Ribeirão Preto, 27 - A prisão na última segunda-feira, 26, da maior liderança política da história de Ribeirão Preto (SP), o ex-prefeito e ex-ministro Antonio Palocci, foi ignorada pelos candidatos a prefeito do município paulista. Na prática, o cenário não mudou desde o início da campanha.
Pela primeira vez desde a eleição de 1992, quando estreou na prefeitura ribeirão-pretana, Palocci não vinha tendo sequer influência na disputa local. O foco dos principais candidatos é a Operação Sevandija, deflagrada em 1º de setembro pelo Ministério Público e pela Polícia Federal para a investigação de desvios de recursos públicos estimados em R$ 203 milhões.
Líder nas duas pesquisas de intenções de voto divulgadas até agora pelo Ibope, o vereador Ricardo Silva (PDT) se tornou o alvo dos candidatos que ocupam a segunda e terceira colocações nos levantamentos, respectivamente o deputado federal Duarte Nogueira (PSDB) e o juiz aposentado João Gandini (PSB). A PF e o Ministério Público não informam se Silva está sendo investigado oficialmente na operação, mas bastaram as iniciais "RS" surgirem em listas e que supostamente seriam de beneficiados de propina, para os ataques começarem.
Curiosamente, as listas eram anotações feitas em notas de R$ 2 recolhidas pela PF na residência de um empresário preso na operação. Por conta do pequeno espaço das notas, apenas iniciais aparecem na relação. O assunto consome grande parte do programa eleitoral de Nogueira no rádio e a totalidade do feito por Gandini no rádio e na televisão nesta terça-feira (27).
O tucano reproduz o áudio de acusações contra Silva veiculadas em emissoras locais e ainda o seu candidato a vice-prefeito, o promotor público Carlos Cézar Barbosa (PPS), ataca o adversário. "Ricardo Silva tem de dar explicações, porque as investigações da PF apontam a ligação dele", diz Barbosa.
Gandini, o outro adversário, pede que "Ricardo Silva não se faça de vítima, seja homem a assuma suas atitudes".
Silva destinou parte do tempo dos seus programas para se defender dos ataques. Ele nega acusações dos adversários e afirma que sempre foi oposição ao governo e à prefeita Dárcy Vera (PSD), investigados pela Operação Sevandija.
Entre os ataques feitos a Nogueira, o vereador e candidato do PDT relata que o nome do deputado federal foi citado na Operação Alba Branca, que investiga o desvio na merenda no Estado de São Paulo, bem como surgiu na lista de políticos que teriam recebido recursos da Odebrecht, investigada na Lava Jato. Como faz desde o começo da campanha, Nogueira também utilizou o seu vice e o promotor de Justiça para negar essas acusações.
Alheio ao tema, o único candidato interrogado na Operação Sevandija, Wagner Rodrigues (PCdoB), utilizou em seu programa de rádio uma declaração de apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pedindo voto para ele. Na televisão Lula ainda não apareceu.
Rodrigues tem como candidato a vice o advogado e funcionário público Fernando Tremura (PT), na primeira vez que o Partido dos Trabalhadores não encabeça uma chapa desde que foi fundado. Ainda na televisão, Rodrigues criticou o fechamento, pelo governo do Estado, de uma creche na Universidade de São Paulo (USP) para atacar Nogueira, do PSDB..