Rio de Janeiro, 28 - Preso em Bangu 8 há onze dias, o ex-governador do Rio Sergio Cabral (PMDB) está numa cela sem televisão, item ao qual todo interno tem direito. A fim de garantir que o peemedebista não esteja recebendo privilégios, por seu status político e por ser aliado do atual governador, Luiz Fernando Pezão (PMDB), que foi seu secretário e seu vice, o Ministério Público, por meio da 21ª Promotoria de Investigação Penal, vem fazendo vistorias nas instalações do presídio.
Segundo o órgão, até o momento, não foi constatada nenhuma irregularidade. O MP não informou oficialmente a periodicidade das inspeções, por considerar a informação sigilosa, mas a reportagem apurou que elas são quase diárias.
Acusado de chefiar uma organização criminosa que recebeu R$ 224 milhões em propinas de empreiteiras entre os anos de 2007 e 2014, período em que ficou no poder, Cabral divide a cela de 16 metros quadrados com seis amigos que foram presos junto com ele, acusados de serem operadores de seu esquema. Eles dormem em três beliches de alvenaria, sobre colchões. A Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) informou que Cabral e os demais podem ter TV na cela - resta um parente levar o aparelho.
Interlocutores contaram que Cabral está muito abatido e comendo pouco. A gravidade das acusações contra ele, que constam de relatório robusto do Ministério Público Federal, faz com que não haja perspectivas de relaxamento de prisão, tampouco de uma pena branda. A denúncia deve ser apresentada na semana que vem. Ele poderá responder pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro, pertencimento a organização criminosa e fraude em licitação, e sua pena pode exceder 50 anos de prisão.
Pela Lei de Execuções Penais, os presos têm direito a receber da família um rádio de pilha, um ventilador de até 30 centímetros e uma TV de 16 polegadas, o menor tamanho no mercado, informou a Seap. "Esse material, acompanhado das devidas notas fiscais, é entregue pela família no setor de custódia da unidade prisional em dia pré-determinado", diz nota da secretaria.
Cabral teve poucas visitas. Preso dia 17, no dia 22 recebeu a mulher, Adriana Ancelmo, cujo nome também é envolvido nas investigações (o MPF chegou a pedir sua prisão, mas a Justiça optou pela condução coercitiva para depoimento). No dia 24, a visita foi do filho Marco Antônio Cabral, atual secretário de Estado de Esporte, Lazer e Juventude, e do deputado estadual Paulo Melo (PMDB). No último sábado, o deputado federal Washington Reis (PMDB), prefeito eleito de Duque de Caxias, esteve com ele.