Há indícios, segundo investigadores, de que um dos destinatários finais do dinheiro seria o ex-marqueteiro do PT João Santana, responsável pelas campanhas eleitorais de Dilma Rousseff (2014 e 2010) e Luiz Inácio Lula da Silva (2006).
Os investigadores apontam que Palocci teria agido em favor da Braskem para aprovar leis que beneficiariam a empresa em pelo menos dois momentos: em 2009, quando era deputado federal pelo PT, e em 2013, quando atuava como consultor.
O petista foi detido temporariamente na segunda-feira, alvo da Omertà, 35.ª fase da Lava-Jato, sob suspeita de ter arrecadado R$ 128 milhões da Odebrecht em propinas ao PT, entre 2008 e 2013. Ele foi ouvido na quinta-feira, 29, por cerca de 4 horas pelo delegado Filipe Hille Pace e pela procuradora Laura Tessler. O ex-ministro negou irregularidades.
Os registros identificados pela perícia da PF são de entregas de dinheiro em espécie em endereços de duas empresas de publicidade e comunicação, em São Paulo, com a Braskem como uma das fontes de recursos. Os dados deletados estavam no mesmo arquivo de pagamentos da conta "Italiano", codinome atribuído a Palocci nas planilhas da Odebrecht. Nesses mesmos locais, estão os registros de pagamentos ordenados "por Marcelo Odebrecht" efetuados a "João Santana/Mônica Moura (Feira) e outros beneficiários ainda não identificados".
O material foi cruzado com planilha obtida em março, quando duas secretárias do "departamento de propinas" foram presas.
Nessa contabilidade de valores devidos e pagos para "Italiano", em outubro de 2013 estava registrado que do montante que ele tinha a receber havia um saldo de R$ 70 milhões. Até aquele ano, o uso dos recursos foi prioritariamente destinado a pagamentos à "Feira", referentes ao tema "Evento". No dicionário de códigos usado no Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, Feira era João Santana (referência a Feira de Santana, na Bahia, terra do marqueteiro), e Evento, campanha eleitoral.
Mônica e Santana são réus de processo da Lava-Jato, em Curitiba, e admitiram ao juiz Sérgio Moro terem recebido US$ 3 milhões da Odebrecht em conta secreta na Suíça, como pagamento de dívida da campanha presidencial do PT de 2010 - quando Dilma foi eleita pela primeira vez.
Defesa. Por meio de nota, a Braskem informou que desde 2015 contratou uma "investigação independente" e que "segue empenhada em elucidar eventuais fatos ilícitos e continuará cooperando com as autoridades competentes".
Palocci contesta ser o "Italiano" nas planilhas da Odebrecht. "A PF já atribuiu tal apelido a outros três indivíduos", afirmou por meio de nota. O ex-ministro informou ainda que a "ilação" de que ele "teria trabalhado para favorecer a conversão da MP 460 está em contradição com o fato de que o ex-ministro, quando deputado, votou contra a medida provisória". "Palocci não recebeu qualquer vantagem indevida ou ilícita."
A Odebrecht não comentou.