Em visita aos moradores vizinhos do córrego Buritis, na região Oeste de BH, local com graves problemas de saneamento básico, o candidato Alexandre Kalil (PHS) foi convidado por uma moradora para ver a situação precária de sua casa com os problemas com inundações. Ao ser perguntado se iria prometer fazer a obra (esperada há mais de 20 anos pelos moradores), Kalil respondeu de uma forma que poucos políticos o fariam faltando dias para uma eleição: “Não posso te fazer essa promessa. Ainda não sei se a prefeitura terá esse dinheiro”, afirmou o empresário. O candidato explicou que, caso eleito, vai fazer um raio-X da situação financeira de cada regional e definir as obras mais urgentes.
“Não posso prometer para vocês as obras que sei muito bem que vocês precisam. Porque isso é pura demagogia. Mas posso dizer que vou correr atrás dos recursos e que saneamento básico será prioridade, porque isso é dar condições mínimas para as pessoas viverem bem. É muito mais importante do que fazer viaduto para cair na cabeça da população”, disse Kalil, em referência ao viaduto Batalha dos Guararapes que desabou em 2014 e matou duas pessoas.
Apresentar-se aos eleitores como um candidato diferente do modelo tradicional de político – que costumam prometer tudo nos palanques e não cumprem nada quando estão no poder – foi a estratégia de Kalil desde o início. O slogan da campanha é “Chega de político, é hora de Kalil”. No entanto, o candidato afirma não ser contra a política, “mas contra a politicagem e a troca de favores entre políticos corruptos”.
A estratégia se encaixou bem com o momento de descrédito de grande parte da população brasileira com a classe política e, apesar de ter sido alvo de quase todos os outros candidatos no primeiro turno, Kalil foi para o segundo turno com 26% dos votos.
Na campanha ele manteve o estilo “pavio curto” que o fez conhecido pelo Brasil quando foi presidente do Atlético. Principalmente ao rebater ataques de seus adversários, Kalil subiu o tom e usou ironias para criticar os adversários – na maioria das vezes o embate foi com o vice-prefeito Délio Malheiros (PSD) e com o deputado Luis Tibé (PTdoB). No segundo turno, subiu ainda mais o tom dos ataques tanto nos debates como nas redes sociais.
Fora da política, a vida de Kalil tem sido marcada por embates. No futebol, colecionou desafetos ao longo dos seis anos que presidiu o Galo – 2008 até 2014. Bate-bocas no Clube dos 13 com o ex-presidente do Flamengo Kléber Leite, com o ex-presidente do Cruzeiro, senador Zezé Perrela, e com o presidente da CBF, Marco Polo del Nero, fizeram com que a fama de brigão se espalhasse pelo país. Os embates já renderam suspensão pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), mas também prêmios de dirigente do ano pela CBF e no Troféu Guará.
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Descendente de turcos, aos 57 anos, Alexandre Kalil é pai de três filhos e está no segundo casamento. O belo-horizontino fez faculdade de engenharia, mas largou no quarto ano para trabalhar na Erkal, empresa especializada em infraestrutura rodoviária, urbana e industrial, fundada pelo pai, Elias Kalil, e pelo tio.
A empresa foi o principal motivo de ataques dos adversários durante a campanha. Kalil foi acusado de ter falido a construtora e dar calote em funcionários. No segundo turno, o candidato João Leite (PSDB) usou depoimentos de três ex-funcionários para atacar Kalil e desconstruir sua imagem de bom gestor. O empresário admitiu que tem problemas em análise na Justiça, mas ressaltou que, “dos 150 mil funcionários que passaram por sua empresa nos últimos 30 anos, apenas pouco mais de 100 alegaram algum tipo de problema”.
Sua trajetória no esporte começou no Atlético, quando o clube montou uma equipe de voleibol. Entre 1980 e 1983, Kalil coordenou a modalidade e conseguiu títulos estaduais e metropolitanos. A partir de 1998 ele se tornou um dos homens fortes do futebol no Galo ao presidir o Conselho Deliberativo e, em 2008, assumiu a presidência do clube.
No comando do Galo, Kalil concentrou os investimentos do clube no futebol, praticamente extinguiu outros departamentos e apostou em grandes contratações, como os craques Ronaldinho Gaúcho e Diego Tardelli, para que a equipe conquistasse títulos importantes. A estratégia deu certo e a glória veio em 2013, com a Taça Libertadores da América.
A tão almejada taça, no entanto, tornou-se motivo de polêmica nesta campanha por causa de um comentário feito no dia seguinte da conquista: “Dormir com a taça é melhor do que com mulher. Ela acorda calada”, disse Kalil. A frase, que o cartola diz ser uma brincadeira, foi usada pelo PSDB como exemplo de preconceito contra as mulheres.
Como dirigente, Kalil colecionou também polêmicas e intrigas com torcedores arquirrivais, com vários ataques ao Cruzeiro. Algumas de suas falas criticando o clube rival foram usadas por adversários durante a campanha deste ano e fizeram com que o atleticano mudasse o tom com a torcida rival. Desde o início, ele tratou de amenizar as críticas do passado e disse que espera contar também com os votos da torcida celeste. “Quero ser prefeito de cruzeirenses e atleticanos”, disse.
Sua atuação como dirigente esportivo rendeu convites para que ele se filiasse a partidos políticos desde 2010, quando negou a se candidatar deputado pelo Partido Verde. Quatro anos depois, ele aceitou disputar uma vaga na Câmara dos Deputados pelo PSB, mas sua campanha durou poucas semanas. Logo após a morte do presidente da legenda – o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, morto em acidente aéreo em agosto de 2014 – Kalil desistiu da candidatura.
Ao seu estilo, o mandatário saiu do partido reclamando dos acordos fechados internamente após a morte de Campos e detonando a classe política. “Nada nesse partido me interessa. O que me interessava caiu de avião. Nem piso no partido. Agora estou livre desta merda de política. Não vou me rebaixar a ser político”, disparou Kalil.
Em março deste ano, o cartola retomou a relação com a política. Aceitando convite do PHS para disputar a prefeitura. A legenda de pouca expressão apostou na popularidade de Kalil para atrair eleitores e conseguiu eleger quatro vereadores, se tornando uma das mais fortes na Câmara de BH. O ex-mandatário do Atlético, no entanto, mantém uma relação ambígua com a política e diz que não faz planos futuros ou se vai tentar a reeleição: “Vou tentar a reeleição se for bem, porque se for uma merda de prefeito, quem é que vai querer me reeleger?”.