A última semana de campanha eleitoral expôs ao Brasil uma faceta da política que muitos eleitores não tinham conhecimento: a violência contra políticos. O atentado que matou um candidato a prefeito em Itumbiara e feriu o governador em exercício de Goiás, na quarta-feira, chamou a atenção para o cenário de uma disputa sangrenta que já vinha se desenhando desde o meio do ano.
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Atirador havia processado a prefeitura de Itumbiara (GO)Demanda para reforçar segurança aumentou nesta eleição, diz ministro da DefesaMinistro da Justiça afirma que atentado em Goiás foi ponto fora da curvaProcuradoria Eleitoral pede urgente inquérito contra milícias no RioFilhos de candidato levam tiros durante campanha no Vale do Rio DoceApenas na quarta-feira foram registrados pelo menos três atentados. Durante uma carreata em Itumbiara, no Sul de Goiás, o candidato a prefeito José Gomes da Rocha (PTB), conhecido como Zé Gomes, foi morto por um atirador, que também atingiu o vice-governador José Eliton (PSDB), que estava no exercício do governo com a ausência de Marconi Perillo (PSDB).
No mesmo dia, em Santa Catarina, o candidato a prefeito de Santa Cecília João Rodoger de Medeiros (PSD) sofreu um atentado, mas não se feriu. O carro do político foi alvejado: três balas acertaram o para-brisa e duas, o capô.
No começo da semana houve tentativas de assassinato de candidatos no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Norte. O candidato a vereador do Rio Marcos Vieira Souza (PP), presidente da Portela, foi assassinado a tiros na segunda-feira dentro do seu comitê de campanha, em Oswaldo Cruz, na Zona Oeste. Ele era policial licenciado para fazer campanha.
Também na segunda-feira, o vereador Manoel Clementino do Carmo (PMDB), que tentava a reeleição em Serrinha dos Pintos (RS), foi morto a tiros durante evento político. Ele chegou a ser socorrido no Hospital de Pau dos Ferros mas não resistiu.
Foram ainda registrados atentados e homicídios contra candidatos em Minas Gerais, São Paulo, Ceará, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Maranhão, Pernambuco, Mato Grosso, Rondônia, Goiás, Paraná, Bahia, Acre e Piauí.
O estado mais violento é o Rio de Janeiro, onde os casos vinham ocorrendo até mesmo antes da campanha. Desde novembro de 2015, 15 políticos foram assassinados na Baixada Fluminense. Somente em Duque de Caxias morreram três pré-candidatos a vereador. A polícia do estado, porém, que investiga os crimes, por enquanto fala em motivação política só para dois casos.
Clima de faroeste
Alguns dos casos, como o do candidato a vereador no Guarujá (SP) Cerciran dos Santos Alves (PSDB), o Celso do Transporte, ganharam contornos quase de faroeste. No fim de agosto, ele foi morto com 15 tiros perto do seu comitê de campanha, dentro do seu carro. No atentado foram disparados mais de 30 tiros. O assassinato ocorreu quando ele saía de um bufê de sua propriedade.
No Ceará, pelo menos um candidato morreu e um foi baleado. Em agosto, o inspetor de polícia José Cláudio Nogueira, que era candidato a vereador em Quixeramobim, foi executado com sete tiros em Senador Pompeu. O candidato a vice-prefeito de Cairús Lourenço Oliver Sales (PTdoB) sofreu tentativa de homicídio ao levar dois tiros.
Em Caucaia, quem foi atingido foi o motorista do carro de som do candidato a prefeito Hipolito Indio Guimarães Neto (PTC). "Atentado à democracia" O líder do PTB na Câmara dos Deputados, Jovair Arantes (GO), classificou como “atentado contra a democracia” o assassinato do candidato do PTB à prefeitura de Itumbiara, José Gomes Rocha, na quarta-feira. Ele testemunhou o crime. “O que aconteceu foi uma barbaridade, um atentado contra a democracia, contra os sonhos da cidade, contra a família de Itumbiara, contra as pessoas da região”, afirmou.
Segundo ele, a carreata na qual ele e Rocha participavam era o primeiro grande ato público da campanha do candidato do PTB. “Do nada surgiu esse rapaz. Ele ia matar todos nós, se não fosse um herói chamado Vanilson (Rodrigues, cabo da Polícia Militar) que nos salvou”, contou. Rodrigues trocou tiros com o agressor, identificado como Rogério, que era funcionário da prefeitura,e o matou, mas também acabou baleado e morreu. O vice-governador de Goiás e secretário da Segurança do Estado, José Eliton, foi atingido no abdômen.
Arantes afirmou ainda que o autor dos disparos era um “adversário político” do candidato na região. Gomes havia sido prefeito duas vezes. Ele foi um dos 38 deputados que votaram contra a abertura do processo de impeachment de Fernando Collor de Mello na Câmara dos Deputados, em 1992..