Rio, 25 - Um Sérgio Cabral Filho (PMDB) alegre e multicolorido, com uma bandeira do Brasil em forma de coração pintada no rosto, sorri. Sua mulher, Adriana Ancelmo, com cabelo pintado em lilás, preto e azul, também mostra o sorriso, marcado pela boca vermelha. Em tom alegre, as duas telas, pintadas supostamente por Romero Britto, contrastam com a situação atual do casal.
Cabral foi preso preventivamente pela Polícia Federal e levado para Bangu 8, no Complexo de Gericinó, no Rio, onde divide uma cela com vaso sanitário no chão. Adriana foi conduzida para depor e é investigada pela PF. Os retratos sorridentes estavam entre as obras de arte apreendida em endereços de Cabral, na Operação Calicute. A ação investiga corrupção em obras públicas no Rio de Janeiro durante a gestão do hoje ex-governador.
Além dessas telas, a coleção recolhida na semana passada pela PF inclui esculturas e fotografias - ao todo, seriam 28 peças. Há estátuas em estilo barroco e quadros abstratos. Também foi aprendida prataria.
Todo o material será submetido a perícia, para atestar a autenticidade do material e possivelmente avaliá-lo. A Polícia Federal quer saber se o casal, suspeito de integrar um amplo esquema de desvios de verbas - ambos negam as acusações - usava obras de arte para lavar dinheiro desviado.
Estima-se que o esquema, supostamente chefiado por Cabral e integrado por alguns de seus secretários durante seu governo (janeiro de 2007 a abril de 2014), tenha se apropriado ilegalmente de mais de R$ 200 milhões.
A PF também apreendeu roupas de grifes famosas que pertenciam ao casal. Cabral tinha ternos caros - um deles, de Ermenegildo Zegna, teve seu valor estimado pelos investigadores em R$ 22 mil.
Adriana Ancelmo, cujo escritório de advocacia mantinha contratos com concessionários do Estado, separava seus vestidos por grife. Os policiais também recolheram joias de ouro e pedras preciosas, que o casal comprava em casas de joalherias como H. Stern e Antonio Bernardo.
Em depoimento, Cabral afirmou não se lembrar de tê-las comprado. Os pagamentos eram feitos em dinheiro vivo por Carlos Miranda, um dos outros nove presos na Calicute.