Brasília – Academia de tênis, joias, roupas de marca e restaurantes caros na Europa. A vida de Cláudia Cordeiro Cruz, mulher do ex-deputado Eduardo Cunha, do PMDB, era registrada cotidianamente por meio de fotos publicadas no aplicativo Instagram. Retratos de luxo. E foi o luxo, bancado pelo cartão de crédito abastecido diretamente por contas em nome do marido na Suíça que levaram a jornalista de 48 anos a se tornar ré no Brasil em um processo da Operação Lava-Jato, a maior iniciativa de combate à corrupção da história recente do Brasil.
No tempo em que era apresentadora da TV Globo, na década de 90, Cláudia ficava à frente da bancada de programas importantes da emissora como o RJ TV e Jornal Hoje. Ela começou a carreira na TVE, emissora pública federal. Em 1989, passou a trabalhar na Globo. Carismática, a jornalista emprestou a voz a um canal em que os fluminenses buscavam ajuda quando precisavam localizar alguém do outro lado de uma linha telefônica. O 102 da Telerj, a estatal telefônica do Rio de Janeiro, passou a ter a marca de Cláudia. A empresa era presidida à época por Eduardo Cunha, então com 30 anos. Foi o jovem político que a convidou para prestar o serviço.
Os dois se conheceram em entrevistas feitas pela jornalista, como ela própria conta. É pela voz de Cláudia que Cunha se encantou. A relação evolui para o casamento. Ela deixa o jornalismo e torna-se sócia do político em empresas como a Jesus.com e C3 produções, referência às iniciais de seu nome. Dada a largada ao sonho, do matrimônio nasceu Bárbara, hoje com 19 anos.
“Boa parte dos gastos refere-se a despesas luxuosas em viagens internacionais, diárias em hotéis de luxo, aquisições em lojas de griffe. Parte dos gastos foi efetuado com cartão de crédito diretamente vinculado à Cláuda Cordeiro Cruz”. Assim são descritas as despesas de Cláudia na denúncia, segundo narrativa de despacho do juiz Sérgio Moro em junho passado.
PORSCHE E GINÁSTICA Um Porsche Cayenne e aulas na academia IMG Academies, que já teve como aluna a tenista campeã Maria Sharapova, fazem parte do extrato bancário. Segundo os investigadores da Lava-Jato, tudo foi financiado com dinheiro desviado da Petrobras. E Cláudia sabia disso, como garantem os procuradores.
A jornalista nega. Em todas as entrevistas ou depoimentos prestados às autoridades, ela afirma não ter tido conhecimento da origem do dinheiro e assegura que agiu legalmente. Assim como nega as acusações publicamente, Cláudia reforça o amor pelo marido. “Eu o amo e ele é meu”, disse ela em uma rede social quando Cunha já respondia ao processo de cassação de mandato na Câmara dos Deputados.