O pedido de “acompanhamento” do ministro da Secretaria de Governo da Presidência da República, Geddel Vieira Lima, para liberação de uma obra em um imóvel de luxo levou o político do PMDB da Bahia para o centro do turbilhão político. Enquanto a oposição cobra a saída do cargo, a Comissão de Ética da Presidência vai analisar o caso já amanhã. Em entrevista ao Estado de Minas, Geddel admitiu que pediu, “duas ou três vezes”, ao então ministro da Cultura, Marcelo Calero, para “acompanhar” a obra, mas negou ter feito pressão e disse que atuação como dono de um imóvel não o constrange. “Pelo contrário, me legitima porque eu estou a par do que estava acontecendo”, garantiu.
O prédio está em construção e Geddel adquiriu uma cota em 2015. Ele afirma que declarou o novo patrimônio, um imóvel no 23º andar, à Receita Federal e ao governo, quando assumiu o cargo de ministro. Corretores ouvidos pela reportagem disseram que um apartamento naquele andar, de 259 metros quadrados, custa R$ 3,4 milhões aproximadamente. No primeiro andar, são R$ 2,5 milhões. Na cobertura, R$ 4,9 milhões.
Leia Mais
'Incompatível com valores culturais%u2019, diz Iphan sobre condomínio em SalvadorCaso claro de corrupção, afirma Marcelo CaleroVou deixar o cargo por isso? pelo amor de Deus!, diz GeddelMaioria de Comissão de Ética vota por abrir processo contra GeddelTemer está 'muito preocupado' com denúncias contra Geddel, diz Moreira FrancoComissão de Ética decide hoje se abre processo contra Geddel Vieira LimaCríticas ao ministro Geddel Vieira Lima acontecem até na base aliada do PlanaltoCalero deixou o cargo e afirmou que pressões de Geddel inviabilizaram sua permanência no cargo. O Iphan da Bahia permitiu a construção, mas o caso estava com o órgão nacional, que abriu prazo para a defesa da empresa se manifestar. Enquanto isso, Geddel pedia para a decisão de Brasília confirmar a de Salvador: “E aí, como é que eu fico nessa história?”, teria dito o ministro da Secretaria de Governo. Calero narra uma suposta ameaça: “Não quero ser surpreendido com uma decisão e ter que pedir a cabeça da presidente do Iphan. Se for o caso eu falo até com o presidente da República.”
Geddel nega ter feito a afirmação e o pedido de demissão a Temer. “Isso é uma inverdade”, assegurou ao EM.
De acordo com Geddel, não há nenhum problema ético com sua atuação. “Não me constrange porque eu não pedi nenhuma imoralidade. Pelo contrário, me legitima porque eu estou a par do que estava acontecendo.” Para o ministro, o caso poderia ser tratado por ele mesmo, e não por outras pessoas. “Eu trabalharia de forma camuflada um tema? Tem que tratar com transparência com um colega de ministério, sem nenhuma pressão indevida, abordando um tema polêmico do meu estado.”
Na visão de Geddel, o fato de o Iphan nacional ter contrariado seus argumentos prova que ele não fez pressões. “Que pressão é essa do poderoso ministro do governo?” Geddel disse que comprou o imóvel em 2015. Como ministro, ele deve informar seu patrimônio ao assumir o cargo, de acordo com a Lei nº 8.730.
Presidente
Ele disse que conversou com o presidente Michel Temer, que pediu para responder às perguntas e esclarecer os fatos. O ministro afirmou estar despreocupado com os trabalhos da Comissão de Ética e do Congresso sobre o tema. “Nada me preocupa nisso.”
Calero afirma que pensou em procurar o Ministério Público e a Polícia Federal.
Ação judicial
O projeto do La Vue tem 30 andares de 24 unidades residenciais, com vista para a Baía de Todos os Santos. Para o Iphan, edificações acima do 13º andar comprometem o tombamento histórico da área de Salvador. As obras se iniciaram em 2015 e a previsão de entrega é julho de 2018. Não são aceitos financiamentos bancários. Quem optar pelo apartamento mais barato deve dar uma entrada de R$ 1,1 milhão e arcar com as demais mensalidades para bancar a obra, em regime de condomínio.
Uma ação civil pública do Ministério Público Federal na Bahia foi aberta no dia 10 e pede a suspensão das obras do edifício La Vue. A Procuradoria entende que o prédio “comprometeria a visibilidade dos bens tombados”.
Três perguntas para Geddel Vieira Lima, ministro da Secretaria de Governo
O ex-ministro Calero diz que o senhor pediu para ele interferir nessa obra. É verdade?
Eu conversei com o Calero sobre o tema, levando a ele preocupações. A obra foi licenciada pelo Iphan em 2014, teve início em 2015 e terminou se judicializando. Eu levei a ele a preocupação: “Calero, acompanha isso”. Houve uma reunião no Iphan, com a ex-presidente.
O fato de o senhor ter um imóvel no prédio…
Não me constrange porque eu não pedi nenhuma imoralidade. Pelo contrário, me legitima porque eu estou a par do que estava acontecendo.Tem que tratar com transparência com um colega de ministério, sem nenhuma pressão indevida, abordando um tema polêmico do meu estado. Já foi muito tempo com essa polêmica.
O senhor disse que levaria o caso de pedir a demissão da presidente do Iphan ao presidente Michel Temer?
Isso é uma inverdade. Nunca disse. Acho fantástica essa história de uma memória maravilhosa de saber frases aspeadas ditas por mim. É uma inverdade que eu tenha dito que ia levar esse assunto ao presidente da República. Nunca falei com o presidente Temer. Não compreendo essas declarações do ministro Calero. .