Polêmico, explosivo, sem papas na língua. As inconfundíveis marcas do prefeito Alexandre Kalil (PHS) durante a campanha pela Prefeitura de Belo Horizonte – e que o acompanham desde a presidência do Atlético Mineiro – todo mundo já conhece. No comando da capital mineira há uma semana, o ex-cartola e agora político já deu as primeiras mostras do “jeitinho” Kalil de administrar. E uma coisa é certa: as brigas com a burocracia e a formalidade serão constantes.
A começar do vestuário. Avesso ao terno, o prefeito só vai usar o traje formal em caso de extrema necessidade. No dia a dia, vai manter a calça jeans e blusa de malha, estilo polo. Da escolta, no entanto, ele não conseguiu escapar. Por um ato falho, ele até exonerou dois oficiais de gabinete e cinco assessores de segurança.
Na segunda-feira, um dia depois da posse, ele sentiu isso na pele. Segundo aliados mais próximos, Kalil saiu pela Avenida Afonso Pena à procura de um restaurante para almoçar em companhia da secretária de Comunicação e chefe de Gabinete, Adriana Branco. Poucos passos e o assédio da população foi grande. Moral da história: desde então, o prefeito tem optado por almoçar no gabinete. Um funcionário é encarregado de comprar e levar o marmitex até Kalil.
Assessores garantem que ele ainda não teve tempo de fazer uma “sestazinha” na sala de descanso que fica no gabinete. Mas o que parece incomodar mais o prefeito é a impossibilidade de fumar dentro da prefeitura. A legislação veda a prática dentro de prédios públicos. E há quem garanta que ele está cumprindo à risca a regra. “O humor dele tem variado por causa do cigarro”, diz um aliado.
Talvez as inúmeras reuniões tenham ajudado Kalil a esquecer o vício. Além do vice-prefeito Paulo Lamac (Rede), que também é secretário de Governo, o titular do Planejamento, André Reis, e Adriana Branco estão no topo da lista dos que mais despacham com o novo prefeito. O primeiro, em razão dos acertos finais da reforma administrativa que será enviada em breve para a Câmara Municipal. Adriana Branco, por ser o braço direito dele desde os tempos do comando do Atlético.
Pelo menos por enquanto não há nada no gabinete que remeta ao clube do coração.
Nos primeiros dias, não foram poucos os casos de pessoas que passaram pelas portas da prefeitura na Avenida Afonso Pena e na Rua Goiás perguntando pelo prefeito. “Muitos dizem que querem conversar com ele para pedir emprego ou que querem vê-lo de perto”, conta um dos guardas municipais escalados para fazer a segurança da sede da PBH.
FATO POLÍTICO
O tempo que o prefeito tem passado no local de trabalho é grande: chega à sede da PBH por volta das 10h, em carro oficial dirigido pelo motorista que o acompanha há vários anos, e sai por volta das 21h. Sempre escoltado por um capitão da Polícia Militar. Durante a primeira semana, além de empossar seu secretariado, Kalil recebeu ao menos 200 pessoas, individualmente ou em grupos, com quem tratou de assuntos variados.
Mas o fato político mais importante dos primeiros dias foi certamente a reunião com os vereadores que compõem a nova Mesa Diretora da Câmara Municipal, na quinta-feira. Após uma tumultuada eleição do comando da Casa, que terminou com a derrota do grupo ligado ao prefeito, Kalil festeja o apoio do grupo, que deve garantir a ele a maioria no Legislativo para aprovar projetos de interesse do Executivo. Entre aliados já se fala que a base governista pode reunir 39 dos 41 vereadores. E o prefeito já avisou que vai conduzir pessoalmente as conversas com os vereadores: “Ninguém fala por mim”.
TEMA SENSÍVEL
Uma das figuras mais presentes no gabinete é o chefe da Defesa Civil, coronel Lucas, com quem o prefeito tem discutido as questões das chuvas que assolaram a capital no mês passado e das ocupações pela cidade. Amanhã já está agendado novo encontro com o coronel, às 9h, para tratar dos efeitos dos temporais, mas, desta vez, com a presença de todos os secretários.
Com uma agenda cheia e sem horário para chegar em casa, Kalil já lamentou que terá menos tempo para a leitura.
RECONTRATAÇÕES
O prefeito Alexandre Kalil (PHS) cancelou a exoneração de 332 servidores municipais. A Secretaria de Governo publicou no Diário Oficial do Município (DOM) de ontem atos tornando sem efeito as exonerações feitas na segunda-feira, quando cerca de 2,8 mil servidores foram desligados da PBH. Ao tomar posse, Kalil afirmou que considerava “mais fácil recontratar a conta-gotas do que demitir a conta-gotas”. A maioria dos nomes (75) faz parte dos quadros da Procuradoria-Geral do Município. Entre os atos do prefeito publicados ontem está também a designação da secretária de Assuntos Institucionais e Comunicação Social, Adriana Branco, para acumular os cargos interinamente de chefe de Gabinete do prefeito e chefe de Assessoria de Comunicação.
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