Rio de Janeiro - O empresário Eike Batista depôs ontem à tarde na sede da Superintendência da Polícia Federal, na zona portuária do Rio, onde foi ouvido pelos titulares da Delegacia de Combate ao Crime Organizado e de Desvio de Recursos. Os procuradores Eduardo El Hage e Leonardo de Freitas, coordenador da força-tarefa da Operação Lava-Jato no Rio, acompanharam o depoimento. Mas não foi divulgada qualquer informação sobre o depoimento. O advogado de Eike, Fernando Martins, que acompanhou o empresário à PF, disse que “a princípio não há possibilidade de delação” por parte do empresário. Eike entrou na PF às 14h45 e depôs durante duas horas. Preso na Penitenciária Bandeira Stampa, conhecido como Bangu 9, desde segunda-feira, ele chegou em uma caminhonete preta da PF, escoltado por outra viatura. Algumas pessoas esperavam a chegada do lado de fora e entoaram gritos de “ladrão, ladrão” no momento em que ele desembarcou, no estacionamento interno. Eike estava com uniforme de preso: calça jeans, camiseta e sandálias. No depoimento, Eike confirmou que pagou US$ 16,5 milhões de propina ao ex-governador do Rio Sérgio Cabral Filho, segundo o colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo. Antes de embarcar para o Brasil, Eike sinalizou em entrevistas que pretende colaborar com as investigações, ao afirmar que vai mostrar “como as coisas são”. O advogado dele chegou a dizer, na porta do Presídio Ary Franco, na Zona Norte do Rio, que ainda não tinha estratégia de defesa definida. A expectativa é que ele opte por uma delação premiada, mas, para isso, terá que negociar com o Ministério Público Federal (MPF).
A Secretaria de Administração Penitenciária informou que até as 16h de ontem nenhum familiar registrou pedido de visita ao empresário no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, na Zona Oeste do Rio. O processo leva pelo menos 15 dias da entrada do pedido à concessão de autorização para visita. Eike é um dos nove alvos da Operação Eficiência, deflagrada na quinta-feira passada. Ele teve a prisão preventiva decretada pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Criminal da Justiça Federal do Rio. A Operação investiga um esquema que teria lavado ao menos US$ 100 milhões em propinas para o grupo político do ex-governador Sérgio Cabral, preso em Bangu 8. O empresário é acusado de pagar propina de US$ 16,5 milhões ao ex-governador do Rio.
Em depoimento prestado em maio do ano passado a dois procuradores da República que integram a força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba, Eike disse que era preciso ficar alerta com as concessões de empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O depoimento espontâneo de Eike o livrou de ser preso na 34ª fase da Lava-Jato (Operação Arquivo X), deflagrada em setembro de 2016, que levou para a cadeia o ex-ministro Guido Mantega, solto no dia seguinte pelo juiz federal Sérgio Moro, de Curitiba. No depoimento, o empresário afirmou que estava disposto a colaborar com as investigações.
DEPOIMENTO Agora, ele é candidato a delator na Lava-Jato. Eike procurou a Lava-Jato há oito meses para falar sobre seus depósitos na conta secreta do marqueteiro do PT João Santana (preso meses antes, acusado de receber propinas da Odebrecht). O empresário alertou os procuradores sobre as concessões de empréstimos e os bens oferecidos como lastro nas transações financeiras. “Você bota o que quiser (como garantia), uma fazenda que não vale nada, o cara avalia por um trilhão de dólares, é facil.” Eike falou sobre os contratos de construção das plataformas P-67 e P-70, vencidos pelo Consórcio Integra Offshore (formado pela Mendes Júnior e OSX Construção Naval) – negócios de US$ 922 milhões, assinado em 2012.
O cerco contra Eike se fechou quando seu nome apareceu associado a uma conta de empresa offshore (a Golden Rock Foundation), que depositou valores na conta secreta do marqueteiro do PT. Eike decidiu então buscar a Lava-Jato. Foi ouvido pelos procuradores da República Roberson Pozzobon e Julio Motta Noronha, da força-tarefa, em Curitiba. O empresário contou que repassou R$ 5 milhões para uma conta indicada pela mulher e sócia do marqueteiro do PT, Mônica Moura, a pedido do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, mas negou tratar-se de propina.