Ainda sem consolidar uma base de apoio na Câmara Municipal, o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PHS), enviará aos vereadores nos próximos dias o projeto de reforma administrativa. A proposta, considerada a mais importante do início da gestão Kalil, prevê a remodelagem em empresas públicas como a BHTrans, Prodabel, Urbel e BeloTur, a redução de cargos comissionados e a extinção das nove regionais, que perdem o status de secretaria.
O corte de indicados para a máquina pública foi uma das principais bandeiras de campanha de Kalil, e a previsão da prefeitura é reduzir significativamente o número de cargos comissionados, incluindo demissões nas secretarias que serão mantidas. “A ideia é tornar a estrutura de governo mais enxuta e com menor quantidade de intermediários para a solução dos problemas que assolam a capital”, informou a PBH.
A relação de Kalil com os vereadores no primeiro mês de atividades da Câmara, no entanto, foi turbulenta e ficou claro que aprovar propostas no Legislativo não será tarefa fácil. O prefeito recebeu duras críticas sobre nomeações publicadas no Diário Oficial do Município (DOM) desde o início do ano.
“Ao contrário do que foi prometido nos palanques eleitorais, já temos dezenas de indicações políticas na prefeitura. São várias indicações de deputados e do vice-prefeito, que não têm nada de técnicas. Bastou um mês para que grupos políticos fossem arrastados para a PBH”, criticou o vereador Jair di Gregório (PP) em plenário.
Enquanto o cenário permanece instável na Câmara, com uma crescente disputa por espaço entre grupos de vereadores e duros ataques ao secretário de Governo e vice-prefeito Paulo Lamac (Rede), Kalil adota como estratégia priorizar medidas que não precisam passar pelos parlamentares.
Por meio de decretos e atos do Executivo, o prefeito anunciou a liberação da pista central das avenidas para os táxis, a ampliação de recursos para o Hospital Risoleta Neves e a parceria com o governo estadual para aumentar o número de bases móveis da Polícia Militar para patrulhar bairros da capital.
“O prefeito deixou claro que quanto menos projetos mandar para a Câmara melhor. Muitas coisas que ficaram paradas na cidade por muito tempo podem ser resolvidas com a atuação do Executivo. Infelizmente, na Câmara, a disputa por espaços e cargos vai na contramão da política que a prefeitura pretende adotar”, conta o vereador Gilson Reis (PCdoB), que na semana passada deixou o cargo de líder de governo na Câmara após desentendimentos com parlamentares.
Representante de um grupo de 15 vereadores que decidiu se posicionar com independência em relação ao governo, Dr. Nilton (PROS) afirmou ao prefeito durante reunião na semana passada que vários parlamentares estão insatisfeitos com a forma como as conversas entre Legislativo e Executivo estavam sendo conduzidas.
“Avisamos ao prefeito que não terá diálogo do nosso grupo com algumas pessoas que integram o governo. Apesar de o próprio Kalil nos garantir o apoio na eleição para a presidência da Câmara, o vice-prefeito atuou para o candidato adversário (vereador Henrique Braga). A confiança foi quebrada. Aconteceram também nomeações políticas que desagradaram aos vereadores. Não é que estamos brigando por cargos, apenas exigimos que sejam feitas nomeações técnicas”, afirmou Dr. Nilton.
ABAIXO-ASSINADO A relação entre Câmara e PBH foi marcada por conflitos até agora. Após os vereadores apresentarem um abaixo-assinado com 35 assinaturas (das 40 possíveis, uma vez que o vereador Wellington Magalhães está afastado) pedindo a revogação do aumento da passagem de ônibus enquanto estiver sendo feita a auditoria dos gastos do transporte público na capital, Kalil recusou reduzir o preço da passagem. O prefeito afirmou que não iria “rasgar contratos” e considerou “demagogia” dos parlamentares cobrar a redução.
No plenário, os vereadores criticaram a decisão do prefeito. O vereador Rafael Martins (PMDB) passou um vídeo feito durante a campanha em que Kalil afirmava que pagar R$ 3,70 (valor anterior ao reajuste) para andar em “ônibus sucateados era uma vergonha”. “Pagar R$ 4,05 é um absurdo. Quando o prefeito ficou indignado durante a campanha as pessoas acreditaram nisso. Quem fez demagogia durante a campanha, então, foi o senhor”, rebateu Martins.