Homologação de delações da Odebrecht ampliará ação da Lava-Jato

Operação deve se expandir para outros estados em fevereiro. PMDB deve ser um dos focos da investigação, que completará três anos

Eduardo Mutilão Iracema Amaral
Fim do recesso da Justiça deve trazer novos nomes dos meios políticos e empresariais para o centro das ações da Polícia Federal - Foto: ALOíSIO MAURíCIO/FOTOARENA/ESTADãO CONTEúDO /7/16

Fevereiro promete dar mais um fôlego à Operação Lava-Jato com o fim do recesso da Justiça. A expectativa para o próximo mês é que o ministro Teori Zavascki, relator do processo que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF), comece a homologar as delações premiadas dos executivos da maior construtora do país, a Odebrecht. Há indícios também, nos bastidores de Brasília, de que o deputado cassado e ex-presidente afastado da Câmara Eduardo Cunha (PMDB/RJ), preso desde outubro passado, deverá fechar acordo com o Ministério Público para delatar informações para esquentar ainda mais a operação, que completará três anos em março.

As ações ostensivas da Lava-Jato dobraram de tamanho em 2016. Se nos dois primeiros anos do caso foram 24 fases para cumprir mandados de prisão, busca e conduções coercitivas, o número passou para 28 apenas no ano passado. Ou seja, das fases e desdobramentos da investigação, 54% ocorreram nesse período, quando a investigação se tornou mais nacional. Em 2014 e 2015, as ações se concentravam apenas no Paraná, com três operações ordenadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2015, e uma única em Rondônia — Crátons, que mergulhou no comércio ilegal de diamantes. Agora, mais cinco estados participaram das apurações, com destaque para o Rio de Janeiro e Goiás, que abriram novas frentes de apuração e ainda conseguiram reunir provas para impulsionar casos anteriores, como desvios do bicheiro Carlinhos Cachoeira e da Ferrovia Norte-Sul.

Para este ano, fontes ligadas ao caso avaliam que o alvo principalmente pode ser o PMDB. Dois seriam os motivos: o primeiro é que a delação da Odebrecht deve trazer à tona operadores que informarão o caminho do dinheiro a pessoas ligadas à sigla, sobre as quais havia informações preliminares, mas não como eram feitos os repasses de propina.
O segundo é que os documentos e informantes sobre o PT já são abundantes e não necessitariam de novos dados, embora os executivos da Odebrecht, como Marcelo Bahia, possam confirmar o que se já tinha em relação a figuras como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, quem sabe, trazer informações adicionais.

O petista responde a cinco ações penais relacionadas ao caso e está envolvido em mais duas operações policiais. Para investigadores ouvidos pela reportagem, já haveria provas da posse oculta de imóveis por Lula. A delação da Odebrecht pode confirmar isso e ainda trazer elementos para ligá-lo a suposto esquema de desvios em estatais em troca de apoio político. Outras delações devem esquentar o ano. Um dos empreiteiros que está em nova tentativa de fechar acordo é Léo Pinheiro, da OAS. O juiz Sérgio Moro autorizou que ele continuasse na Superintendência da PF em Curitiba enquanto tenta outra negociação com os investigadores.

ESTATAIS Uma fonte ligada ao caso acredita que o trabalho de apuração está quase concluído em relação à Petrobras, foco inicial da Lava-Jato. As operações Abismo e Vício detiveram personagens do segundo escalão do esquema de desvio na estatal. A ideia é manter o foco no mercado naval, com atenção aos empreendimentos ligados à exploração do pré-sal e à construção e navios-sonda.

As instituições financeiras são outro alvo potencial da Lava-Jato. Para investigadores e delegados, muitos crimes poderiam ter sido evitados se elas tivessem adotado sistemas de controle mais rigorosos. O doleiro Alberto Youssef, que foi condenado no caso Banestado, não poderia movimentar determinada soma de dinheiro por dia sem que os bancos alertassem o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Da mesma forma, empresas que comercializam joias de alto valor não poderiam receber tanto dinheiro em espécie do ex-governador do Rio Sérgio Cabral sem avisar as autoridades, analisa uma fonte ouvida pelo Estado de Minas.

A delação da Odebrecht deve incrementar a própria dinâmica da Lava-Jato de se espalhar pelos estados. Se em 2016 a operação fincou mais raízes fora do Paraná, principalmente no Rio de Janeiro, a tendência é que isso aumente. Bahia e São Paulo, palco de grandes obras estaduais, e cidades-sede de estádios da Copa do Mundo devem fazer parte do calendário do roteiro da Lava-Jato: operação com buscas e prisões, indiciamentos, denúncia, início de processo penal e sentença..