A eleição mais pulverizada da história de Belo Horizonte, com 11 candidatos a prefeito, se converteu nesse domingo, nas urnas, no pleito com maior desinteresse da população desde 1996, último dado disponível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Foram 417.357 eleitores que deixaram de votar, que representam 21,66% do eleitorado. O índice foi maior do que o nacional, que ficou em 17,58%. Para cientistas políticos, o resultado mostra uma grande alienação do eleitorado, fruto do descontentamento com a política.
Em 2012, quando o prefeito Marcio Lacerda (PSB) foi reeleito, 18,88% dos eleitores não foram votar. Na ocasião, 5,7% deixaram o voto em branco e 9,1% anularam. Em 2008, foram 16% de abstenções, 6% de votos brancos e 8% nulos. Em 2004, 2000 e 1996, a ausência foi, respectivamente, de 15%, 14,1% e 15,9%.
Para o cientista político da UFMG Carlos Ranulfo Melo, não há surpresa em um número tão alto de abstenção. Dois fatores, segundo ele, contribuíram para esse distanciamento maior. O primeiro é o desgaste da classe política provocado pela Operação Lava-Jato e outras investigações de corrupção. O outro são as novas regras da campanha eleitoral, que trouxeram um processo mais curto e com menos dinheiro. “Você enxugou o tempo de TV, a campanha e o dinheiro, então chamou menos a atenção da população. Teve gente que nem notou que teve campanha e isso acabou favorecendo o distanciamento do eleitor”, afirma o especialista.
OBRIGAÇÃO Para Ranulfo, os votos brancos e nulos podem ser de protesto ou de alheamento. “Pode ser que o eleitor olhe e fale ‘isso não me representa’ ou mesmo ter aquele que não está nem aí, vai lá porque é obrigado ou nem vai”, disse. O segundo turno, acredita, pode atrair mais a atenção em BH por serem dois candidatos com o mesmo tempo de campanha. “Agora vai ser mais emocionante, como se a campanha estivesse começando. Pode ser que com isso aumente o comparecimento”, disse.
Na avaliação do sociólogo e cientista político pela Unicamp Rudá Ricci, o vácuo na votação ocorre porque o eleitor não se vê representado nos partidos. “Foi uma situação nacional. Nos últimos três anos, fomos achincalhando as legendas e quem mais destruiu as imagens dos partidos foram eles mesmos. Eles se autodestruíram”, afirmou. Ele avalia que nenhum partido sai fortalecido com esse índice de abstenção. “A média das capitais foi de 24%, já passou a média histórica que era abaixo de 20%. Somando brancos e nulos temos 40% nos grandes centros urbanos. É algo inusitado, quase a metade dos eleitores afirmando que não querem votar em ninguém.”
Para o sociólogo, o sistema político está entrando em colapso e as consequências são várias. Uma delas, perceptível no pleito, segundo Ricci, é o sucesso dos políticos outsider. “O vereador mais votado de São Paulo é o (Eduardo) Suplicy, um político que não faz parte da ordem nem dentro do PT. Em BH, a campeã de votos é Áurea Carolina (PSOL), uma mulher, negra e feminista que nunca foi política. E, no Rio, o mais votado é um fascista outsider (Carlos Bolsonaro, do PSC). Parte da população cravou o voto fora da ordem da política brasileira”, afirmou.
Em 2012, quando o prefeito Marcio Lacerda (PSB) foi reeleito, 18,88% dos eleitores não foram votar. Na ocasião, 5,7% deixaram o voto em branco e 9,1% anularam. Em 2008, foram 16% de abstenções, 6% de votos brancos e 8% nulos. Em 2004, 2000 e 1996, a ausência foi, respectivamente, de 15%, 14,1% e 15,9%.
Para o cientista político da UFMG Carlos Ranulfo Melo, não há surpresa em um número tão alto de abstenção. Dois fatores, segundo ele, contribuíram para esse distanciamento maior. O primeiro é o desgaste da classe política provocado pela Operação Lava-Jato e outras investigações de corrupção. O outro são as novas regras da campanha eleitoral, que trouxeram um processo mais curto e com menos dinheiro. “Você enxugou o tempo de TV, a campanha e o dinheiro, então chamou menos a atenção da população. Teve gente que nem notou que teve campanha e isso acabou favorecendo o distanciamento do eleitor”, afirma o especialista.
OBRIGAÇÃO Para Ranulfo, os votos brancos e nulos podem ser de protesto ou de alheamento. “Pode ser que o eleitor olhe e fale ‘isso não me representa’ ou mesmo ter aquele que não está nem aí, vai lá porque é obrigado ou nem vai”, disse. O segundo turno, acredita, pode atrair mais a atenção em BH por serem dois candidatos com o mesmo tempo de campanha. “Agora vai ser mais emocionante, como se a campanha estivesse começando. Pode ser que com isso aumente o comparecimento”, disse.
Na avaliação do sociólogo e cientista político pela Unicamp Rudá Ricci, o vácuo na votação ocorre porque o eleitor não se vê representado nos partidos. “Foi uma situação nacional. Nos últimos três anos, fomos achincalhando as legendas e quem mais destruiu as imagens dos partidos foram eles mesmos. Eles se autodestruíram”, afirmou. Ele avalia que nenhum partido sai fortalecido com esse índice de abstenção. “A média das capitais foi de 24%, já passou a média histórica que era abaixo de 20%. Somando brancos e nulos temos 40% nos grandes centros urbanos. É algo inusitado, quase a metade dos eleitores afirmando que não querem votar em ninguém.”
Para o sociólogo, o sistema político está entrando em colapso e as consequências são várias. Uma delas, perceptível no pleito, segundo Ricci, é o sucesso dos políticos outsider. “O vereador mais votado de São Paulo é o (Eduardo) Suplicy, um político que não faz parte da ordem nem dentro do PT. Em BH, a campeã de votos é Áurea Carolina (PSOL), uma mulher, negra e feminista que nunca foi política. E, no Rio, o mais votado é um fascista outsider (Carlos Bolsonaro, do PSC). Parte da população cravou o voto fora da ordem da política brasileira”, afirmou.