Brasília – No período em que é acusado de se beneficiar dos desvios de recursos da Petrobras, segundo investigações da Operação Lava-Jato, o ex-presidente da Câmara e deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB) movimentou cerca de R$ 25,2 milhões na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) entre 2009 e 2014, sendo a maior parcela em compras e vendas de papéis da estatal petrolífera e da OGX, empresa de óleo e gás que pertencia ao empresário Eike Batista. Os números constam de extrato de movimentação e negociação BMF&Bovespa encaminhado à 6ª Vara Federal Cível no Paraná, que decretou a indisponibilidade de R$ 220 milhões do peemedebista – incluindo ativos na bolsa de valores – em uma ação de improbidade administrativa movida contra ele pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
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Série de reportagens conta como Cunha acumulou riqueza e influência até terminar na cadeiaMenção a filho em pedido do MPF preocupa Cunha na prisão Encontro sem intimidade entre Eduardo Cunha e esposa na prisãoDefesa de Cunha protocola reclamação no STF pedindo a soltura do peemedebistaCunha entra com pedido de liberdade; advogado não descarta delaçãoDefesa pede liberdade de Eduardo Cunha a tribunal em Porto AlegreEx-aliados não querem mais conversa com Eduardo CunhaMesmo cassado, Eduardo Cunha mantém seis aliados na gestão TemerOs dados da Bovespa mostram a atuação do “investidor” Cunha, que, segundo especialistas, teve prejuízo estimado de R$ 70 mil na aplicação nos papéis da estatal petrolífera. Segundo especialistas ouvidos pela reportagem, chamou a atenção o fato de que, em suas movimentações no Brasil, o ex-deputado renovava constantemente as opções de compra e de venda da Petrobras, indicando que deixou o dinheiro na bolsa apenas para ficar “girando”, sem ter ganhos ou perdas muito grandes.
Em suas contas secretas identificadas pela Suíça, por outro lado, o peemedebista foi classificado como investidor de “perfil agressivo”, segundo o banco Merryl Lynch, onde Cunha abriu offshores. O dinheiro no exterior era aplicado por Cunha na bolsa de Nova York, onde, em três meses, ele teve um lucro de US$ 289 mil com a compra e venda de ações da Petrobras.
As operações foram feitas no primeiro semestre de 2009, quando as ações da estatal ainda sofriam grande alavancagem no mercado de capitais por causa dos sucessivos anúncios de descobertas de óleo na camada do pré-sal.
No Brasil, foram adquiridos pelo ex-parlamentar R$ 490 mil em ações da OGX em dezembro de 2009, quantia que foi quase toda vendida em 2012. Cunha vendeu 21,2 mil das 28,4 mil ações que possuía.
O peemedebista sempre rechaçou envolvimento em irregularidades. A reportagem tentou contato com a defesa de Cunha na noite de sexta-feira para comentar sobre as movimentações financeiras de Cunha, mas os advogados não foram localizados. Os dados da Bovespa encaminhados à Justiça Federal consideram apenas movimentações e negócios em nome do deputado cassado de janeiro de 2009 a 16 de junho de 2016.
RECURSO A defesa do ex-presidente da Câmara entrou no Supremo Tribunal Federal (STF) com um pedido de liberdade no fim da tarde de sexta-feira. Os advogados alegam que o juiz federal Sérgio Moro, responsável pela prisão, descumpriu uma decisão da Corte.
Punição para Gim
O juiz Sérgio Moro manteve a pena do ex-senador Gim Argello (ex-PTB-DF) em 19 anos de prisão pelos crimes de corrupção passiva, de lavagem de dinheiro e de obstrução da Justiça. Gim é acusado de receber propina para proteger empreiteiros em CPIs da Petrobras de 2014, numa das quais exercia o cargo de vice-presidente. Além da prisão, foram imputados a ele o pagamento de multa e perda de bens no valor de R$ 14,74 milhões. Ele poderá pedir progressão para o regime semiaberto depois de cumprir três anos de prisão. Até o momento, ele cumpriu seis meses.
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