O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PHS), mandou nesta terça-feira um recado claro aos vereadores de Belo Horizonte: o líder de seu governo na Câmara Municipal é uma escolha pessoal e não cabe interferência dos parlamentares. O comentário foi feito à reportagem ao ser questionado sobre a indicação de Gilson Reis (PCdoB) para a cobiçada função. Em reunião no gabinete do prefeito na segunda-feira, o comunista aceitou o cargo, causando surpresa na base aliada do prefeito. Nos bastidores, os vereadores defendem que deveria ser convidado para a liderança alguém que o apoiou desde o início da legislatura.
Kalil alegou que Gilson tem o que ele considera “perfil de líder”. “Um líder tem que brigar e acreditar”, resumiu o prefeito. Representante da esquerda, e ligado a movimentos sociais, Gilson Reis iniciou as costuras políticas para uma ambiciosa meta: manter os 41 vereadores na base aliada. Para isso, já no dia seguinte à indicação ao cargo pelo prefeito se reuniu com o presidente da Casa, Henrique Braga (PSDB), e com o grupo de vereadores de seu campo.
“Conversamos sobre os objetivos daqui pra frente. Como líder, tenho que fazer política 24 horas”, afirmou. Gilson Reis não antecipou quais serão os primeiros projetos do prefeito Alexandre Kalil, além da reforma administrativa que será enviada ao Legislativo para votação na volta dos trabalhos, em 1º de fevereiro. “O primeiro desafio é unificar a Câmara em torno do bem da cidade. Temos muitos problemas de BH para enfrentar e queremos ter 41 vereadores para contar neste projeto”, disse.
Acostumado a ser oposição em seu primeiro mandato – Gilson Reis deu trabalho ao ex-prefeito Marcio Lacerda (PSB) –, o vereador disse que não terá problema com colegas com os quais teve embates até pouco tempo. Ele lembra que quase 60% da Câmara é composta por novos nomes e diz ter experiência em dialogar. “Na própria oposição buscava apoio para discutir as coisas. Sempre me coloquei no papel de negociador”, afirma.
Gilson Reis disse que na conversa com Kalil em que seu nome foi oficializado para a liderança, o prefeito disse estar aberto a conversas com os vereadores. “Está disposto a acertar projetos, diferentemente de Lacerda, se coloca como negociador para resolver os problemas da cidade.” De acordo com o líder de governo, as demandas dos servidores públicos são um assunto que terá atenção especial do prefeito. “Será uma engenharia totalmente diferente da do governo anterior. Temos 500 obras do Orçamento Participativo paradas para ser executadas. O que o Kalil tem anunciado é que vai cuidar das pessoas que mais precisam”, disse.
Além da conversa com Henrique Braga, o novo líder se encontrou com Áurea Carolina e Cida Falabella, ambas do PSOL, e com os vereadores Arnaldo Godoy e Pedro Patrus, do PT. O grupo dos cinco chegou a lançar um documento de propostas da esquerda para a Câmara em dezembro, nas quais defendiam um Legislativo transparente e com recursos otimizados, além de independência em relação ao Executivo.
Articulação
O vereador disse que também conversará com os líderes dos partidos para começar a tratar de uma agenda para a Casa. Gilson Reis assume a função de articular as principais votações e angariar apoio para as propostas de interesse do Executivo municipal. Ele acredita que as relações entre a Casa e o prefeito estejam em harmonia. “O governo vai conversar com todos, do mais novato ao mais antigo. A própria Mesa, que em tese foi eleita em contraposição ao governo, já anunciou apoio.”
Na eleição, o partido de Gilson Reis apoiou a candidatura do PT à prefeitura, do deputado federal Reginaldo Lopes. No segundo turno, contra o tucano João Leite, o PCdoB deliberou pelo apoio a Kalil, mas o então candidato disse que não queria que caciques embarcassem em sua campanha. Na ocasião, o agora prefeito criticou uma carta do PCdoB em que o partido dizia que o voto em João Leite era contra forças atrasadas e golpista. Kalil divulgou um vídeo dizendo que não queria entrar na briga nacional. “Não me usem para um discurso raso”, disse na época.