Os cerca de 1,9 milhão de eleitores de Belo Horizonte voltam hoje às urnas para escolher se querem fazer do ex-presidente do Atlético Alexandre Kalil (PHS) ou do deputado estadual João Leite (PSDB) o novo prefeito da capital mineira. Apesar de ambos terem apoiado a eleição do prefeito Marcio Lacerda (PSB), os dois agora dizem ser portadores da mudança nos rumos da gestão para os belo-horizontinos. A campanha chega ao fim com um cenário de incerteza, depois de 46 dias de muita tensão, troca de acusações e ofensas entre os candidatos, que partiram até para as brigas judiciais.
Nos últimos dias da disputa, João Leite e Kalil, que já serviram ao mesmo time de futebol e até pouco antes da campanha eram amigos, levaram a briga ao extremo. Os debates do segundo turno e as propagandas de rádio e televisão se transformaram em palco para troca de ofensas. Em vez das propostas, os oponentes passaram a explorar as mazelas dos rivais.
Concorrendo entre 11 candidatos, Kalil e João Leite chegaram ao segundo turno na eleição com o maior número de abstenções e votos brancos e nulos dos últimos anos. O tucano teve 395.942 votos, ou 33,40% dos votos válidos, contra 26,56%, ou 314.845 votos de Kalil. Somadas, as opções de não comparecer às urnas, votar em branco ou anular foram a escolha de cerca de 741 mil eleitores, quase 40% do total, segundo dados do Tribunal Regional Eleitoral de Minas (TRE-MG).
A briga voto a voto é reflexo de uma campanha inicialmente pulverizada e sem favoritos, diferentemente do que ocorreu nos últimos pleitos de Belo Horizonte, quando a disputa entre os campos do PSDB e do PT polarizou a eleição. No segundo turno, Kalil conseguiu passar à frente do adversário, mas, depois de ser alvejado com críticas e denúncias do tucano, os dois atingiram o empate técnico nas recentes pesquisas eleitorais.
Na véspera de os belo-horizontinos voltarem às urnas, Kalil (PHS) mantinha ligeira vantagem sobre João Leite (PSDB), segundo pesquisa eleitoral divulgada ontem pelo instituto Datafolha. Se considerados apenas os votos válidos, Kalil tem 52% dos votos e João Leite, 48%. Já nos votos totais, o ex-cartola tem 37% dos votos e o tucano, 34%. Brancos e nulos somam 19% e 10% dos entrevistados não soube ou não respondeu. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos e o nível de confiança do levantamento de 95%. Na última pesquisa Datafolha, Kalil teve 34% das intenções e João Leite, 31%.
Apoio
João Leite levou o apoio do terceiro colocado no primeiro turno, o deputado federal Rodrigo Pacheco (PMDB), que teve 10% dos votos. Também se aliou ao deputado Sargento Rodrigues (PDT), que ficou em nono lugar com 2,88% da preferência. No penúltimo dia de propaganda na TV, o senador Aécio Neves (PSDB) apareceu no programa do deputado e, depois de ser alvejado por Kalil, partiu para cima do oponente do candidato tucano. Já Kalil foi apoiado pelo deputado federal Marcelo Álvaro Antônio (PR), que terminou a disputa do primeiro turno em 10º lugar. Assim que passou para a disputa final, o empresário disse que não queria caciques em sua campanha, focada no discurso de ser contrário à política.
Embora tenha sido a primeira eleição em BH sem a figura dos padrinhos políticos como condutores das campanhas, as estrelas dos partidos não estiveram ausentes. Boa parte da estratégia dos dois lados foi explorar os antigos aliados de cada um como forma de tentar espantar os votos do outro. Kalil exibiu a aliança de 2008 entre PT e PSDB para eleger o prefeito Marcio Lacerda (PSB). Já os tucanos mostraram que o empresário pediu votos para Lacerda em 2012.
EX-ALIADO Usado contra Kalil e João Leite, o prefeito Marcio Lacerda (PSB) não apoiou ninguém, depois de ver seu vice-prefeito, Délio Malheiros (PSD), amargar um quinto lugar no primeiro turno. Quem também ficou de fora do segundo turno foi o PT, que teve o pior resultado de sua história, elegendo apenas dois vereadores e ficando em quarto lugar na sucessão municipal.
Superada a fase dos apoios, as campanhas foram sustentadas por denúncias diárias. João Leite passou a exibir ex-funcionários de Kalil dizendo que não tinham recebido direitos trabalhistas, como o FGTS e o INSS. O empresário rebateu com outros empregados falando bem dele e associou a imagem de João Leite à de defensor de bandidos.
Além de Belo Horizonte, os eleitores de Contagem (Região Metropolitana de BH), Montes Claros (Norte) e Juiz de Fora (Zona da Mata), votam hoje para escolher seus prefeitos. Em Contagem, a disputa é entre o atual prefeito Carlin Moura (PCdoB) e o ex-secretário Alex de Freitas (PSDB). Em Montes Claros, o prefeito afastado Ruy Muniz (PSB), cuja candidatura está sub judice, concorre com o ex-deputado Humberto Souto (PPS). Já em Juiz de Fora a briga é entre o prefeito Bruno Miranda (PMDB) e a deputada federal Margarida Salomão (PT).