Jornal Estado de Minas

Sérgio Cabral sai do alto poder para Bangu 8


Preso preventivamente por corrupção e lavagem de dinheiro pela Polícia Federal e conduzido para o presídio Bangu 8 no fim da tarde de ontem, Sérgio Cabral (PMDB) foi governador do Rio de Janeiro durante dois mandatos, entre 2007 e 2014.


No Palácio Guanabara, umas de suas prioridades foi a gestão da segurança marcada pela instalação das unidades de polícia pacificadora (UPPs) em comunidades cariocas comandadas pelo tráfico de drogas.

Foi um dos principais aliados dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Chegou a ser cotado inclusive para substituir Michel Temer como vice-presidente no segundo mandato de Dilma.

Também foi senador de 2003 a 2006, onde presidiu a Comissão do Idoso e participou da elaboração e aprovação do Estatuto do Idoso. Exerceu ainda três mandatos como deputado estadual, eleito em 1990, 1994 e 1998. Antes, presidiu a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) entre 1995 e 2003, quando estabeleceu o voto secreto e instituiu um teto salarial no Poder Legislativo estadual.

O patrimônio acumulado por Cabral está na mira da força-tarefa da Operação Lava-Jato. A Operação Calicute, nova fase da Lava-Jato, que o deteve nessa quinta-feira, apreendeu joias, relógios e uma lancha, cuja propriedade é atribuída ao peemedebista.
Um relatório da Polícia Federal aponta que a lancha está avaliada em R$ 5 milhões.

Ele tinha também um helicóptero, vendido em julho deste ano. De acordo com o documento, a lancha, batizada de Mahattan Rio, ficava guardada na marina do Condomínio Portobello, em Mangaratiba, na Costa Verde. Ali a família Cabral tem casa de veraneio e costuma realizar festas e receber convidados. Um dos eventos custou R$ 81.160. A lancha está em nome de Paulo Fernando Magalhães, ex-assessor de Cabral, também preso ontem.


REPERCUSSÃO


A prisão de Cabral não surpreendeu deputados em Brasília. Os parlamentares lembraram que a Operação Lava-Jato já mirava o peemedebista há algum tempo e avaliaram que Cabral é um dos responsáveis pela crise financeira do estado.


“O PMDB do Rio de Janeiro foi responsável por todas as crises que estamos vivendo”, comentou o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), adversário político do grupo de Cabral. O parlamentar disse que não celebraria a prisão do ex-governador e defendeu que, no cárcere, Cabral tenha seus direitos preservados.

“Ele é um dos responsáveis pela crise, pela gestão irresponsável dos últimos anos”, concordou o líder da Rede Alessandro Molon (RJ). O deputado destacou que a prisão era algo previsto porque já havia informações de que a delação do empreiteiro Fernando Cavendish comprometeria Cabral. Em sua avaliação, os desdobramentos das investigações da Polícia Federal devem aumentar a crise no estado. “Ainda virão mais informações, mais denúncias”, prevê.

Alessandro Molon avaliou que a prisão de Sérgio Cabral vai tornar ainda mais difícil o debate sobre a crise financeira do Estado do Rio de Janeiro. “A prisão reforça a impressão de que o povo está pagando uma conta que não é sua, mas culpa dos desgovernos que temos tido no Rio de Janeiro”, afirmou, após participar de reunião no Ministério de Minas e Energia.

Ironia


Um dia após o ex-governador do Rio Anthony Garotinho (PR) ser preso, seu blog oficial celebrou a prisão de seu rival e também ex-governador Sérgio Cabral. O site do político mostrou ainda que, mesmo depois de preso, as diferenças políticas não ficaram de lado, fez questão de ressaltar que a situação de Garotinho é “completamente diferente” da de Cabral e insinuou também que “não foi coincidência” terem escolhido quarta-feira para prender um e quinta para prender o outro.

“É evidente que querem associar as duas prisões, confundir as pessoas para colocarem Garotinho e Cabral no mesmo bolo”, diz o texto publicado às 8h13 de ontem.

Cabral foi detido por determinações da Justiça Federal no Rio e da Justiça Federal no Paraná, acusado de liderar um esquema de corrupção envolvendo grandes obras no período em que foi governador do Rio, como o Estádio do Maracanã, e também de receber propina em um contrato do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj)..