O ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB) negou em depoimento à Polícia Federal ter recebido propina durante a sua gestão no Estado e acusou delatores de mentirem ao relatarem cobrança de porcentagens sobre contratos de obras públicas, conforme apontaram as investigações da Operação Calicute.
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"O declarante afirma que as declarações são inverídicas. Relata que acha que essas informações apresentadas nas delações dos retro mencionados foram para salvar as delações dos executivos da Andrade Gutierrez e Paulo Roberto Costa (ex-diretor de Abastecimento da Petrobras), desconhecendo tais fatos e sendo isso uma 'mentira'."
No depoimento, Cabral também afirmou que sua amizade com Fernando Cavendish, dono da Delta Construções, acabou em 2012, quando a empresa foi considerada inidônea para firmar contratos com órgãos públicos. "Ressalta que a Delta, antes mesmo de assumir como governador do Estado, em 2007, já era a maior contratante com os órgãos público municipais e estaduais", disse Cabral.
Cavendish foi alvo da Operação Saqueador, em junho deste ano, e negocia acordo de delação premiada sobre supostos pagamentos de propinas a políticos. Em um trecho da proposta de colaboração, o dono da Delta relata seu relacionamento com Cabral e desvios praticados para obter contratos de obras, como a reforma do Estádio do Maracanã, do Parque Aquático Maria Lenk, na Barra da Tijuca, realizado com dispensa de licitação, e da transposição do Rio Turvo.
Em outro trecho do depoimento, Cabral afirma que o atual governador do Rio, Luiz Fernando Pezão - que foi secretário e vice-governador em sua gestão -, foi quem lhe apresentou o ex-secretário de Obras Hudson Braga, apontado pela Procuradoria como responsável por cobrar propina das empresas.
Segundo Cabral, Pezão foi o responsável, quando secretário, por iniciar a licitação de reforma do Maracanã para a Copa de 2014 - as obras de reforma do estádio são alvo da PF.
Procurado pela reportagem, o governo do Rio informou que não iria comentar o caso.
Contas
Ao cumprir decisão judicial do juiz Sérgio Moro, da 13.ª Vara Criminal Federal de Curitiba, de bloquear valores dos investigados, o Banco Central encontrou R$ 10 milhões em apenas uma das contas bancárias pessoais da advogada, Adriana Ancelmo, mulher do ex-governador. Já nas contas de seu escritório de advocacia, Ancelmo Advogados, foi encontrado R$ 1 milhão. Adriana foi levada pela PF para depor na quinta passada, mas liberada em seguida.
É a primeira vez, desde o início da Lava Jato, que o valor encontrado em apenas uma das contas bancárias de um investigado atinge o valor integral do bloqueio determinado.
Cartão
O Ministério Público Federal também identificou gastos totais de R$ 2,1 milhões no cartão de crédito do ex-secretário de Governo Wilson Carlos, apontado por delatores da Lava Jato como "operador administrativo" de Cabral, e de sua mulher. As despesas, entre 2007 e 2015, o que daria uma média de R$ 19,5 mil por mês, chamou a atenção dos procuradores por, muitas vezes, extrapolar o rendimento declarado pelo casal no Imposto de Renda.
No relatório, a Procuradoria aponta um gasto de US$ 416 com o aluguel de limusine em 2011. A força-tarefa da Lava Jato destacou também gastos com cosméticos, roupas e restaurantes.
Nesta segunda-feira, 21, Moro converteu a prisão temporária de Wilson Carlos em custódia preventiva. O juiz acatou aceitou pedido da Procuradoria, que disse ver "risco à ordem pública" mantê-lo encarcerado. Ele é o único dos alvos da Calicute que esta preso em Curitiba. .