Jornal Estado de Minas

Investimentos públicos em infraestrutura caem pelo segundo ano consecutivo

- Foto: Com obras paralisadas e projetos adiados, os investimentos públicos em infraestrutura do governo federal cairão pelo segundo ano consecutivo. Até este mês, os gastos com construções e melhorias de aparelhos públicos (hospitais, escolas, portos, estradas, rodovias, etc.) chegaram a R$ 34,8 bilhões – R$ 4 bilhões a menos do que foi investido no ano passado, de acordo com dados do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal. Sem perspectiva de grandes gastos nas últimas semanas, o valor total investido neste ano alcançará o pior patamar desde 2009, há sete anos.

Em Minas Gerais, os investimentos do governo estadual até dezembro alcançaram R$ 2,9 bilhões, sendo quase um terço desse montante por meio de operações de créditos – R$ 900 milhões –, informou a Secretaria de Estado de Planejamento. Em relação aos últimos anos, a queda nos gastos públicos em Minas é significativa. Em 2013 e 2014, os investimentos públicos no estado ficaram acima dos R$ 5 bilhões – já os dados do ano passado não foram divulgados.

O desempenho ruim dos gastos públicos acompanha o cenário igualmente negativo dos investimentos feitos pelo setor privado, o que explica o momento de retração geral enfrentado pelo país. De acordo com levantamento divulgado nesta semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de investimento como proporção do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre de 2016 foi a menor dos últimos 13 anos.

Segundo o instituto, o percentual de investimento de 16,5% foi o menor verificado desde 2003, quando o percentual dos investimentos foi de 16,3%. O IBGE destacou que o recuo dos investimentos em relação proporcional ao PIB ocorre de forma contínua desde 2013.

Apesar dos gargalos em vários setores – como a falta de ferrovias ligando regiões produtivas e rodovias importantes que aguardam há décadas pela duplicação –, o Brasil é um dos países que menos investem em infraestrutura. De acordo com o Fundo Monetário Internacional, a média de investimentos em relação ao PIB dos países emergentes chega a 30%, quase o dobro do percentual brasileiro.

Esperança no setor privado A baixa dos investimentos produz um impacto ainda mais duro para a economia mineira segundo avalia o gerente de Estudos Econômicos da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Guilherme Leão.
“Esse cenário de queda influencia diretamente a economia do estado pelas características de nossa estrutura produtiva. Temos uma cadeia fortemente ligada ao minério, com a produção de aço, de cimento e de vários outros derivados do metal. Com a queda dos investimentos, com a paralisação de obras e construções, nossa cadeia produtiva é atingida duramente”, explica.

O economista vê com pessimismo a hipótese de que partirá do próprio governo federal uma ação de estímulo aos investimentos no próximo ano, mas afirma que a esperança de uma retomada está no setor privado, que terá a necessidade de recompor as perdas com três anos seguidos de depreciação. “Para 2017, já sabemos que dificilmente haverá uma retomada por parte dos investimentos públicos. Temos uma crise fiscal gravíssima que afeta municípios, estados e o governo federal. É difícil esperar alguma alavancagem do poder público. A retomada deverá partir da necessidade de recomposição do setor privado.
Chega uma hora em que é preciso recompor máquinas para manter a produção”, analisa Guilherme Leão.

Nas obras de infraestrutura, diante da falta de verbas nos cofres públicos, a aposta do presidente Michel Temer (PMDB) para o próximo ano são as concessões. Mas, segundo Leão, o sucesso do programa de concessões lançado pelo Palácio do Planalto em setembro dependerá de fatores externos e de um ambiente estável para investidores. “O capital externo terá um peso fundamental para mudar esse cenário. O exemplo positivo vem dos aeroportos que já foram concedidos à iniciativa privada e as previsões de investimentos estão mantidas. Caberá ao governo acelerar esse processo”, afirma o economista..