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Estado de Minas

PEC quer acabar com foro privilegiado de autoridades no país

Levantamento parcial com senadores titulares da CCJC mostra que somente oito são favoráveis ao conteúdo da proposta que pretende extinguir a prerrogativa para todos os cargos públicos


postado em 06/11/2016 06:00 / atualizado em 06/11/2016 07:48

Brasília - A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJC) do Senado começa nesta semana a discussão da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 10/2013, de autoria do senador Alvaro Dias (PV-PR), que extingue o foro privilegiado para autoridades no país. Apesar da expectativa do relator da proposta, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), de apreciá-la na próxima semana, levantamento preliminar do Correio Braziliense/Estado de Minas com os 27 senadores titulares do colegiado mostra que uma batalha corporativa está no caminho da PEC: somente sete se posicionaram totalmente contra a prerrogativa e devem acompanhar o voto de Randolfe pela extinção completa do benefício, inclusive para o presidente da República.

O tema divide opiniões entre os parlamentares. Dos outros senadores consultados, seis declararam-se favoráveis ao benefício, entretanto, três destacaram que mudanças são necessárias na restrição dos cargos: Humberto Costa (PT-PE), Simone Tebet (PMDB-MS) e Eduardo Amorim (PSC-SE). Para o senador pernambucano, a redução das autoridades contempladas é necessária. “Há também casos em que o julgamento por foro se torna mais rápido e eficiente”, pondera Costa. Já Amorim lembra que a medida é importante em alguns cargos que “precisam evitar a perseguição política”.


Atualmente, prefeitos, deputados estaduais, governadores, desembargadores, membros dos tribunais regionais federais, eleitorais e do Trabalho, presidente e vice da República, ministros, membros dos tribunais superiores, senadores e deputados federais são contemplados pela prerrogativa. Ao todo, estima-se em 22 mil profissionais no país. No relatório protocolado na sexta-feira na CCJC, Randolfe Rodrigues determina que todos os integrantes de cargos públicos respondam por crimes comuns na primeira instância do Judiciário. A única ressalva é feita no caso do chefe do Executivo, na qual se exige a autorização de dois terços da Câmara para que seja aberto um processo criminal.


Além dos senadores da comissão que se posicionaram contra e a favor, quatro preferiram não se manifestar; um é indiferente; sete não foram localizados pela reportagem e um está licenciado do mandato. Na época em que o texto da PEC foi apresentado pela primeira vez, em 2012, contou com o apoio de mais de 27 senadores, entre eles o atual líder do governo, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), e o agora governador do Distrito Federal Rodrigo Rollemberg. Em uma enquete promovida pelo site do Senado sobre a matéria, 42.223 pessoas afirmam ser favoráveis, e somente 134 contra.


Desde que entregou o relatório, Randolfe começou uma peregrinação para mostrar aos colegas a importância de se acabar com o foro privilegiado. “É um modelo que não se sustenta mais. Ele se tornou anacrônico no Brasil. Transformou-se em um instrumento de protelação judicial e obstrução de Justiça”, comenta o senador. O assunto voltou à tona após a deflagração da Operação Métis, na qual a Polícia Federal prendeu quatro policiais legislativos do Senado acusados de atrapalhar as investigações da Lava-Jato. O episódio fez com que o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), entrasse com uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) no Supremo alegando imunidade se sede do Congresso Nacional.

Vontade


Além das barreiras que a proposta deve encontrar no Senado, o caminho na Câmara dos Deputados também não será fácil. Aos menos três propostas de extinção do foro já passaram pela Casa e não tiveram êxito. A PEC 130/07 foi a que mais avançou, chegou a ser votada, mas foi rejeitada em plenário. Para o autor da PEC 470/05, Anselmo de Jesus, 70% dos parlamentares não querem o fim do foro privilegiado. “Os deputados ficam querendo e não querendo ao mesmo tempo. Sempre pedem mais tempo para analisar a proposta quando percebem que vai passar”, conta.


Anselmo lembra que, quando criou a proposta, sobraram ofensas até para a mãe dele. “Os outros deputados falavam que eu estava inventando moda, que deveria colocar uma melancia na cabeça e que não tinha o que fazer.” Segundo ele, não faz sentido criar uma lei para proteger os criadores das leis. “Quem deveria ser beneficiado pela lei é cidadão comum porque, às vezes, comete delitos por falta de conhecimento”, protesta.


O tema não é polêmico somente entre parlamentares, principalmente, por causa da sensação de impunidade que o foro causa na sociedade. O presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), Roberto Veloso, lembra que o foro privilegiado faz os processos andarem de um local para o outro quando o político muda de cargo eletivo, o que gera uma “dança” prejudicial ao cidadão, porque os processos demoram e acaba havendo prescrição. “É a música da impunidade. O processo, de tanto ir de um lado para o outro, termina prescrevendo porque nenhuma dessas instâncias o julga”, comenta Veloso.


De acordo com o desembargador federal aposentado e professor da PUC-PR Vladimir Passos de Freitas, o sistema precisa mudar. “É um absurdo. Se um governador bate um carro e fere alguém, esse processo é analisado em instância superior. Não faz o menor sentido um crime pessoal ser tratado dessa maneira. Ele deveria funcionar somente para crimes relacionados à função pública exercida”, acrescenta Freitas. (Colaboraram Paulo de Tarso Lyra e Patrícia Rodrigues)


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