Brasília – O fim do foro privilegiado para ocupantes de cargos públicos no país caminha em duas frentes no Congresso Nacional e, mesmo com o feriado na próxima terça-feira, há o compromisso dos envolvidos de fazer com que o debate tenha celeridade. Duas propostas estão prontas para ser votadas nas comissões de Constituição e Justiça, tanto no Senado quanto na Câmara. Apesar de polêmica, a ideia de fazer com que autoridades respondam por crimes comuns na primeira instância do Judiciário já conta com o apoio de grande parte dos senadores e deputados.
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56% dos juízes federais querem fim do foro privilegiadoRodrigo Janot defende redução de foro especial para agilizar JustiçaReunião no Senado para analisar foro privilegiado é cancelada sem explicaçãoForo privilegiado fere o direito da igualdade de todos perante a leiNa última quarta-feira, mesmo depois de uma sessão conturbada na comissão, o senador do Amapá conseguiu fazer a leitura do relatório pela admissibilidade da matéria e, a partir de agora, a PEC está pronta para ser votada. De acordo com levantamento feito pela reportagem com senadores titulares do colegiado, nove são totalmente contra a prerrogativa e garantem o voto pela aprovação da proposta. Outros três – Humberto Costa (PT-PE), Simone Tebet (PMDB-MS) e Eduardo Amorim (PSC-SE) –, são a favor de mudanças no sistema, mas acreditam que o foro é importante para cargos específicos, por exemplo, os presidentes dos três poderes.
Contra a prerrogativa, o senador Telmário Mota (PDT-RR) afirma que a distinção acaba fazendo com que políticos usem o foro para se proteger e fugir de processos. “Ele beneficia e protege pessoas que deveriam estar na cadeia. Chega disso”, comenta Mota.
Na semana passada, em encontro com o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Claudio Lamachia, conseguiu o compromisso da organização de participar do debate para, pelo menos, reduzir drasticamente a quantidade de cargos contemplados. A partir de amanhã, o senador tem encontros agendados com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) para pedir apoio à PEC.
A CNBB não se pronunciou oficialmente, mas o bispo-auxiliar de Brasília e secretário-geral da instituição, Leonardo Ulrich Steiner, afirmou que o tema está em debate e defendeu mudanças no sistema. “Pessoas que agem conforme a Justiça não têm necessidade de foro privilegiado. É necessário discutir com a sociedade a questão, no Congresso, nas universidades, nos meios de comunicação, entre trabalhadores, entre as pessoas da arte.
Resistência maior entre deputados
Outra frente de mudança caminha na Câmara dos Deputados, depois de 11 anos parada. O relatório da PEC 470/05, que, junto a 11 matérias semelhantes propõe o fim do foro de prerrogativa para crimes comuns de autoridades públicas, também está na pauta da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJC). Entretanto, a resistência ao tema é maior entre os deputados. Em levantamento preliminar feito pela reportagem com os 65 deputados titulares da comissão, dos 28 que responderam aos questionamentos, nove são favoráveis à extinção total do foro; 12 defendem mudanças no sistema, mas querem ampliar o debate; 1 é a favor do foro; e seis preferiram não se manifestar.
Na última terça-feira, o presidente da comissão, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), agendou uma reunião com os coordenadores de bancada para definir uma data para votar só a matéria, mas não obteve quórum. Serraglio acrescenta, inclusive, que alguns deputados querem fazer uma visita ao juiz Sérgio Moro, responsável da Operação Lava-Jato, para saber a opinião dele sobre o assunto. “É bom ouvirmos vários lados para entender qual seria o melhor caminho.” Recentemente, em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, Moro afirmou ser favorável a mudanças no foro privilegiado, restringindo-o talvez, aos presidentes dos três poderes.
Relator da PEC desde 2009, o deputado Efraim Filho (DEM-PB) acredita que a resistência à proposta já foi maior entre os colegas e está otimista em relação à aprovação. “O Parlamento não pode ser cego e surdo à voz das ruas”, comenta Filho. Diferentemente do Senado, caso seja aprovada na CCJ, a PEC vai para a Mesa Diretora da Casa, que fica responsável por instalar uma comissão especial para apreciá-la em 40 sessões e chegar a um projeto final que será encaminhado ao plenário para votação.
*Sob a supervisão de Natália Lambert.