interesses dentro de um mesmo partido. Se não fosse assim, não seria o PMDB”, resumiu um interlocutor palaciano.


Bombardeado pelo deputado cassado Eduardo Cunha (RJ), o secretário do Programa de Parceria do Investimento (PPI), Wellington Moreira Franco, não conta com a simpatia do senador Romero Jucá (RR), que preside o partido. Jucá desconfia que o vazamento da delação do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, que provocou a exoneração do peemedebista do Ministério do Planejamento, tenha sido facilitada por Moreira.


De volta à planície, Jucá, considerado um dos melhores quadros do partido, incomoda-se pela fama de bom operador, mas da ausência de um cargo efetivo. Ainda comanda o Planejamento, mas o titular da pasta é Dyogo Oliveira. Orienta a base aliada nas votações do Senado, mas o líder do governo na Casa é Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP).

Partidos que orbitam em torno do PMDB especulam que Jucá, por uma questão de sobrevivência, poderia atropelar os interesses do líder do partido no Senado, Eunício Oliveira (CE), e disputar a sucessão de Renan Calheiros (AL) na presidência da Casa.


Caso eleito, Jucá teria, como presidente do Congresso Nacional, o direito de ser julgado pelo pleno do Supremo Tribunal Federal, não apenas por um único ministro. “Duvido que Jucá queira isso. Se ele durou dois dias no Planejamento, vai resistir apenas à posse na presidência do Senado. É uma vidraça muito grande para alguém tão frágil”, desdenhou um adversário. “Ele pode estar negociando a volta para a Esplanada. Afinal, algumas pastas têm menos visibilidade que a presidência do Senado”, arriscou um aliado.


No Planalto, contudo, as movimentações de Jucá são vistas com cautela e desconfiança. Moreira Franco, além dos ministros da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, e da Casa Civil, Eliseu Padilha, apesar de elogiarem a capacidade política de Jucá, consideram-no muito “entrão”.

O grupo palaciano é unido e ligado a Temer desde que o presidente da República assumiu o comando do PMDB, em 2001. Faz parte desse grupo também Eunício Oliveira. Jucá é visto como alguém que chegou mais tarde à confraria, mas quer ter as mesmas garantias dos sócios remidos.

IMPEACHMENT

Neste cenário turbulento ainda tem Renan, a esfinge peemedebista, que surpreende até seus correligionários. “Não gosto de me explicar, prefiro que me decifrem”, afirmou ele, dias antes da votação final do impeachment de Dilma Rousseff. Renan deixará a presidência da Casa em 31 de janeiro de 2017. Em tese, deve voltar a ser líder da bancada. Mas há quem ache que os sinais inequívocos que encaminha ao Planalto e a enigmática frase “Tamo juntos (sic)”, proferida por ele na posse de Temer, signifique um aviso de que o presidente da República precisará afinar a parceria com o alagoano se quiser ter paz em seu mandato.


Renan cogitaria uma vaga na Esplanada. Não seria o Turismo, reservada para seu aliado, o deputado Marx Beltrão.

E hesita, em certos momentos, em cumprir o acordo firmado com Eunício de apoiá-lo na sucessão para a presidência da Casa. Apesar de ter o senador cearense como um aliado leal, Renan o considera muito independente e com capacidade para voos solo, caso consiga presidir a Casa. Especialmente por ter direito à reeleição no biênio 2019-2020. Por isso, não descarta a hipótese de apoiar Garibaldi Alves (PMDB-RN) para o cargo.

 

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