Jornal Estado de Minas

João Leite, o goleiro que virou deputado

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 Atrasado para um encontro de campanha com professores, o candidato João Leite (PSDB) desceu do carro e se dirigia para o local da reunião quando foi parado na rua por um senhor humilde. Apesar da pressa dos assessores – preocupados com a agenda cheia dos últimos dias de campanha –, João Leite pediu paciência e se voltou para o homem de cabeça branca que queria sua atenção. Ouviu reclamações sobre os postos de saúde e sobre a demora nas filas para marcar exames médicos. Trocou algumas palavras e se despediu, seguindo para o evento da campanha.

“Precisamos sempre do diálogo com a população, saber ouvir suas demandas e pedidos, conhecer suas realidades”, disse João Leite em um de seus programas eleitorais. A estratégia de se apresentar aos eleitores como um homem do diálogo e com experiência política deu certo no primeiro turno. Na ponta das pesquisas desde o início, o tucano evitou bolas divididas e sofreu poucos ataques dos adversários. Venceu com 33% dos votos válidos. “Sou um cara mais da defesa”, explicou se referindo à carreira como goleiro e sua distância, até então, de temas polêmicos na campanha.

No segundo turno, a estratégia mudou.

Quando o embate se tornou mais duro com o candidato Alexandre Kalil (PHS) e as pesquisas indicaram uma disputa acirrada, o goleiro teve que aprender a atacar. O estilo pacífico deu lugar ao enfrentamento e sua campanha se voltou para a desconstrução do adversário. “É normal ter um segundo turno mais intenso, porque temos um contra o outro”, disse João Leite.

Aos 61 anos, casado e pai de três filhos, o tucano disputa pela terceira vez a Prefeitura de Belo Horizonte. Sua trajetória política começou em 1992, no mesmo ano em que se aposentou dos gramados. Eleito vereador pelo PSDB, João Leite foi nomeado secretário de Esporte pelo prefeito Patrus Ananias (PT) – numa época que ainda não havia a rivalidade intensa entre as duas legendas.

A passagem pela Câmara Municipal e pela Secretaria de Esportes foi rápida e, em 1994, ele se elegeu deputado estadual. Seria o primeiro de seis mandatos na Assembleia. Como parlamentar, João Leite se engajou na luta pelos direitos humanos e presidiu a CPI do Sistema carcerário.

Apelido que incomoda

Sua atuação no Legislativo na década de 1990 rendeu críticas de grupos que o chamaram de “deputado defensor de bandido”.

O apelido, que o parlamentar admite causar irritação, foi muito usado por adversários de João Leite durante a eleição para a prefeitura. “Fico indignado quando alguém fala isso. Chegaram a soltar presos para me matar”, rebate.

Em 2000, quando se candidatou pela primeira vez para a prefeitura, João Leite levou a disputa para o segundo turno contra Célio de Castro (que tentava a reeleição), mas foi derrotado por uma diferença de 9% dos votos válidos. Ele tentou novamente em 2004, dessa vez pelo PSB, mas foi derrotado no primeiro turno por Fernando Pimentel (PT).

Durante o governo Aécio Neves (PSDB), João Leite assumiu a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social e do Esporte entre 2003 e 2004. Como secretário, criou o Conselho Estadual do Idoso e estimulou o esporte nas periferias. Em 2006 voltou para a Assembleia, participou das comissões de Defesa do Consumidor e do Meio Ambiente, além de presidir a Comissão de Segurança Pública.

Integrante da bancada evangélica, João Leite se envolveu em polêmica quando criticou o chamado “kit gay”, elaborado para combater a homofobia nas escolas. “Esse é um tema que não me agrada discutir. Quero criar meu filho para se casar com uma mulher.

Quero criar minhas filhas para se casarem com um homem. É meu direito. É nosso direito ter nossa fé, que tem um livro, a Bíblia, que combate o homossexualismo”, afirmou o tucano em 2011.

Neste ano, questionado sobre sua posição em relação à comunidade LGBT, João Leite explicou que suas posições e crenças não vão influenciar sua maneira de governar a cidade. “Não permitirei que ninguém sofra discriminação ou preconceito. Serei um defensor do modo de vida que a pessoa quiser viver”, disse em entrevista ao Estado de Minas.

Nos campos

Filho de policial civil e de funcionária pública, João Leite cresceu na Vila Oeste, bairro humilde da região Noroeste da capital mineira, e desde cedo se destacou no futebol. Aos 21 anos, em 1976, estreou pelo Atlético – clube que defendeu ininterruptamente nas duas décadas seguintes – e se tornou o atleta que mais vestiu a camisa alvinegra na história – 684 jogos. O sucesso debaixo das traves foi imediato e ele se tornou destaque em uma das melhores equipes do clube mineiro, performance que o levou, em 1980, à Seleção Brasileira.

Durante o segundo turno da eleição, no entanto, com embates cada vez mais agressivos entre o João Leite e Kalil, até sua trajetória no gol do Galo foi questionada: “Se essa agressividade fosse contra Nunes (ex-atacante do Flamengo), não tinha tomado aquele gol”, disse Kalil, se referindo ao terceiro gol que levou do time carioca na decisão do Campeonato Brasileiro de 1980, quando perdeu o título. O tucano rebateu dizendo que sua carreira no clube merecia respeito. “Você quer desmoralizar minha carreira, mas ela foi digna e respeitada por muitos”, respondeu João Leite.

Em 2016, as negociações entre o senador Aécio Neves e o prefeito Marcio Lacerda (PSB) para manter a parceria entre as legendas e lançar um candidato único fracassaram e João Leite foi indicado pelos tucanos para disputar a Prefeitura de Belo Horizonte.

Em julho, foi confirmado por unanimidade pelos 208 delegados do PSDB, e afirmou estar pronto para assumir o maior desafio de sua vida. “Quero vestir a camisa de um time formado por milhões de pessoas de todos os times, de todos os credos, raças e ideologias, um time chamado Belo Horizonte”, disse João Leite.

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