Genebra, 13 - Depois de fechado um entendimento inicial com a Procuradoria-Geral da República, o acordo de leniência entre a Odebrecht e o Departamento de Justiça dos Estados Unidos pode ser assinado no próximo dia 21.
No total, a empresa pagaria um valor recorde de R$ 6,7 bilhões, que seriam divididos entre Brasil, EUA e Suíça. No caso brasileiro, a previsão é de que a Procuradoria fique com cerca de metade desse valor, enquanto a Suíça, US$ 200 milhões.
Os americanos solicitaram aos investigadores brasileiros dados sobre o valor movimentado pela construtora nos EUA e os bancos envolvidos.
Suíça
Questionado se também faria a viagem ao Brasil, no dia 21, a procuradoria-geral da Suíça se recusou a comentar. Mas enquanto o acordo com os americanos se aproxima de uma conclusão, autoridades suíças indicam que as investigações sobre contas relacionadas com a Operação Lava Jato no Brasil vão continuar e acrescentam que o processo aberto na Suíça em 2016 não faz considerações políticas para ser realizado.
Mais de mil contas secretas foram congeladas desde 2014 pelos suíços em nome de políticos, empresários, ex-diretores da Petrobras e companhias de fachada usadas pela Odebrecht. Os dados mantidos pelos suíços são considerados como fundamentais para avaliar a veracidade das delações no Brasil, assim como traçar o destino da propina.
À reportagem, funcionários do Departamento de Justiça e da Polícia da Suíça indicaram que o processo relativo ao Brasil e a cooperação com a Justiça brasileira serão mantidos. Nos bastidores, o governo suíço admite que tem acompanhado de perto os últimos acontecimentos no País e que a embaixada suíça no Brasil tem informado "de forma regular" sobre as pressões que a Lava Jato tem sofrido, assim como o procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Um tom parecido foi adotado pelo procurador-geral da Suíça, Michael Lauber, responsável pela investigação em Berna. "Não fazemos política", declarou. "Mas estamos em um ambiente político e sabemos que nossa investigação pode ter um grande impacto político", admitiu.
Ele cita como exemplo o caso da investigação aberta pelos suíços contra o 1MDB, um fundo da Malásia. O governo de Manila não quis colaborar, apesar de dois pedidos enviados por Berna. Mas, mesmo assim, o MP suíço manteve o caso e continuou a investigar as suspeitas de corrupção.
Segundo Lauber, o avanço das investigações na Suíça está também ligado aos indiciamentos e acusações apresentadas em Brasília. "Quando existem indiciamentos no Brasil, podemos avançar aqui", disse.
'Diálogo'
Lauber teceu elogios à PGR no Brasil. "Temos uma grande cooperação com Rodrigo Janot e baseado nisso, desenvolvemos uma estratégia comum", disse. Segundo ele, um dos pontos de sucesso da cooperação entre os dois países tem sido o fato de que um diálogo foi estabelecido entre os dois lados. "Precisamos discutir primeiro o que eles (brasileiros) precisam e o que nós precisamos deles", disse o procurador.
Desde 2014, cerca de 60 processos criminais foram abertos na Suíça relativos à Lava Jato. As mais de mil contas foram encontradas em 42 bancos. Parte substancial desse volume de casos se refere à Odebrecht, que movimentou pelo menos US$ 211 milhões em pagamentos suspeitos usando contas secretas na Suíça.
Mas as informações confiscadas pelos suíços também podem apontar novos caminhos da investigação. Foi em Genebra que a polícia deteve Fernando Migliaccio, um dos responsáveis na Odebrecht pelo pagamento de propinas. Também na Suíça quatro empresas de fachada haviam sido criadas para controlar contas que serviam como uma rede de pagamento de corrupção e abastecimento de campanhas eleitorais na América do Sul e na América Central.
Por quase um ano, a Odebrecht tentou evitar que os dados fossem transferidos ao Brasil, apresentando recursos na Justiça suíça. Mas, em outubro, o Tribunal Superior do país decretou que a colaboração era legal e que cerca de 2 mil páginas de extratos bancários e documentos envolvendo a Odebrecht seriam enviados ao Brasil.