Brasília – Enquanto a liderança do Palácio do Planalto na Câmara dos Deputados tenta minimizar a situação do ministro da Secretaria de Governo da Presidência da República, Geddel Vieira Lima, parte dos integrantes da base aliada de Michel Temer no Congresso defende uma apuração rigorosa dos fatos na mesma linha de opositores. O vice-líder do bloco social democrata no Senado, Ricardo Ferraço (PSDB-ES), considera “extremamente grave” a denúncia do ex-ministro da Cultura Marcelo Calero, que acusou o secretário de Governo de pressioná-lo a aprovar um empreendimento em Salvador, onde Geddel tinha comprado uma residência de R$ 3,4 milhões, na orla soteropolitana. Geddel admite o pedido, mas nega pressões.
“Revela tráfico de influência”, afirmou Ferraço. Para o senador, o fato de Geddel ser dono de um apartamento no prédio onde fazia gestões perante Calero demonstra uma atuação indevida. “Ele não deveria fazer porque está legislando em causa própria. Sendo proprietário, é absolutamente inadequado.” Ferraço discorda da oposição no método de apuração. Ele defende que a Comissão de Ética, e não o Congresso, avalie o caso. Se preciso, deve ser feita uma acareação na visão dele.
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Vou deixar o cargo por isso? pelo amor de Deus!, diz GeddelSob intensa pressão, Geddel se defende:'Eu não pedi nenhuma imoralidade''Claramente um caso de corrupção', diz Calero sobre pressão de GeddelGeddel admite tratar questão pessoal com Calero, mas nega pressãoPrédio em que Geddel tem apartamento tem imóveis a partir de R$ 2,5 milhõesOposição na Câmara vai pedir convocação de Geddel e CaleroRoberto Freire diz que analisará caso de Geddel com IphanAutores de impeachment querem punição para Geddel Vieira LimaMaioria de Comissão de Ética vota por abrir processo contra GeddelTemer está 'muito preocupado' com denúncias contra Geddel, diz Moreira FrancoComissão de Ética decide hoje se abre processo contra Geddel Vieira LimaO líder do PT na Câmara, Afonso Florence (BA), disse que, a partir de hoje, vai começar a agir para pedir a convocação de Calero. A ideia é que sejam feitas apuracões na Procuradoria-Geral da República e na própria Comissão de Ética, que analisará o caso hoje. Ele destacou o fato de Temer ter sido avisado, segundo o ex-titular da Cultura. “Temer tem que promover todas as investigações necessárias.”
OPOSIÇÃO Para o líder do governo na Câmara, André Moura (PSC-SE), Geddel não fez nada de irregular. “Ele apenas levou a posição dele (a Calero).
Fora do Congresso, um dos idealizadores da Lei da Ficha Limpa criticou o ministro. “Se Geddel não cair, o governo passa a ideia de que é certo abusar do cargo para conquistar objetivos pessoais”, afirmou o ex-juiz Márlon Reis em redes sociais. “Mais uma demonstração de que a liderança política brasileira não compreende minimamente a diferença entre as esferas pública e privada. Bom lembrar que Geddel foi o mesmo que, semanas atrás, defendeu a anistia para os praticantes de caixa dois.”
Entenda o caso
Em 2014, a construtora Cosbat começou a vender 24 apartamentos de luxo no futuro edifício La Vue (vista, em francês), de frente para a Baía de Todos os Santos, em Salvador.
Com previsão de 26 andares, o ministro Geddel Vieira Lima comprou um imóvel no 23º pavimento, onde as residências custam R$ 3,4 milhões.
Em 2015, a construção começou. Iphan da Bahia liberou a obra, apesar das críticas de arquitetos e de defensores do patrimônio histórico tombado.
Neste ano, o Iphan Nacional abriu prazo para a defesa. Na semana passada, o órgão negou construções acima do 13º andar a fim de não bloquear a paisagem local da construção.
Geddel Vieira diz que, antes disso acontecer, procurou Marcelo Calero, “duas ou três vezes”, para “acompanhar” o caso porque entendia que o Iphan poderia cometer uma injustiça contra ele e outros condôminos.
Calero disse, na sexta-feira, que deixou o cargo na Cultura por pressões de Geddel.