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Estado de Minas

PF investiga negócios de Lula com o sobrinho Taiguara

Polícia Federal analisa mensagem que provaria a atuação do ex-presidente no exterior em prol do sobrinho de sua primeira mulher. Petista e empresário não comentam a suspeita


postado em 07/11/2016 06:00 / atualizado em 07/11/2016 07:34

Lula teria recebido R$ 20 milhões de propinas em contratos de uma das empresas de Taiguara, segundo o MP(foto: Heinrich Aikawa/Instituto Lula - 29/7/16)
Lula teria recebido R$ 20 milhões de propinas em contratos de uma das empresas de Taiguara, segundo o MP (foto: Heinrich Aikawa/Instituto Lula - 29/7/16)


Brasília - Um arquivo com uma carta de Taiguara Rodrigues, sobrinho da primeira mulher do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ele é mais uma das provas usadas pela Polícia Federal para indicar como o petista teria atuado no exterior em favor do parente, desta vez na Arábia Saudita. Os dois e o empreiteiro Marcelo Odebrecht estão denunciados por esquema de corrupção em Angola na 10ª Vara Federal de Brasília, onde tramita a Operação Janus. Para o Ministério Público, Lula recebeu R$ 20 milhões, direta e indiretamente, de propinas a partir de contratos da construtora com a Exergia, um das firmas de Taiguara.


Na mensagem, datada de 11 de setembro de 2013, obtida a partir da apreensão de computador portátil do empresário, o sobrinho de Lula recorda-lhe de sua “última conversa” sobre possível ida à Arábia Saudita com o prefeito de São Bernardo do Campo (SP), Luiz Marinho, e o ex-secretário de coordenação governamental da cidade Tarcísio Secoli. “Parece que vocês conversaram e eles declinaram desta viagem neste momento”, diz Taiguara a Lula. “Eu estarei indo no dia 14/09 (sábado) para prospectar o mercado.” Os advogados do ex-presidente e de seu sobrinho optaram por não esclarecer o episódio à reportagem.


A assessoria da prefeitura de São Bernardo esclareceu que Taiguara realmente conversou com Secoli sobre a viagem. “Taiguara conversou com Tarcísio Secoli sobre esta viagem que pretendia fazer à Arábia”, explicou a assessoria. “Mas tanto Tarcísio quanto o prefeito Luiz Marinho nunca estiveram na Arábia Saudita. Destacamos que não temos na prefeitura nenhum fornecedor daquele país. Ressaltamos, ainda, que o prefeito Luiz Marinho nunca esteve com Taiguara.”


Para a PF, a mensagem mostra a ligação do empresário da Exergia com Lula e com Marinho. Fornecedores da campanha do prefeito de São Bernardo em 2012 receberam dinheiro de Taiguara enquanto ele era subcontratado pela Odebrecht em Angola, por sua vez beneficiada com financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Relatório da PF na Janus conclui que “essa proximidade” entre Taiguara e Marinho tem a mesma “relação lógica” da conclusão sobre uma troca de mensagens do empresário com uma pessoa identificada como Secoli. Em 2 de setembro de 2014, um ano depois da menção à Arábia Saudita, Taiguara manda mensagem para “Tarcísio SBC” dizendo que está no Instituto Lula, enquanto o tio está em “SBC”: “Espero que esteja sendo bem produtivo, estamos precisando…”. “Tal mensagem pode indicar a atuação de Lula em prol dos interesses do seu ‘sobrinho’”, concluem os delegados Fernanda Costa e Guilherme Siqueira.


Em 2009, ano em que foi criada a Exergia, o então presidente Lula foi à Arábia Saudita. “Eles estão pensando em construir três cidades novas: cidade tecnológica, cidade industrial, cidade de turismo, e o Brasil pode ser um grande parceiro exportador de serviços, exportador de engenharia”, declarou o petista em 25 de março daquele ano, quando voltou de uma viagem em que se encontrou com o rei Abdullah, hoje falecido. “Penso que a perspectiva de troca de comércio entre Brasil e Arábia Saudita vai aumentar e vai aumentar muito, sobretudo, na área de serviço.” A assessoria do advogado de Lula, Cristiano Zanin, afirmou que ele não comentaria o que foi tratado nas conversas mencionadas. O defensor de Taiguara, Roberto Podval, afirma que só se manifestará no processo quando for intimado pela 10ª Vara.

INQUÉRITOS A Polícia Federal pediu ao juiz da 10ª Vara Federal em Brasília, Vallisney Oliveira, para abrir mais quatro inquéritos relacionados à Operação Janus. No primeiro, o objetivo é apurar a atuação da empreiteira Odebrecht, de Lula, Taiguara Rodrigues, do diretor da Apex em Cuba Hipólito Rocha Gaspar e a Cooperja, de Jacinto Machado (SC), na venda de arroz para a Venezula no “Programa mais alimentos internacionais”.


Outra frente de investigação é sobre “movimentações irregulares de valores vultosos e de origem suspeita” no Brasil e na atuação de Taiguara, do funcionário do Tribunal de Contas de Angola Hélder Beji e outros dois angolanos: Pedro Miguel de Barros e Joana da Fonseca Cordeiro dos Santos da Cruz. Um terceiro inquérito deve ampliar as apurações sobre a Exergia Brasil para esclarecer benefícios que teriam sido concedidos à Exergia Portugal, que repassou R$ 699 mil para Taiguara e o quarto trata de transações financeiras “irregulares” da Exergia em favor de Tarcísio Secoli e, possivelmente, Luiz Marinho nas eleições de 2012.

 

 

 


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