O procurador e coordenador da força tarefa da Lava-Jato, Deltan Dallagnol, se pronunciou na tarde desta quarta-feira sobre a aprovação do pacote anticorrupção durante a madrugada na Câmara dos Deputados. Ele tratou a ação dos parlamentares como “ditadura da corrupção” e repudiou a inclusão de medidas que afetam juízes e integrantes do Ministério Público no projeto.
"Se for aprovada, a proposta será o começo do fim da Lava Jato. A força-tarefa da Lava Jato reafirma seu compromisso de trabalhar enquanto for possível", afirmou, em coletiva realizada em Curitiba (PR). Ele e outros integrantes da força-tarefa ameaçaram deixar os trabalhos se o projeto for aprovado e sancionado pelo presidente Michel Temer.
Dallagnol tratou o pacote, da forma como foi aprovado, como “lei da intimidação”. “"O objetivo é estancar a sangria. Há evidente conflito de interesses entre o que a sociedade quer e o que o parlamento quer. Se instala a ditadura da corrupção”, afirmou.
O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, que também participa da coletiva, afirmou que tanto ele como Dallagnol tem atividades em outras procuradorias e, se o pacte for aprovado, vão deixar de autuar a Lava-Jato. “Nós temos responsabilidade em outros locais, e vamos simplesmente voltar para nossas atividades normais", disse.
Ainda durante a coletiva, o procurador afirmou que medidas de combate à corrupção, apresentadas durante a gestão de Dilma Rousseff (PT), eram muito mais avançadas que as sugeridas pelo MP. “O que aconteceu ontem não é expressão de pessoas específica, e sim da articulação de líderes dos partidos e do governo", afirma.
Visivelmente irritado, Dallagnol disse que as propostas foram “desconfiguradas” ao chegarem ao Congresso. “Rasgou-se o texto das 10 medidas", afirma. "O parlamento é soberano, mas nós, depois de todo esse processo, saímos sem solução para acabar com as brechas que permitem a corrupção", pontuou ao listar que o país ocupa a 4ª posição em rankings que medem a corrupção.
Os deputados federais aprovaram na madrugada desta quarta-feira, 30, no plenário da Câmara, pelo menos 11 mudanças no texto do projeto de medidas de combate à corrupção que tinha sido aprovado na comissão especial, na semana passada.
Descontentes com o parecer do relator, deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), parlamentares aprovaram emendas e destaques que incluíram novos temas e, sobretudo, retiraram trechos do pacote que dificultam investigações e flexibilizam a punição de corruptos.