Jornal Estado de Minas

"Estou pronto para ser prefeito", diz João Leite em entrevista ao EM


“Abrir a porta da prefeitura na Avenida Afonso Pena. Escancará-la”. Esse será o primeiro ato de governo do candidato João Leite (PSDB), caso seja eleito prefeito de Belo Horizonte. Em entrevista exclusiva ao Estado de Minas, o deputado estadual afirmou ainda que pretende conversar com o prefeito Marcio Lacerda (PSB), pois o interesse da cidade vem em primeiro lugar. No primeiro turno, Lacerda – que apoiou a candidatura de seu vice, Délio Malheiros (PSD) – havia declarado que o PSDB era seu adversário nas eleições. Ex-goleiro do Atlético Mineiro, João Leite disse ainda que “administrar um clube não tem nada a ver com administrar uma cidade”, numa indireta ao oponente na disputa pela prefeitura, o ex-presidente do Galo Alexandre Kalil (PHS). Ainda em referência a Kalil, o tucano afirmou que um gestor público não pode ser um empresário. “O gestor público não compete.
Ele acolhe”, disse o candidato, que, depois de 45 dias de campanha no primeiro turno, revelou ainda que a falta de emprego é a principal reclamação da população de BH.


Como será sua estratégia de campanha no segundo turno?
Vou buscar os apoios daqueles que entendemos que têm um compromisso com a cidade, um compromisso com a verdade, que querem efetivamente trazer propostas, melhorar Belo Horizonte. Foi pensando nisso que já fizemos esse entendimento com Rodrigo Pacheco (PMDB). Entendemos que ele fez um primeiro turno trazendo novidades na discussão sobre a cidade. Estamos com mais umas conversas agendadas, mas sempre com essa linha e com todos esses dados que a eleição trouxe: muita gente que não votou, que anulou voto, com voto em branco.

O prefeito Marcio Lacerda disse no início da campanha que o PSDB é adversário nesta eleição. O senhor vai buscar o apoio dele?

Tenho um respeito muito grande pelo prefeito. A cidade é algo muito forte para nosso grupo político, que não é só o meu partido, mas outros partidos e, neste momento, também o PMDB. Foi assim que nós sempre investimos em BH até quando tínhamos um prefeito que era de oposição, o (Fernando) Pimentel.
Respeitamos o prefeito Marcio Lacerda. A gente sente que teve muita coisa que foi feita em BH, na área de infraestrutura. Acima de qualquer palavra está a cidade de BH. Em algum momento, vamos conversar, terei que conversar com ele. Ele tem uma memória de BH. No nosso grupo político, o sentimento em relação a ele é de carinho. Ele é homem de bem, fez um esforço pela cidade.

O senhor já tem nomes para o secretariado que formará caso seja eleito?
Na minha trajetória, tenho uma máxima que é “viver cada dia da minha emoção”. A minha emoção hoje é outra.
Estou costurando algo que é o futuro da minha cidade. Estou totalmente dedicado aos entendimentos, conversando com segmentos da sociedade e, claro, falando das minhas propostas.

No segundo turno, o senhor adotará alguma ação para frear votos de atleticanos no seu adversário Alexandre Kalil, ex-presidente do Galo?

Belo Horizonte está acima de tudo isso. Há 17 mil crianças que estão fora da creche. É por causa disso que me movimento, é isso que me anima e me consome. Não quero pensar nessas outras coisas que vão tirar minha atenção do principal. Tenho o compromisso de apresentar minhas propostas e governar a cidade com seriedade.

O senhor tem falado na construção de alianças, enquanto Kalil adota a posição do “não político”. Toda vez que menciona seu grupo político não dá armas para seu adversário reforçar esse discurso?
É preciso ter entendimento com várias pessoas. Uma cidade. Como historiador, sou apaixonado pelas palavras e, apesar de estar desgastada, política é uma palavra tão bonita. É isso que penso o tempo todo.
Nasci numa vila, experimentei uma grande transformação social. Cumpri algo que era um sonho da infância, uma carreira longa como atleta. Já há 23 anos exerço mandatos, já fui gestor municipal e estadual. Estou pronto. Não preciso ficar nessa guerra de eu vou querer essa ajuda daqui ou dali. Sei onde estou pisando. Foram muitos anos que deram essa experiência.

Como avalia o Kalil como presidente do Atlético Mineiro?
Na verdade, acompanhei mais a gestão do pai dele (Elias Kalil administrou o clube de 1980 a 1985). O pai dele foi meu presidente. Não sei como se deu a gestão dele, não posso dizer absolutamente nada. Eu não sou conselheiro do clube, não tenho informações, não tenho os dados.
Sou um homem de orçamento, um fiscalizador de orçamentos há mais de 20 anos. Quando voto num orçamento, numa gestão, tenho que estar embasado. Não vou emitir a minha opinião sobre algo que não sei. Posso falar da minha atuação como atleta. Tive como atleta uma atitude correta, legal, prestei conta de cada centavo que recebia do clube. Nunca aceitei nenhum recurso por fora. Declarei no Imposto de Renda tudo o que recebi como atleta.

Administrar um clube é predicado para administrar uma cidade?
Não tem nada a ver com uma cidade. É muito diferente. Uma cidade são as pessoas. Um clube tem quase um viés de empresa, que busca recurso e compete com outros clubes. Um gestor público não compete com ninguém, ele não pode ser um empresário, que, ao terminar o ano, vai apresentar o superávit do meu mandato e dizer que tem guardado tanto de dinheiro, mas tem crianças fora da creche e que faltou remédio. O gestor público não compete. Ele acolhe.

A maior parte da carreira do senhor foi como legislador. O que o credencia como um gestor municipal?
Fui gestor de uma super secretaria (Desenvolvimento Social e Esportes), que praticamente criei. Aécio Neves entregou para mim 10 pastas e eu criei. Cuidava da política de assistência social, política do trabalho, criança e adolescente, idoso, da mulher, esporte, 14 conselhos, Ademg (Administração de Estádios do Estado de Minas Gerais), Fundação do Trabalho do Estado de Minas Gerais. Fechei as portas das últimas três Febems de Minas Gerais.

No Rio de Janeiro, os candidatos Freixo e Crivella negociam redução do tempo de TV por uma questão de custos. O senhor está disposto a adotar a mesma medida junto com Kalil?
Se for possível para as emissoras de TV, estou de acordo que o programa eleitoral seja de cinco minutos em vez de 10 minutos.

Qual será seu primeiro ato de governo?
Abrir a porta da prefeitura da Avenida Afonso Pena. Escancará-la. Meu pai foi guarda do Juscelino Kubitschek. Na minha cabeça está Juscelino na porta, conversando com as pessoas. Quero abrir para pessoas entrarem. Quero que a entrada seja uma galeria, com uma exposição permanente, como assim também deve ser o gabinete do prefeito, com obras dos artistas de Belo Horizonte.

O atual prefeito sofreu oposição bastante combativa de movimentos sociais e culturais, que acabou culminando no “Fora, Lacerda”. Como o senhor pretende dialogar com esses grupos?
Quero conversar o tempo todo com eles, chamá-los na prefeitura. Talvez não caiba todo mundo na prefeitura, mas representantes. Lei estadual determina que toda reintegração de posse tenha um deputado. Fui o representante da Assembleia historicamente. Já fiz acordo de desocupação escrito no colo, debaixo de 40 graus, na sombra da árvore. Vou conversar com as pessoas. Eu gosto.

Qual será a sua grande defesa?
As crianças. Há 17 mil crianças fora da creche, não pode ter nenhuma. A maioria das mães tem que trabalhar para sustentar a casa. Algumas levam para o trabalho, outras deixam o bebê com irmãos de nove, 10 anos, e aí temos vários acidentes domésticos.

Houve uma grande renovação na Câmara Municipal. Esse desenho está interessante para sua gestão? O senhor já está buscando apoios?
Nunca tinha visto no Parlamento uma mudança como essa. Nunca vi nos meus sete mandatos tanta gente que não votou e uma mudança histórica no Parlamento. Isso me dá esperança, há muitas matérias importantes para a câmara discutir. Vou conversar com os parlamentares e já tenho conversado com alguns. Isso faz parte da minha vida.

Nas suas andanças pela cidade, qual é o principal pedido da população de BH?
Emprego. É muito triste. Isso é um negócio muito sério. A gente vai pela rua e vão enfiando currículo, bilhete no seu bolso. Não posso colocar um Move na porta do comércio da Pedro II. Numa reunião na Rua Padre Pedro Pinto (Venda Nova), um empresário que tem 4 mil funcionários falou conosco que foi dormir e, no outro dia, tinha um Move na porta. Ele reclamou que não entrava mercadoria nem clientes.

Mas o que a prefeitura pode fazer para reduzir o desemprego?
A prefeitura não pode ser uma competidora do comércio de BH, do empreendedor de BH. Tem gente que fala que precisamos de um empresário na prefeitura. Tomara que não queira competir com as empresas, porque a cabeça muitas vezes é para o lucro. E não tem que ter lucro, mas facilitar a vida das pessoas. Às vezes, o comerciante reclama que comprou um terreno grande para fazer estacionamento na frente ou expor o produto e não pode, então eles tomam uma multa de 10 mil reais. E como é o lucro de um empresário desse? A prefeitura não pode atrapalhar, tem que facilitar, lutar pela segurança, que é outro problema do comércio. Não pode continuar assim, gente.

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