Brasília – O presidente Michel Temer disse ontem ter certeza de que a ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que pode cassar a chapa presidencial composta por ele como vice e pela ex-presidente Dilma Rousseff, eleita em 2014, não vai prosperar. “Não tenho nenhuma preocupação com isso”, disse em entrevista à Rádio Itatiaia.
O presidente criticou ainda segmentos da oposição e membros do PT, partido de Dilma, de tentar criminalizá-lo na ação. “Lamento porque nessa altura evidentemente a ex-presidente não poderá ser afastada. O que fazem aqueles que acham que ainda podem atingir a figura do vice-presidente? (...) Tentam jogar em cima do vice para ver se o vice é afastado pelo tribunal, mas isso não acontecerá.”
A fala de Temer é em resposta à defesa de Dilma, que envolveu o PMDB no processo. Os advogados da ex-presidente informaram ao TSE que uma doação de R$ 1 milhão da empreiteira Andrade Gutierrez para a chapa foi arrecadada pelo PMDB.
O presidente, no entanto, reafirmou a tese de que as contas das campanhas foram apresentadas de forma separada e disse que os recursos da construtora Andrade Gutierrez foram doados de forma espontânea pela empresa. “A empresa veio a nós durante a campanha e ofereceu colaboração espontaneamente. Não tem nenhuma preocupação com isso”, afirmou.
Temer afirmou ainda que, se o Judiciário decidir e todos os recursos forem eventualmente interpostos, ele respeitará a decisão. “Sou extremamente obediente às instituições. Se um dia lá pra frente, quando todos os recursos forem eventualmente interpostos, se o Judiciário decidir no sentido negativo, eu obedeceria à decisão do Judiciário. Mas tenho a mais absoluta certeza, convicção de que isso não acontecerá”, disse.
CUNHA Temer disse também que não tem preocupação com a possibilidade de uma delação premiada do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e de Marcelo Odebrecht, e o impacto que elas possam ter no governo. Segundo Temer, há a “maior tranquilidade” em relação a isso. “Tenho dito e reafirmado que precisamos aprender no Brasil que há três poderes na República: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário”, disse. “E o Judiciário está cuidando disso com muita adequação, muita segurança, de modo que não há por que se preocupar em relação a isso no tocante ao governo”, afirmou em entrevista à Rádio Itatiaia.
Temer rechaçou ainda as falas de que isso poder paralisar o governo. “O Executivo tem as suas tarefas e não pode paralisar o país por causa disso”, afirmou. O presidente disse também que se, eventualmente, algum membro do governo ou do PMDB vier a ser incriminado, “há um longo processo pela frente”.
ACAREAÇÃO O TSE marcou para o dia 17 uma acareação entre o ex-presidente da Andrade Gutierrez Otávio Azevedo – um dos delatores da Lava-Jato – e o ex-ministro e prefeito eleito de Araraquara (SP) Edinho Silva, que foi tesoureiro da campanha de Dilma Rousseff em 2014 e é investigado pela operação. A acareação foi marcada após a defesa de Dilma afirmar em um documento enviado ao TSE que a empreiteira doou R$ 1 milhão à chapa da petista, em 2014, por meio do PMDB. Os documentos apontam que o então candidato a vice, Michel Temer, foi o beneficiário da doação.
Os documentos foram apresentados na segunda-feira pela defesa de Dilma, durante depoimento de Edinho Silva no âmbito do processo que pode levar à cassação da vitoriosa chapa Dilma-Temer nas eleições de 2014. Os documentos podem fragilizar a estratégia de Temer de escapar de uma eventual punição, caso o TSE decida “separar” o julgamento das contas do atual presidente e de Dilma
Entre os documentos estão um recibo eleitoral assinado por Edinho e pelo tesoureiro do PMDB, senador Eunício Oliveira (CE); um documento que informa a doação de R$ 1 milhão do diretório nacional do PMDB para a campanha de Temer, tendo a Andrade Gutierrez como doadora originária; um cheque do PMDB de R$ 1 milhão depositado na conta da campanha de Temer; e extratos bancários que comprovam o depósito de R$ 1 milhão.
Em 19 de setembro, o executivo Otávio Azevedo, ex-presidente da Andrade Gutierrez, afirmou ao TSE que houve pagamento de propina disfarçado de doação oficial à campanha de 2014 que elegeu Dilma e Temer.