A menção a "passar o Brasil a limpo" foi feita em maio de 2016, a dois procuradores da República que integram a força-tarefa da Operação Lava-Jato, em Curitiba, e repetida pelo empresário, na noite deste domingo, à uma equipe da Rede Globo, antes de embarcar em Nova York, para ser preso no Brasil.
"A Lava-Jato está passando o Brasil a limpo de uma maneira fantástica. Eu digo que o Brasil que está nascendo agora vai ser diferente."
Limpo
Considerado foragido desde Quinta-feira passada, dia 26, quando foi decretada sua prisão preventiva na Operação Eficiência, um desdobramento da Lava-Jato, que apura repasse de US$ 16,5 milhões em propinas pelo empresário para o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), Eike é um dos novos candidatos a delator - mais de 20 negociações de colaboração premiada estão em andamento, em Curitiba.
Ex-controlador do Grupo EBX, o empresário pode falar a investigadores sobre seus negócios na Petrobras - em especial, sobre a exploração do pré-sal e também dos campos de gás - e expandir as apurações para outras áreas.
Uma delas são as concessões de empréstimos do BNDES. O grupo foi um dos beneficiados com valores do banco, antes da falência. O ex-presidente da instituição Luciano Coutinho é alvo das investigações da Lava Jato, em Curitiba e Brasília.
Oito meses atrás, Eike procurou espontaneamente a Lava Jato para falar sobre seus depósitos na conta secreta do marqueteiro do PT João Santana - preso meses antes, acusado de receber propinas da Odebrecht. O empresário alertou os procuradores sobre as concessões de empréstimos e os bens oferecidos como lastro oferecidos nas transações financeiras. "Você bota o que quiser (como garantia), uma fazenda que não vale nada, o cara avalia por um trilhão de dólares, é fácil né."
Eike procurou o Ministério Público Federal naquele dia 20 de maio de 2016 para falar sobre os contratos de construção das plataformas P-67 e P-70, vencidos pelo Consórcio Integra Offshore (formado pela Mendes Júnior e OSX Construção Naval) - negócios de US$ 922 milhões, assinado em 2012.
O delator da Lava-Jato, Eduardo Musa, que foi gerente da área responsável pelo contrato na Diretoria Internacional da Petrobras, até 2009, e virou diretor da OSX - na época do negócio - falou sobre propina nesse contrato.
O cerco contra Eike fechou quando seu nome apareceu associado á uma conta de empresa offshore - a Golden Rock Foundation -, que depositou valores na conta secreta do marqueteiro do PT.
Eike decidiu então buscar a Lava Jato. Foi ouvido pelos procuradores da República Roberson Pozzobon e Julio Motta Noronha, da força-tarefa, em Curitiba.
O empresário contou que repassou R$ 5 milhões para uma conta indicada pela mulher e sócia do marqueteiro do PT, Mônica Moura, a pedido do ex-ministro da Fazenda Guido e Mantega - mas negou tratar-se de propina.
O "depoimento espontâneo" de Eike livrou-o de ser preso na 34ª fase da Lava Jato (Operação Arquivo X), deflagrada em setembro de 2016, que levou para a cadeia o ex-ministro Mantega - solto no dia seguinte, pelo juiz federal Sérgio Moro, de Curitiba.
No depoimento, o empresário afirmou que estava disposto a colaborar com as investigações.
BNDES
Antes de encerrar a oitiva, em maio, os procuradores perguntaram a Eike sobre os financiamentos públicos em seus negócios.
"Olha, 2012, nós tínhamos recursos no BNDES. Sim. 10% do nosso…", respondeu o empresário. "Eram empréstimos que eram garantidos por bancos privados e meus avais com todo meu patrimônio."
O empresário afirmou que sobre o BNDES, entregou todo o patrimônio como garantia. "Que negócio é esse?", questionou Eike. "O dinheiro do BNDES deve ser investido, então a minha crítica, sinceramente, olhe para os outros que não deram seus avais pessoais, que ai que está a grande sacanagem", advertiu Eike.
O empresário começou seu depoimento espontâneo agradecendo a oportunidade dada pelos procuradores da Lava-Jato para "esclarecer" fatos e evitar "mentiras" publicadas. "Eu já constatei três mentiras repetidas três vezes na mídia que acabam virando uma verdade”, afirmou o empresário.
Eike ficará preso em uma cela comum, reservada aos encarcerados da Justiça Federal. Se quiser buscar uma colaboração premiada com a Lava Jato, terá que negociar com pelo menos três forças-tarefas: a do Rio - que decretou sua prisão -, a de Curitiba e a de Brasília.