O encolhimento da economia brasileira, combinado com os reajustes concedidos nos últimos tempos aos servidores públicos, fez com que o peso das despesas com pagamento de pessoal da União como proporção do Produto Interno Bruto (PIB) batesse recorde. De todas as riquezas produzidas pelo País, 5,7% são consumidos para honrar o contracheque do funcionalismo dos três poderes.
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Servidor que ganha acima do teto cresceu 3,5 vezesCom remuneração de mais de R$ 300 mil, servidores públicos em Minas recebem acima do teto Remuneração bem acima do teto também beneficiam 'servidores comuns' em Minas TCU eleva valor mínimo para abertura de processo contra agentes públicosSegundo o Ministério do Planejamento, o governo federal - nos três poderes - tinha até agosto (dado mais atual) 2.216.431 pessoas em sua folha. Desse total, 55,6% estão trabalhando, 26,1% são aposentados e 18,3% são pensionistas. Nos 12 meses terminados em agosto, o total da folha de pagamento foi de R$ 265,9 bilhões, dos quais R$ 159,1 bilhões de salários para funcionários da ativa, R$ 68,1 bilhões de aposentadoria e R$ 38,5 bilhões de pensões.
Em 2015, as despesas com o pagamento do funcionalismo corresponderam a 4,3% do PIB; nos dois anos anteriores, a 4,2%. O maior registro, desde então, tinha sido o de 1995, segundo ano do governo de Fernando Henrique Cardoso, quando 5,4% do PIB foram gastos com a folha dos servidores. No último ano de FHC, 2002, as despesas com o funcionalismo alcançaram 5% do PIB.
No fim dos oito anos de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2010, o porcentual foi de 4,7%, mas caiu no primeiro ano de Dilma para 4,5% e atingiu o piso, 4,2%, nos dois anos seguintes.
A economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, diz que a recessão vai fazer com que o peso da folha de pagamento deva aumentar no curto e médio prazos, uma vez que o PIB deve continuar caindo. “O problema está no numerador e no denominador”, explica a economista, ao se referir tanto ao achatamento da economia quanto à política de valorização dos salários dos servidores públicos nos últimos anos.
Impacto
Os reajustes concedidos às carreiras do Executivo, do Legislativo e do Judiciário aumentarão em R$ 68,7 bilhões os gastos com o pagamento da folha de servidores entre agosto deste ano e o fim de 2018.
“O fato de ter rigidez em relação à folha tira liberdade do governo para reagir em momentos de crise”, diz Zeina, que foi convidada para fazer parte do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o Conselhão, cuja primeira reunião aconteceu na segunda-feira.
A economista defende que a concorrência e a meritocracia passem a ser usadas tanto para a remuneração quanto para a possibilidade de demissão - como ocorre no setor privado.
Anos 1990
Na média de setembro de 2015 a agosto deste ano, o governo federal gastou 38,2% das suas receitas com o pagamento dos servidores públicos. Ao se aproximar da fronteira dos 40%, a parcela das receitas destinada a gastos com pessoal volta a patamares vistos apenas antes de 2000.
A relação é tida como um termômetro da saúde financeira das finanças públicas do governo. Desde 2000, a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) determina que o governo federal só pode gastar até 50% de suas receitas correntes líquidas com a folha de pagamento.
Na série histórica sobre a relação, o maior porcentual foi verificado em 1995, quando 54,5% das receitas eram gastas com pessoal. O menor nível foi verificado em 2005, quando 27,3% das receitas foram usadas para pagar funcionários públicos.
As receitas correntes líquidas correspondem à arrecadação do governo com tributos e impostos menos as transferências constitucionais e legais obrigatórias, contribuições para o Programa Integração Social (PIS) e Programa de Formação do Patrimônio do Serviço Público (Pasep) e o pagamento de benefícios tributários..