Londres, 24 - Às vésperas do segundo turno das eleições municipais, o jornal britânico Financial Times traz hoje uma grande reportagem com o título: "Evangélicos do Brasil empurram a política para a direita". Com uma foto do senador Marcelo Crivella, o periódico diz que ele é o grande favorito para se tornar o prefeito do Rio de Janeiro, citado como uma das cidades mais racialmente e socialmente diversas das Américas.
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Marcelo Crivella muda resposta à revista que estampa na capa foto dele presoCrivella nega que seu nome esteja envolvido em investigações da Lava JatoInquéritos sobre detenção de Crivella somem de arquivo da polícia, diz revistaEm vídeo, Crivella ataca homossexuaisAinda favorito, Crivella sofre desgasteA reportagem apresenta a avaliação de Jean Wyllys sobre o tema, descrito como um parlamentar socialista de esquerda e único membro abertamente gay do Congresso brasileiro: "Não é suficiente para eles evangelizar - eles também querem influenciar a lei".
A bancada evangelista tornou-se tão influente, de acordo com o FT, que desempenhou um papel fundamental no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff em agosto. São 199 assentos do bloco de um total de 513 na Câmara dos Deputados. O jornal lembra que eles se juntaram a outras bancadas conservadoras, como a da segurança pública e dos ruralistas, para formar o que o Brasil já conhece como os três "Bs": bíblia, boi e bala.
O veículo britânico salienta que o impeachment em si foi conduzido por um dos líderes evangélicos mais proeminentes do Congresso, Eduardo Cunha, então presidente da Câmara. Na semana passada, ele - até então conhecido por defender os "direitos dos heterossexuais" e o endurecimento das leis de aborto para vítimas de estupro - foi preso no escândalo de corrupção da Petrobras.
A ascensão de políticos evangélicos, conforme o FT, reflete, em parte, mudanças da demografia brasileira. Enquanto o País ainda abriga a maior população mundial de católicos, o censo de 2010 mostrou que o número de evangélicos tinha subido de 15,4% de uma década antes para 22,2% naquele ano.
O Financial Times avalia ainda que o descontentamento generalizado com a classe política e um número crescente de abstenções e votos nulos jogam a política nas mãos de grupos altamente organizados, tais como a igreja. Consultado, o cientista político da Universidade Insper em São Paulo Carlos Melo disse que a ascensão das igrejas "mostra uma crise de representação que está afetando a política brasileira em geral.
O periódico comenta ainda que, dada a fragmentação da política doméstica, que conta com 35 partidos oficialmente registrados e que têm diferentes pontos de vista, os governos são normalmente feitos de coalizões amplas que ajudam a manter o radicalismo contido. "Acho que a propaganda contra Crivella é realmente muito tendenciosa", disse Marco Aurélio, da FGV no Rio. "Por que um candidato com um fundo evangélico não pode governar no Brasil?"
Além disso, a publicação cita que Crivella conta com apoio de 46% da população do Rio, enquanto o rival de esquerda, Marcelo Freixo, detém 29%. Para manter essa preferência, o FT destaca que Crivella tem procurado se distanciar de suas declarações mais extremas, como a de que religiões africanas foram baseadas em "maus espíritos". "Esta é uma afirmação controversa no Brasil, onde metade da população tem algum sangue africano."
Por fim, o FT explica que Crivella tem se desculpado pelo que escreveu, dizendo que o livro (em que mostra algumas ideias mais radicais) era o trabalho de um jovem missionário cuja imaturidade o levou a cometer "erros lamentáveis". O livro foi publicado quando ele tinha 42 anos.