Preso em Bangu, Eike divide cela comum com presos da 'faxina'

Depois de três dias foragido, empresário Eike Batista, que já foi o sétimo mais rico do mundo, é detido ao desembarcar e enviado para complexo penitenciário no Rio

Paulo Nogueira
O empresário teve a cabeça raspada e ficará a pão e manteiga - Foto: Fábio Motta

Da revista Forbes, como o sétimo homem mais rico do mundo em 2012 (US$ 30 bilhões), para as manchetes criminais cinco anos depois. De Nova York para uma cela de 15 metros quadrados, com três beliches de concreto, sem vaso sanitário e um cano de água fria como chuveiro, em Bangu 9.

Ele está em cela comum no Presídio Bandeira Stampa, conhecido como Bangu 9. A unidade abriga os presos de “faxina”, aqueles que fazem o trabalho interno nos presídios.

Em Bangu 9, Eike terá direito a duas horas de banho de sol e café com lei e pão com manteiga no café da manhã. Os detentos almoçam arroz ou macarrão, feijão, carne, frango ou peixe, salada, refresco e fruta ou doce de sobremesa. O lanche tem suco e bolo. O empresário terá direito a visitas depois que seus familiares fizerem a carteirinha de cadastro, que demora, em média, 15 dias para ficar pronta. Cada preso recebe duas visitas por semana.


Depois de três dias foragido, após ter sua prisão preventiva decretada, o empresário Eike Batista foi preso nesta segunda-feira ao chegar da cidade americana.
Ele foi detido às 10h30, assim que a aeronave pousou na pista do Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão), vinda de Nova York. A tranquilidade do executivo surpreendeu os demais passageiros.

O cantor João Senísio, que passava férias em Nova York, contou que Eike não demonstrou nervosismo durante o voo e parecia não se preocupar com o fato de ser preso. “Ele dormiu a maior parte da viagem e pareceu estar bem tranquilo. A impressão que tivemos é que ele não teme ser preso. Antes de entrar no avião, tirou fotos com pessoas que estavam no saguão do aeroporto. Dentro do avião, ele se sentou em uma fileira sem ninguém ao lado, na classe executiva. O avião não tinha espaço destinado para a primeira classe”, informou o artista.


Do Galeão, Eike foi levado para a sede do Instituto Médico Legal, no Centro, para exame de corpo de delito. Em seguida, foi com escolta policial para o Presídio Ary Franco, em Água Santa, na Zona Norte. Passou por triagem e teve a cabeça raspada, mas, por questão de segurança, acabou transferido para uma unidade do Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, na Zona Oeste.


Uma fonte informou que a própria Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) entendeu que o empresário deveria ir para um lugar mais seguro do que o Ary Franco. Em meados de janeiro, o presídio Bandeira Stampa precisou ser esvaziado temporariamente para receber milicianos e ex-PMs que foram transferidos para lá. Eles deixaram Bangu 6 em uma medida da Seap para evitar confrontos entre facções e milícias dentro do presídio e acalmar os detentos.

Com a mudança, apenas traficantes ficaram.

Os outros detidos nos desdobramentos da Operação Lava-Jato no Rio, como o ex-governador Sérgio Cabral, foram encaminhados para Bangu 8 por terem diploma universitário, mas Eike não concluiu sua formação em engenharia.


Propina


Eike estava foragido desde quinta-feira, quando a Polícia Federal tentou cumprir um mandado de prisão preventiva contra ele, como parte da Operação Eficiência, que investiga esquema de corrupção montado pelo ex-governador Sérgio Cabral. O empresário é investigado por um suposto repasse de US$ 16,5 milhões em propina a Cabral.

O ex-bilionário deixou o Brasil dois dias antes da operação da PF, no dia 24. A prisão dele estava decretada pela Justiça do Rio desde 13 de janeiro.

O advogado de Eike, Fernando Martins, chegou ao Ary Franco antes do comboio da Polícia Federal que levava o empresário. Segundo Martins, ele ainda discutiria com agentes da polícia e Ministério Público Federal para determinar quando o empresário prestará depoimento. Martins disse que conversaria com seu cliente e tomaria ciência da situação do Eike para decidir a estratégia de defesa. “Estamos tomando as medidas jurídicas cabíveis no sentido de preservar a integridade física dele. A prioridade é preservar a integridade física dele. Não por se tratar do Ary Franco, mas de qualquer instituição”, declarou Martins.


A LIMPO
“A Lava-Jato está passando o Brasil a limpo de uma maneira fantástica.

Digo que o Brasil que está nascendo agora vai ser diferente. Porque você vai pedir suas licenças (para obras), vai passar pelos procedimentos normais, transparentes, e, se você for melhor, você ganhou e acabou a história”, afirmou Eike à Rede Globo, ainda no aeroporto de Nova York. Indagado sobre se tinha receio ao chegar ao Brasil, ele disse. “Não, estou à disposição da Justiça, como um brasileiro cumprindo o meu dever. Estou voltando, essa é a minha obrigação.”

Quanto à sua perda de liberdade, afirmou: “Olha, aquele negócio, se foram cometidos erros, você tem que pagar pelos erros que fez. É assim, né?” “Você cometeu erros? perguntou o repórter. “Acho que não”, respondeu o empresário. “Eles (Polícia Federal e Procuradoria da República) o acusam de pagar propinas.Você vai admitir? “Como falei, não posso passar isso para ningiuém antes. Não fica legal.” (Com agências)

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