Brasília - O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), criticou a conduta do ex-ministro Marcelo Calero de supostamente gravar conversas com o presidente Michel Temer sobre a interferência do ministro Geddel Vieira Lima na pasta da Cultura. “Há algo extremamente grave que também precisa ser investigado”, afirmou. E emendou: “Não acho adequado, não acho compreensível que um ministro de estado entre com um gravador para gravar uma conversa com o presidente da República. Não me parece algo ético”. Sobre a demissão de Geddel, Aécio afirmou: “É uma decisão que permite que aquilo que é essencial tenha prioridade. O que é essencial é que o Brasil faça as reformas, volte a crescer”. As declarações do senador foram dadas em entrevista durante evento na Câmara dos Deputados que reuniu prefeitos e dirigentes do PSDB.
Outros caciques tucanos também comentaram a saída do ministro. Após participar de almoço com Temer, ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que é preciso unir o Brasil. “Temos de chegar até uma eleição em 2018 e temos de nos unir pelo Brasil”, disse. Segundo ele, a saída de Geddel foi um dos assuntos tratados, mas a conversa teria sido “mais geral”. “Uma pessoa gravar uma conversa com outro me parece uma coisa que não é certa. Tem que ter a boa-fé, imaginar que você está conversando com interlocutor. Eu não acho isso correto, ainda mais quando se trata de um presidente da República ou um ministro”, afirmou.
“Os ministros caem e outros vem. O importante é não perder o rumo. Diante da circunstância brasileira, depois do impeachment precisamos atravessar o rio. Isso é uma ponte, pode ser uma frágil, uma pinguela, mas é o que tem. Se você não tiver a ponte, você cai no rio”, disse ainda FHC. Ao falar da atual crise política, o ex-presidente focou suas críticas às gestões anteriores do PT na área econômica. “O Brasil precisa com urgência tomar medidas de reforma. A situação fiscal nossa é muito ruim. A situação econômica precisa ser reanimada. O desastre produzido pelos últimos governo do PT foi inacreditável. Precisamos ter rumo e pensar mais no pais do que nas pequenas coisas”, considerou.
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, adotou o mesmo tom. “Essa é uma decisão do presidente da República. Ministro é cargo de confiança do presidente e a substituição de cargo de confiança é normal. Mas isso é um tema federal”, respondeu. Questionado se o PSDB manterá o apoio ao governo Temer, Alckmin ressaltou: “O governo conta com apoio em todas as medidas de interesse do povo brasileiro. Agora é avançar nas reformas. Agenda brasileira está repleta de urgências”.
RENAN O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), divulgou longa nota em defesa do presidente Michel Temer. Apesar de assumir que o ambiente é de crise, Renan afirma que o Senado se comportará com equilíbrio e garante a manutenção do calendário de votações da Casa, inclusive da PEC do Teto. “As alegações do ex-ministro da Cultura não afetam o presidente Michel Temer, que reúne todas as condições para levar adiante o processo de transição. As mexidas ministeriais tampouco afetarão o calendário de votações do Senado, que inclui a PEC do limite de gastos e o projeto de abuso de autoridade”, escreveu.
O peemedebista citou outros projetos que estão na pauta de votação do Senado até o fim do ano, como a lei de licitações, a legalização dos jogos de azar e o fim da reeleição para cargos do Executivo. De acordo com Renan, se necessário, o recesso parlamentar de fim de ano será cancelado. O presidente do Senado aproveitou para orientar que a Câmara faça o mesmo, e sugeriu a Rodrigo Maia (DEM-RJ) que adote um calendário de votações expressas.
Renan afirma ainda que o momento é de superar “falsas polêmicas”. Na nota, ele cita outros momentos de crise, como o afastamento da presidente Dilma Rousseff e alega que o Senado agirá com a crise de Temer da mesma maneira: “Equilíbrio, responsabilidade e atento à soberania e independência entre os poderes”.