No dia seguinte à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de mantê-lo no cargo, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), acelerou o ritmo de tramitação do texto de interesse ao governo Michel Temer: a PEC dos gastos. E, mesmo depois de descumprir uma liminar do ministro Marco Aurélio de Mello, de se afastar da presidência da Casa, o peemedebista afirmou que “decisão judicial se cumpre”. Aconselhado por aliados, ele agora deverá deixar para o ano que vem o projeto de lei sobre abuso de autoridade. A avaliação é de que não é hora de comprar mais uma briga com o Judiciário e outros setores, que criticam o projeto. Mas tampouco deve retirar de pauta.
Leia Mais
Senado adia votação de securitização de dívidas por falta de acordoPlenário do Senado mantém contagem de prazo da PEC do Teto por 49 votos a 12Renan comanda primeira sessão plenária do Senado após ser mantido na presidênciaPEC do Teto fere direitos humanos e vai prejudicar os mais pobres, alerta ONUNo comando do Senado, Renan acelera tramitação da PEC do TetoNo lugar do abuso de autoridade, Renan garantiu a votação da PEC dos gastos na próxima terça-feira e abriu ontem três sessões para contar o prazo necessário para colocar a proposta na pauta. O movimento é incomum, principalmente em uma terça-feira. O governo respirou aliviado com a decisão do STF de manter Renan na presidência, justamente porque conseguiria garantir a votação da principal medida de ajuste fiscal, o que poderia ficar ameaçado no caso do afastamento. Já o abuso de autoridade, encampado pelo próprio Renan, não deverá ser votado.
Parlamentares contrários à votação do projeto agora propuseram um requerimento para retirar a urgência da proposta, que está em plenário. Com isso, o projeto faria a tramitação normal, passando pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Renan não colocou o requerimento de retirada de urgência em análise e também não pretende colocá-lo até o recesso parlamentar para evitar ser derrotado.
A estratégia, então, é colocar o projeto do abuso no fim da pauta e arrastá-lo para o ano que vem, já que o recesso começa na próxima sexta-feira. O único entrave na decisão é que em fevereiro há eleições para a Mesa da Casa, portanto, o projeto cairia no colo do líder do PMDB, Eunício Oliveira, que deve ficar no comando do Senado. Hoje, o próprio PMDB se opõe a colocar a proposta em votação neste ano.
Na última semana, antes de ser afastado e descumprir a decisão do STF, Renan acabou perdendo em plenário ao tentar colocar um pedido de urgência para votar o pacote anticorrupção que foi aprovado na Câmara dos Deputados. O relator do projeto de abuso de autoridade, que recebeu críticas do juiz federal Sérgio Moro, responsável pela Lava-Jato, e outras entidades representantes do Ministério Público, por exemplo, Roberto Requião (PMDB-PR) diz estar pronto para votar.
Questionado sobre a pauta e o pedido de urgência, Renan respondeu: “Eu já convoquei publicamente”. Mas não disse quando colocaria em pauta o requerimento. A prioridade é a PEC que limita o aumento dos gastos públicos, atrelado à inflação do ano anterior, por 20 anos.
SUPREMO Um dia após o Pleno do Supremo manter Renan na presidência do Senado, o ministro do STF, Edson Fachin, deu cinco dias para que a Procuradoria-Geral da República se manifeste sobre a ação cautelar em que o procurador-geral Rodrigo Janot pede o afastamento do de Renan da presidência do Senado por ter se tornado réu em ação penal por peculato.
Os argumentos apresentados pela PGR na ação cautelar para pedir o afastamento de Renan se assemelham aos do ministro Marco Aurélio Mello – aceitos apenas em parte pelo Pleno –, proibindo que o senador venha a assumir a Presidência da República, mas salvaguardando-lhe o cargo de presidente do Senado. No despacho de ontem, Fachin, relator da ação cautelar, menciona a decisão do Pleno. Janot pode retirar o pedido de afastamento, mantê-lo nos moldes como foi feito ou ainda formular uma nova fundamentação.
Elogios ao vice
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), elogiou a atuação do vice-presidente Jorge Viana (PT-AC) na “solução da crise”.