De governador a presidiário. Dos bistrôs de Paris e dos seus imóveis e bens luxuosos para Bangu. Do caviar ao pão com manteiga. Do amplo apartamento no Leblon, que tem o metro quadrado mais caro do estado, para uma cela de nove metros quadrados, com chuveiro, pia e dispositivo sanitário no chão, ironicamente, no complexo penitenciário inaugurado por ele em seu governo. Em poucas horas, o ex-governador Sérgio Cabral Filho descobriu uma dura realidade, depois de ter sido o homem mais poderoso do Rio de Janeiro por duas vezes, entre 2007 e 2014. Preso na manhã de quinta-feira pela força-tarefa da Operação Lava-Jato, acusado de desviar R$ 224 milhões dos cofres públicos em organização criminosa que fraudou contratos de obras, Cabral teve a cabeça raspada depois de dar entrada em Bangu 8 na noite de quinta-feira.
Cabral fez um pedido ao entrar na cela que vai ocupar por tempo indeterminado em Bangu 8: escolheu dormir na cama de baixo de um dos beliches. Passou a primeira noite na prisão na companhia de cinco velhos conhecidos e, segundo o Ministério Público Federal (MPF), integrantes do mesmo esquema de corrupção. Estão no mesmo ambiente o ex-assessor Paulo Fernando Magalhães, os operadores Carlos Emanuel Miranda e José Orlando Rabelo, o ex-secretário de Obras Hudson Braga e Luiz Paulo Reis, apontado como laranja de Braga.
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Sérgio Cabral é alvo de duas CPIs na Assembleia do RioDiscreto no início da carreira, Cabral passou a ter vida de badalaçãoCabral passa dos bistrôs de Paris para o pão com manteiga servido em BanguBraço direito de Palocci deu modelo de 'contrato de fachada' a Cabral, diz juizCabral e aliados tinham costume de realizar pagamentos com dinheiro vivoPara passar o tempo, Cabral levou o livro Em nome de Deus: o fundamentalismo no judaísmo, no cristianismo e no islamismo, de Karen Armstrong. A obra, que analisa as origens do extremismo religioso nas três religiões, foi levada pelo ex-governador na mochila que carregou para o presídio. A Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) negou que Cabral e o também ex-governador Anthony Garotinho, preso na quarta-feira, sob acusação de comprar votos na campanha eleitoral em Campos (RJ) e levado para o complexo de Bangu, estivessem sendo favorecidos por regalias. “Cabe ressaltar que a unidade é destinada a pessoas que possuem nível superior”, informou o órgão em nota. O cardápio de almoço e jantar contém arroz ou macarrão, feijão, farinha, carne branca ou vermelha (carne, peixe, frango), legumes, salada, sobremesa e refresco. “O desjejum é composto por pão com manteiga e café com leite.
“A Seap informa ainda que todos os internos do sistema penitenciário fluminense são tratados de forma igualitária, com direito a banho de sol, refeições e visitas após o cadastramento “ A secretaria informou que o “tamanho das celas são (sic) de acordo com o que determina a Lei de Execuções Penais”. A área mínima, segundo a legislação, é de 6 metros quadrados. Titular da Seap, o coronel Erir Ribeiro da Costa Filho também negou regalias aos dois ex-governadores. Segundo ele, as galerias não foram esvaziadas para a chegada de Cabral, como chegou a ser divulgado nas redes sociais. O cardápio é o mesmo dos outros presos. “Eu sigo as regras. Quem ingressa no sistema é tratado igual a cada um dos internos que já estão lá”, afirmou o secretário. Bangu 8 tem capacidade para receber 154 presos, e hoje tem 130.
No âmbito da Operação Lava-Jato de Curitiba, a força-tarefa do Ministério Público Federal investiga pagamento de vantagens indevidas a Sérgio Cabral, em decorrência do contrato celebrado entre a Andrade Gutierrez e a Petrobras, sobre as obras de terraplenagem no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).
Responsável pela fiscalização no Complexo Penitenciário de Gericinó, a promotora Valeria Videira esteve na manhã de ontem no local para uma inspeção sigilosa com a Seap. “A promotora constatou que não procedem os boatos de que o ex-governador Sérgio Cabral tenha tratamento privilegiado em Bangu 8. O ex-governador Anthony Garotinho encontrava-se no Hospital Penal Hamilton Agostinho, também sem receber privilégios”, afirmou o MP em nota. (Com agências).