Brasília – O presidente da República, Michel Temer (PMDB), convocou reunião de emergência com o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e outros ministros de governo ontem à tarde para avaliar o conteúdo do vazamento das delações do ex-diretor da Odebrecht Cláudio Melo Filho à força-tarefa da Lava-Jato e discutir medidas para a retomada da economia ainda este ano. O encontro, no Palácio do Jaburu, contou com a equipe econômica do governo e da área de investimentos.
As denúncias do ex-executivo da empreiteira vazaram às vésperas de o Congresso decidir sobre temas importantes, como a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Teto dos gastos públicos, com votação marcada para amanhã no Senado, e o pacote de medidas contra a corrupção. Também coincide com o início da tramitação da reforma da Previdência. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, já informou que solicitará abertura de investigação para apurar o vazamento do documento sigiloso com a delação premiada de Cláudio Melo Filho. “O vazamento do documento que constituiria objeto de colaboração, além de ilegal, não auxilia os trabalhos sérios que são desenvolvidos e é causa de grave preocupação para o Ministério Público Federal, que segue com a determinação de apurar todos os fatos com responsabilidade e profissionalismo”, informou, por meio de nota.
Segundo o líder do PSD, o deputado federal Rogério Rosso (DF), que esteve com Temer na tarde de ontem, o presidente recebeu a equipe econômica durante a noite para tratar de um pacote de medidas para recuperar a geração de empregos no país, a ser lançado nesta semana. Temer conversou ainda com o secretário-executivo do Programa de Parceria de Investimentos, Moreira Franco, um dos citados na delação do ex-executivo da Odebrecht.
EMPREGO E RENDA De acordo com Rosso, “a prioridade” do governo federal “é a retomada da economia”. “No Senado, a PEC dos gastos. E, na Câmara, a reforma da Previdência. O foco é o ajuste fiscal e o presidente disse que confia nas instituições e na independência dos poderes, principalmente do Judiciário”, comentou o deputado. O líder do PSD confirmou que a reunião tratou de um pacote de medidas, que deve ser lançado nesta semana. “São uma série de ações para geração de emprego e renda no curto prazo”, afirmou.
O Palácio do Planalto reagiu aos vazamentos com “preocupação” e sem “ingenuidade”, segundo já havia dito o próprio presidente. A ordem de Temer é evitar muitos comentários, reforçar que as delações precisam ser comprovadas e que o governo tem que “continuar trabalhando” pelo país.
O anexo da delação de Cláudio Melo Filho traz menções a ministros e parlamentares. No total, cerca de 50 políticos são citados pelo executivo. Na lista de nomes mencionados, além do presidente da República, Michel Temer, e dos presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Renan Calheiros (PMDB-AL), o executivo cita 3 ministros de Estado, um secretário do núcleo duro do governo, ao menos sete ex-ministros, além de senadores, deputados, ex-parlamentares e assessores.
O Palácio do Planalto negou a denúncia contra Temer e afirmou que o presidente repudia “com veemência as falsas acusações do senhor Cláudio Melo Filho”. “As doações feitas pela Construtora Odebrecht ao PMDB foram todas por transferência bancária e declaradas ao TSE. Não houve caixa 2, nem entrega em dinheiro a pedido do presidente”, completa nota divulgada à imprensa.