São Paulo, 27/11/2016 - O professor de ética política Roberto Romano defende a tese de que quanto mais caótico estiver o contexto político brasileiro, mais cara sairá a fatura de negociações do presidente Michel Temer com sua chamada base aliada. Leia os trechos da entrevista.
Como o sr. vê a saída o ministro Geddel Vieira Lima do governo?
A queda de Geddel evidencia a fragilidade da prudência na escolha de ministros pelo presidente Temer. E também mostra o quanto a Presidência da República está umbilicalmente unida a maiorias venais e nada éticas do Congresso. Geddel deveria ter sido afastado imediatamente. E Marcelo Calero (ex-ministro da Cultura) deveria ser instado pelo presidente a abrir um processo contra seu colega que lhe exigia favores. Geddel sai, o governo perde força, enquanto uma administração federal provisória, até 2018, e o desarrazoado político aumenta. É o tempo em que os pescadores de água turva, como boa parte da base aliada, encarecerão o preço do peixe, ou seja, do apoio ao presidente.
O episódio ameaça o mandato do presidente Temer?
Eu acho que ameaça, não no sentido de que ele possa sofrer um impeachment, porque a oposição brasileira se encontra enfraquecida.
Como o sr vê a tentativa dos deputados de estabelecer uma anistia ao caixa 2?
Essa anistia começou com a redação da Constituição de 1988, com a instauração da prerrogativa de foro.
Como o sr. avalia a disposição do senador Renan Calheiros de modificar a lei de abuso de autoridade?
O Renan não é um político qualquer. Ele tem, talvez só o Lula ou Fernando Henrique Cardoso tenham, essa agilidade mental para construir cenários que são semi-verdadeiros e semi-mentirosos.
Procuradores e juízes deveriam estar submetidos a crime de responsabilidade?
Essa questão deveria aparecer em outro contexto e não nesse de retaliação à Operação Lava Jato. Sim, é preciso que todo aquele que está a serviço do público tenha consciência de que não é superior ao público, mas que é um servidor do público. Achei bonito, embora um tanto demagógica, a fala da ministra Cármen Lúcia em sua cerimônia de posse: Sua excelência, o povo. Isso é o que nossos políticos, nossos juízes esquecem. O título de excelência é o título do povo, que é emprestado temporariamente para essas pessoas. Aqui no Brasil não há o exercício pleno do respeito à soberania popular.
Como vida de ostentação do ex-governador Sérgio Cabral com dinheiro público, segundo a PF, alcança a população?
Isso causa uma revolta muito grande, mas uma revolta que não conseguiu até hoje, a não ser em 2013 ou 2014, se traduzir em movimento de rua bem organizado. Esses dois movimentos não se traduziram em mudanças nos partidos políticos, pelo contrário. Os partidos estão totalmente alheios ao que ocorre com a população. Segundo pesquisa recente, parte da população brasileira não é que não confia nas instituições republicanas, ela não confia na democracia.
As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo..