O procurador da República Lauro Coelho Jr., coordenador da força-tarefa da Lava-Jato no Rio, afirmou nesta quarta-feira, que a denúncia oferecida na terça-feira, contra o ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB) e mais 11 pessoas no âmbito da Operação Calicute envolve apenas o pagamento de propinas por parte da empreiteira Andrade Gutierrez. A ação da PF, deflagrada em 17 de novembro, levou à prisão preventiva do ex-governador.
Leia Mais
Mulher de Cabral ocupa sozinha cela de penitenciária em BanguCabral: MPF vai investigar joalherias por participação em lavagem de dinheiroSTJ nega liminar e mantém investigações da Justiça Federal sobre CabralDefesa de Dilma pede ao MPF que investigue ex-presidente da Andrade Gutierrez'Sofisticação'
Segundo o procurador Eduardo El-Hage, a organização criminosa que envolve Cabral trabalhava com um nível de "sofisticação muito grande" em termos de métodos de lavagem de dinheiro.
De acordo com El-Hage, o grupo envolvendo Cabral e colaboradores próximos, inclusive ex-secretários de seus governo, "sempre trabalhava com dinheiro em espécie".
A sofisticação é grande, disse o procurador, porque o esquema de lavagem misturava recursos lícitos com ilícitos, pois duas empresas legais, de pessoas próximas a Cabral, eram usadas, a Reginaves, da marca processadora de frangos Rica, e a rede de resorts Portobello.
Em ambos os casos, consultorias de colaboradores de Cabral (Carlos Miranda e Luís Carlos Bezerra) e o escritório da advocacia de Adriana Ancelmo, esposa de Cabral, firmavam contratos fictícios com as empresas, disse El-Hage.
Assim, as duas empresas devolviam o dinheiro para os envolvidos no caso de corrupção, misturando o dinheiro de propina com a receita real das empresas. Conforme El-Hage, é um sistema mais complexo do que apenas usar empresas de fachada, sem funcionários. "O método (de lavagem de dinheiro) mais difícil de identificar é o da mescla, quando mistura recursos lícitos com ilícitos", afirmou El-Hage, em entrevista coletiva que ocorre neste momento na sede do MPF do Rio.
Prisão
A denúncia também pediu a prisão de Adriana Ancelmo, aceita pelo juiz federal Marcelo Bretas. Na denúncia, o Ministério Público Federal descreve os supostos episódios de lavagem de dinheiro que envolveriam, de um lado, o escritório Ancelmo Advogados, e, de outro, empresas de consultoria que pertencem a pessoas próximas de Cabral.
Segundo os procuradores, o fato de agentes da Polícia Federal terem achado R$ 53 mil em espécie na casa de Cabral, ao cumprir mandado de busca e apreensão no local, mostra a necessidade dos pedidos de prisão, afirmaram os procuradores.
"A PF encontrou ontem (terça) mais de 50 mil em espécie. É sinal de que eles continuam a movimentar quantidade grande em valores em espécie", afirmou o procurador Eduardo El-Hage.
Ao todo, na denúncia, são relacionados 21 fatos criminosos de corrupção passiva, lavagem de ativos e pertencimento a organização criminosa.
O procurador da República José Augusto Vagos lembrou ainda que o Tribunal Regional Federal da 2ª Região julgará na tarde desta quarta habeas corpus de dois colaboradores de Cabral que estão presos desde a deflagração da Operação Calicute, um desdobramento da Lava-Jato em parceria entre Ministério Público Federal e Polícia Federal de Curitiba e do Rio. Vagos disse esperar que as prisões sejam mantidas pelos desembargadores..