Jornal Estado de Minas

Ex-assessora de Sérgio Cabral relata que despesas pessoais pagas com propinas superavam R$ 220 mil

Em depoimento à Polícia Federal (PF), a ex-secretária e ex-assessora do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB) Sonia Ferreira Baptista contou que o peemedebista tinha gastos mensais de cerca de R$ 220 mil, incluindo despesas com funcionários, médicos, condomínio, seguro de carros e outras. Ainda segundo ela, esses pagamentos de Cabral e da família de seu primeiro casamento eram quitados por Carlos Miranda, que a Procuradoria chama de Homem da Mala, e Luiz Carlos Bezerra, outro acusado de ser operador financeiro de Cabral e que também é réu na Operação Calicute.


Atualmente, o político está no segundo casamento e sua atual mulher, Adriana Ancelmo, está presa, assim como ele, ambos alvos da Operação Calicute, desdobramento da Lava-Jato. Miranda e Bezerra são apontados pela Procuradoria da República como os responsáveis por receber e movimentar a propina destinada ao grupo criminoso supostamente liderado por Cabral.

Sonia compareceu à Superintendência da Polícia Federal no Rio para prestar depoimento após ser intimada pelos investigadores, que apuram a movimentação financeira da organização de Cabral e que teria movimentado R$ 224 milhões em propinas. Ela contou aos investigadores que conhece o ex-governador há 32 anos, tendo sido secretária do pai da primeira mulher de Cabral, além de ter trabalhado para o ex-governador na Assembleia Legislativa do Rio quando ele virou presidente da Casa e, posteriormente, como comissionada no escritório do peemedebista no Rio quando ele foi senador.

A partir de 2007, quando Cabral assumiu o governo do Rio, Sonia disse que passou a gerenciar “a vida e gastos pessoais da família do primeiro casamento de Sérgio Cabral com Suzana Neves Cabral (primeira mulher do ex-governador)”. Em seu depoimento, Sonia não cita os nomes de nenhum dos filhos do peemedebista e nem faz acusação a seus familiares, mas revela que quem cuidava dos pagamentos era Carlos Miranda. “Que não gerenciava valores, mas apenas fazia uma relação de gastos e encaminhava para Carlos Miranda para que o mesmo pudesse fazer os pagamentos necessários”, relatou Sonia à PF.

CONTRATOS Ela disse ainda ter entrado como sócia na empresa de consultoria Gralc por iniciativa de Miranda, dono da companhia. Com apenas 1% na sociedade, Sonia diz que nunca recebeu nenhuma remuneração por seu papel na empresa, mas que as “contas pessoais de Sérgio Cabral eram levadas até Carlos Miranda na sede da empresa Gralc para pagamento”. Com apenas um funcionário e criada quando Cabral chegou ao governo do estado, a Gralc recebeu R$ 13 milhões por supostas consultorias entre 2007 e 2014, muitos dos pagamentos vindos de empresas que os investigadores suspeitam ser de fachada.

Além disso, Miranda foi citado por ao menos seis delatores como o indicado por Cabral para receber as propinas da ordem de 5% acertadas entre empreiteiros e o então governador relativas aos contratos de obras milionárias do governo do Rio.
Além de Miranda, Sonia citou Luiz Carlos Bezerra, outro acusado de ser operador financeiro de Cabral e que também é réu na Operação Calicute. Em relação a ele, ela disse manter uma relação de “coleguismo” e que costumava encontrá-lo em campanhas políticas de Cabral.

Propinas de R$ 25 milhões

O Ministério Público Federal aponta que a propina exigida à empreiteira Andrade Gutierrez pelo ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB), durante sua gestão, alcança a fortuna de R$ 25 milhões. Os valores saíram de contratos de obras firmados entre o estado e a companhia. Cabral é réu por corrupção, lavagem de dinheiro e quadrilha/pertinência à organização criminosa. Ele foi preso em 17 de novembro na Operação Calicute. Está recolhido no Bangu 8. Sua mulher, Adriana Ancelmo, também foi capturada por ordem da Justiça Federal e ocupa uma cela na ala feminina do Bangu.
A acusação da Procuradoria da República aponta para um “esquema de cartelização de empreiteiras e pagamento de propina a agentes públicos em grandes obras de construção civil realizadas pelo denunciado Sérgio Cabral, algumas delas custeadas com recursos federais”.

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